Presidente da Caixa é acusado de assédio e pode deixar o cargo
Pedro Guimarães está sendo acusado de assediar sexualmente funcionárias do banco estatal; aliados do presidente Jair Bolsonaro afirmam que afastar o executivo do cargo é a melhor solução para o caso
O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, está sendo acusado de assédio sexual por funcionárias do banco estatal. O caso foi revelado pelo jornal “Metrópoles” na terça-feira, 28. O veículo reuniu relatos de cinco vítimas com gravações que revelam detalhes dos crimes. As acusações foram feitas de forma oficial no fim de 2021 e, dentre as vítimas ouvidas pelo portal, algumas já prestaram depoimento oficial e outras deverão ser convocadas em breve. O caso repercutiu nas redes sociais e tornou incerta a permanência de Guimarães no cargo.
No Planalto, aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmam que a melhor solução para o caso é o afastamento de Pedro Guimarães do comando da Caixa. Para estancar a crise política em ano de eleição, interlocutores defendem uma resposta urgente, e o presidente deve deixar o banco ainda nesta quarta-feira, 29. A expectativa é tentar colocar uma mulher no comando do banco. O nome de Daniella Marques Consentino, braço direito do ministro Paulo Guedes, é o mais cotado. Daniella integra a equipe econômica desde que Guedes assumiu o Ministério da Economia, e é, atualmente, secretária especial de Produtividade, Emprego e Competitividade.
Usando nomes fictícios, as cinco vítimas ouvidas deram detalhes de como eram os assédios cometidos por Guimarães no ambiente de trabalho. As mulheres relataram abordagens inadequadas, convites incompatíveis para a relação entre o presidente e as funcionárias e toques íntimos não consentidos. “É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço. Já aconteceu comigo e com várias colegas. e trata as mulheres que estão perto como se fossem dele. Ele já tentou várias vezes avançar o sinal comigo. É uma pessoa que não sabe escutar não”, afirmou uma das funcionárias, que disse ter medo dele.
Outra vítima disse ter sido convidada por Guimarães para ir a uma sauna. “Se eu tivesse respondido que gosto, ele daria prosseguimento à conversa. De que forma eu falo não? Então eu tenho que falar que não gosto. É humilhante. Ele constrange”, relatou. Também foi dado um relato de toques inapropriados em outra vítima. “Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou minha bunda. Literalmente isso”, disse uma mulher, que também disse ter passado por constrangimentos em outras interações com Guimarães. Diversos relatos estão relacionados às viagens do presidente do banco durante o programa Caixa Mais Brasil, criado por ele em 2019 com o objetivo de descentralizar a gestão. Ao todo, desde 2019, foram mais de 140 viagens à diversas cidades do país.
Mesmo diante das acusações, o presidente da Caixa discursou nesta quarta em um evento interno do banco estatal. Em sua fala, Guimarães citou sua esposa e seus filhos e disse que tem a vida pautada pela ética. “Eu quero agradecer a presença de todos vocês, da minha esposa. Acho que, de uma maneira muito clara, são quase 20 anos juntos, 2 filhos. Uma vida inteira pautada pela ética”, afirmou o presidente, que continuou, exaltando os resultados da empresa: “Hoje a gente é um exemplo. Tenho muito orgulho de todos vocês e da maneira que eu sempre me pautei em toda a minha vida”.
Considerado um especialista em privatizações, Guimarães foi indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e assumiu o comando do banco estatal em janeiro de 2019, no começo do governo de Jair Bolsonaro. Em dezembro, Guimarães foi pivô de uma polêmica ao ser filmado ordenando que funcionários da Caixa fizessem flexões durante uma cerimônia. O objetivo seria motivar os empregados. Na época, após a repercussão do caso, Guimarães foi processado por constranger os subordinados de maneira indevida.
A Jovem Pan entrou em contato com a Caixa, mas não obteve resposta até o momento. Em nota enviada ao Metrópoles, a Caixa Econômica Federal disse não ter conhecimento sobre as denúncias e afirmou possuir um canal para apurar irregularidades cometidas por funcionários. “A Caixa não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo […] A Caixa possui, ainda, canal de denúncias, por meio do qual são apuradas quaisquer supostas irregularidades atribuídas à conduta de qualquer empregado, independente da função hierárquica, que garante o anonimato, o sigilo e o correto processamento das denúncias”, diz a nota da empresa. O banco também citou a existência da cartilha “Promovendo um Ambiente de Trabalho Saudável”, que tem como objetivo “contribuir para a prevenção do assédio de forma ampla, com conteúdo informativo sobre esse tipo de prática, auxiliando na conscientização, reflexão, prevenção e promoção de um ambiente de trabalho saudável”.
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