Supervalorização de carros usados faz seguro subir até 20%

Encarecimento também reflete volta dos carros às ruas e aumento de ocorrências em meio à normalização das atividades; seguradores apontam para estabilização dos preços

  • Por Gabriel Bosa
  • 30/01/2022 07h10
ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO Filas de carros e motos no trânsito de São Paulo Filas de carros e motos no trânsito de São Paulo

O preço dos seguros de carro no Brasil subiu nos últimos meses a reboque da supervalorização dos modelos usados e com a retomada da circulação de veículos. Em alguns casos, o reajuste da franquia foi de até 20%. O valor elevado chamou a atenção dos consumidores, sobretudo quando comparado à inflação oficial de 10,06% no acumulado de 2021. As seguradoras reconhecem que a variação gera um desconforto, principalmente após o movimento de queda dos preços registrado durante a pandemia do novo coronavírus. Para representantes do setor, os preços não devem continuar subindo nos próximos meses para não criar uma onda de afastamento dos consumidores.

O cálculo das seguradoras está ligado ao preço dos carros no mercado doméstico. Com a disparada de 34% dos modelos usados em 2021, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que servem como referência para o setor, as empresas se viram obrigadas a repassar parte deste valor aos consumidores. “A valorização dos veículos fez com que as indenizações que estavam sendo pagas fossem maiores que os valores contratados”, afirma Pedro Pimenta, diretor de automóveis da Mapfre. A mudança fez com que a seguradora promovesse um reajuste médio de 15% nas novas apólices para 2022. “Além do preço dos carros, a pandemia fez com que muitas oficinas fechassem, o que dificulta a busca por reparos e impacta no aumento da mão de obra”, diz.

Na Creditas a situação foi semelhante. A companhia aumentou os contratos em 18% diante das mudanças no mercado doméstico. Marcelo Blay, vice-presidente de seguros da Creditas, chama a atenção para o corte dos preços dos seguros promovido pelas empresas durante 2020 e 2021 devido à diminuição de carros nas ruas, e, consequentemente, a queda de acidentes. “Como estavam ocorrendo menos sinistros, as empresas podiam diminuir os valores, até para não perder mercado”, explica. A retomada das atividades, principalmente a partir do segundo semestre de 2021 trouxe, em parte, a antiga realidade de volta, o que justifica a subida dos preços para compensar o aumento das ocorrências.

Segundo os representantes do mercado, as apólices devem se manter neste patamar ao longo dos próximos meses e sofrer apenas os reajustes da inflação. Apesar de as empresas não terem registrado quedas significantes de clientes, as estimativas apontam para uma fuga de consumidores caso o preço se torne mais alto. “As pessoas estão sofrendo bastante com a alta da inflação e a perda de poder aquisitivo. Se subir mais, a probabilidade é de se vender menos seguros”, afirma Blay. O porém, apontam os especialistas, é a manutenção da supervalorização dos carros usados. Nesta situação, o risco é do envelhecimento da frota doméstica, o que tornaria os serviços menos atraentes. “Se não oxigenar o mercado de carros novos, as pessoas podem achar que não é mais interessante pagar um seguro para um carro mais velho, já que o valor pode ficar muito elevado”, pontua Pimenta.

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