Venda de vinhos brasileiros cresce 75% em dois anos de pandemia da Covid-19

De janeiro a novembro de 2021, foram comercializados no mercado interno 25,2 milhões de litros de vinho fino – resultado histórico para o período; além do consumo em casa, neste ano as vendas aumentaram também em restaurantes, bares e hotéis

  • Por Victoria Bechara
  • 30/12/2021 08h52 - Atualizado em 30/12/2021 08h54
Alessandra Kianek/Arquivo Pessoal - 6.fev.2019 Vinhedo no Rio Grande do Sul Vinhedo na Serra Gaúcha (RS); de janeiro a novembro de 2021, foram comercializados no mercado interno 25,2 milhões de litros de vinho fino, aumento de 11% sobre igual período de 2020

Em meio à pandemia da Covid-19 e à crise econômica, a comercialização de vinhos finos brasileiros cresceu 75% entre 2019 e 2021 – apesar do período difícil em que a população foi obrigada a ficar em casa e a deixar as confraternizações de lado. De janeiro a novembro de 2021, foram comercializados no mercado interno 25,2 milhões de litros de vinho fino (aquele elaborado com uvas viníferas, como cabernet sauvignon e merlot), o que representa aumento de 11% sobre os 22,7 milhões do mesmo período do ano anterior. Já em 2019, último ano antes do surgimento do novo coronavírus, as vendas haviam sido de 14,4 milhões de litros nos primeiros 11 meses do ano – resultado bem inferior ao da comercialização de 2021. Os dados são da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e se referem aos vinhos finos elaborados no Rio Grande do Sul, responsável por 90% da produção nacional.

Nunca antes na história da vitivinicultura brasileira se vendeu tanto vinho para o mercado interno, o que anima o setor, que, encontrou na pandemia, uma oportunidade de ser conhecido, degustado e aprovado pelos brasileiros. “Estamos colhendo o que plantamos há muitas safras. Não é por acaso que o vinho brasileiro vive este reconhecimento. Muito investimento foi feito, o que proporcionou uma grande transformação na indústria nos últimos dez anos”, afirma Deunir Argenta, presidente da Uvibra. Segundo ele, o crescimento da venda de vinhos finos foi fora do comum. “O brasileiro está consumindo mais, e isso é um fator positivo, pois a população não tinha esse hábito como acontece em outros países.”

A safra de uva colhida no início de 2020 no Rio Grande do Sul foi considerada a melhor de todos os tempos. Isso graças à estiagem que atingiu em cheio os vinhedos por lá durante o verão. O clima favoreceu a maturação das uvas, o que elevou a concentração de açúcar na fruta, permitindo a elaboração de bebidas com qualidade superior. A safra, porém, apresentou queda na produção, em média, de 20%, devido a fortes chuvas que caíram, meses antes da colheita, em algumas regiões e afetaram a floração das plantas. A quebra parcial, porém, foi revertida em qualidade.

Já para Alexandre Miolo, diretor comercial da vinícola gaúcha Miolo, o aumento das vendas se manteve em 2021 por causa da retomada da economia. “O ano de 2020 foi quando todo mundo ficou em casa e consumiu bastante, tanto alimentos quanto bebidas. O vinho é uma bebida muito familiar, então ele conseguiu fazer parte e se integrar aos almoços e jantares das pessoas de casa nesse momento tão crítico”, afirma. “Já em 2021 isso continuou, mas também voltou a ter o consumo em outros canais de venda, como restaurantes, bares e hotéis. Por isso, a venda de vinho continua de forma muito consistente”, explica. 

Expectativas para 2022

As expectativas para o próximo ano são boas, mas o cenário ainda é incerto. “Vários fatores nos deixam com um ponto de interrogação. Primeiro, estamos vendo uma instabilidade econômica, não somente no Brasil, mas no mundo”, analisa Argenta. Ele acrescenta que o preço da uva também aumentou, o que pode impactar no valor final dos vinhos finos para o consumidor. “Nós vamos ter uma questão de custo de produção maior. Isso deve ser passado para o consumidor; eu não saberia quanto, mas com certeza não menos de 20%”, explica. Além disso, a falta de vasilhames se tornou um problema desde o ano passado e pode afetar a produção em 2022. Segundo Argenta, as fábricas brasileiras não deram conta e as empresas tiveram de importar garrafas do exterior. “Várias indústrias tiveram que se socorrer na Argentina e na China, e muitas tiveram que importar garrafas da Espanha. E isso não terá solução para o ano que vem, porque não tem como as fábricas brasileiras de garrafas de vidro aumentarem a produção”, afirma o presidente da Uvibra. 

Apesar das dificuldades para o próximo ano, Alexandre Miolo vê o atual mercado de vinhos brasileiros com otimismo. “O mais importante que vimos nesse período foi o consumidor conhecendo efetivamente a qualidade superior dos vinhos brasileiros. O ano de 2020 foi fantástico em função dessa descoberta da qualidade que o produto brasileiro está entregando para o consumidor. O aumento do consumo ocorreu por vários fatores, mas um deles foi justamente a descoberta da qualidade e da diversidade do vinho nacional”, completa.

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