ELS controlará “zona de segurança”, diz embaixador turco na Espanha
Madri, 1 ago (EFE).- A Turquia, apoiada pelos Estados Unidos, criará uma zona de segurança no noroeste da Síria, que irá da fronteira turca até Aleppo e será controlada pelo Exército Livre da Síria (ELS), disse o embaixador da Turquia na Espanha, Omer Onhon.
“Os Estados Unidos eram reticentes sobre esta possibilidade. Durante dois anos, mantivemos conversas e agora eles vêem os benefícios, mas ainda há pontos a esclarecer”, disse Onhon em entrevista à Agência Efe.
As dúvidas do governo americano são pertinentes. De acordo com o embaixador, a capacidade dos rebeldes moderados do ELS para controlar a região será limitada, “dado que as forças internacionais apoiarão apenas as ações militares aéreas”, sem forças terrestres, e com meios para reagir perante um eventual ataque à zona de segurança.
Para convencer os Estados Unidos a apoiarem a ideia, o governo turco argumentou que já acolhe quase 2 milhões de refugiados e precisa proteger sua fronteira dos ataques das milícias que operam na Síria. Segundo o diplomata, o custo de abrigar tantos refugiados, entre sírios e iraquianos, é de cerca de US$ 6 bilhões.
Devolver muitos sírios a seu território e conseguir que a população civil que foge dos combates possa se refugiar em seu próprio país são argumentos adicionais a favor da criação da zona segura.
O diplomata turco afirmou que rejeita a hipótese de dividir Síria em quatro partes: uma para o regime do presidente Bashar al Assad, outra para as facções fundamentalistas sunitas que o combatem, uma terceira para os curdos e outra da segurança.
“Somos contrários a esta ideia, que afetaria negativamente à região. É preciso conservar a integridade do território sírio, mas são os sírios que devem decidir como tramitar seu país”, ressaltou.
Para o embaixador, que durante seis anos foi o maior representante da Turquia em Damasco, há muitos sírios capazes de encontrar uma solução ao conflito.
“Bashar al Assad e os fundamentalistas são os dois extremos”, argumentou.
Ele admitiu que existam fatores externos que “intervêm negativamente na busca dessa solução”, mas nega que a Turquia seja um deles, em resposta à acusação do regime sírio de que Ancara apoia às “organizações terroristas” que operam na Síria.
“Não concordo”, disse ele, lembrando que na Síria “há milícias do Iraque, Paquistão e Afeganistão que lutam com o regime de Bashar al Assad”.
Segundo ele, a Turquia considera que a solução ao conflito sírio é política.
“Temos que criar um ambiente propício para que os sírios sentem e conversem”, afirmou.
Sobre a denúncia que a fronteira da Turquia é a porta de entrada para vários voluntários, muitos deles ocidentais que viajam à Síria para se juntar aos jihadistas, o embaixador revelou que seu país deteve mais de 16 mil pessoas. Para ele, depois dos atentados de janeiro contra a revista francesa “Charlie Hebdo”, a Europa deveria aumentar a vigilância no tocante ao extremismo que surge dentro de suas fronteiras.
Já sobre a ruptura das conversas com a guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o bombardeio de suas bases, o embaixador afirmou que Ancara tentou, sem sucesso, resolver o problema.
“Não podemos dialogar com organizações terroristas como o PKK. Enquanto enfrentarem o Estado turco eles serão nossos alvos”, enfatizou Onhon.
O embaixador ressaltou, no entanto, que é importante distinguir o PKK dos curdos.
“Os curdos são nossa gente. Alguns curdos estão lutando contra o Estado Islâmico, mas o PKK luta contra o EI para o seu próprio benefício e isto não os torna inocente, mas sim terrorista”, concluiu. EFE
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