Empresário assume Defesa da Colômbia para adaptar militares aos tempos de paz

  • Por Agencia EFE
  • 22/06/2015 22h44

Cynthia de Benito.

Bogotá, 22 jun (EFE).- As forças armadas da Colômbia, que enfrentam uma escalada de confronto com a guerrilha, têm a partir desta segunda-feira como novo ministro da Defesa o empresário Luis Carlos Villegas, um ex-negociador de paz com fama de pragmático que procura mudar o passo da tropa após mais de 50 anos de conflito armado.

A tarefa foi definida como “cruzada” pelo próprio presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que assumiu essa mesma pasta em 2006, durante os anos de perseguição a sangue e fogo das guerrilhas vividos no governo de Álvaro Uribe (2002-2010).

Sem deixar de lembrar sua experiência, na qual tinha a missão de “começar a golpear a cúpula, os chamados alvos de alto valor que até esse momento não tinham sido tocados”, o presidente deixou claro que agora a tarefa de Defesa mais importante da Colômbia em relação ao conflito armado deve mudar.

“É preciso fazer uma espécie de trabalho paralelo: projetar as forças armadas para o momento em que alcancemos a paz e ao mesmo tempo não nos descuidar, não baixar a guarda para poder conseguir essa paz”, comentou.

Agora a meta é proteger e acelerar as negociações de paz que o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) mantêm em Havana há 31 meses e que atualmente atravessam uma nova escalada no confronto.

O ponto de ruptura aconteceu em 22 de maio, quando a guerrilha suspendeu seu cessar-fogo unilateral e indefinido, mantido durante cinco meses, pela morte de 27 rebeldes em um bombardeio da força aérea no sudoeste do país.

Desde então são frequentes os ataques à infraestrutura elétrica e petrolífera do país, assim como os enfrentamentos com a polícia, que deixaram pelo menos oito militares e cinco policiais mortos neste período.

Além disso, quatro militares morreram e seis ficaram feridos hoje quando um helicóptero Black Hawk do exército aterrissou em um campo que tinha sido minado pelas Farc em uma zona rural do município de Teorama, no departamento do Norte de Santander (nordeste).

“Segundo as primeiras informações os explosivos foram colocados e ativados por terroristas da quadrilha Resistência de El Catatumbo das Farc, em um lugar onde as tropas realizavam as manobras ofensivas para apoiar as unidades em terra”, afirmou o exército em comunicado.

Nessa área, que faz parte da região de El Catatumbo, além das Farc, operam o Exército de Libertação Nacional (ELN) e um reduto do Exército Popular de Libertação (EPL).

Nesse sentido, a Fundação Paz e Reconciliação chegou a alertar que as Farc e o ELN, a segunda maior guerrilha do país, poderiam aliar-se para cometer atentados.

Esse é o palco que espera Villegas, a quem a Colômbia recebe com a certeza que suas abordagens marcarão distâncias com as de seu antecessor no cargo e novo embaixador em Washington, Juan Carlos Pinzón.

Pinzón, de 43 anos, foi partidário de uma política de linha dura contra as guerrilhas que lhe valeram a consideração de falcão do governo, um atitude que, segundo reconheceu hoje em entrevista antes de partir aos Estados Unidos, é “um estilo diferente” ao trazido por Villegas.

“Minha recomendação ao doutor Villegas é que faça o que corresponde a qualquer um que exerce esse cargo: cumprir e fazer cumprir estritamente as ordens dadas pelo presidente, independentemente se goste ou não”, declarou o ex-ministro em uma frase carregada de indiretas.

Sua passagem na pasta se encerra porque agora a Colômbia precisa de outra coisa, precisa de “pés de chumbo”, “paciência”, “caráter” e a “capacidade de perseverar que se requer em tempos difíceis”, segundo disse Santos, que declarou que dirigir as forças armadas neste momento “requer muita sutileza, muita capacidade”.

Villegas deverá encontrar o modo de tornar possível a transição para um pós-conflito no qual talvez vários dos militares sejam julgados junto com guerrilheiros por crimes cometidos durante o conflito armado.

Também enfrenta o desafio de redesenhar forças armadas acusadas de estar superdimensionadas, pois muitos consideram que seus 400.000 membros (entre militares, policiais e civis) serão excessivos se finalmente se desmobilizarem os quase 12.000 guerrilheiros das Farc e do ELN que pululam pelas selvas da Colômbia. EFE

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