Estado Islâmico abre uma janela para seu mundo com revista em inglês
Susana Samhan.
Beirute, 3 jul (EFE).- O Estado Islâmico (EI) quer mudar a imagem de que é um grupo de jihadistas barbudos empenhados em criar um califado com sua nova revista em inglês, onde mostra uma sofisticada burocracia, que conta inclusive com um escritório de proteção ao consumidor.
Há um mês, os extremistas publicam na internet uma revista na qual divulgam sua ideologia e falam de sua estratégia militar e “obra social” nos territórios que controlam.
O título da publicação, editada por seu centro de informação, Al-Hayat, é toda uma declaração de intenções: “Islamic State Report, an insight into the Islamic State” (“Relatório do Estado Islâmico, um olhar no interior do Estado Islâmico”).
Seu primeiro exemplar é inaugurado com uma reportagem sobre uma revista em Al Raqqah, reduto do EI na Síria, que “examina como o Estado Islâmico educa a sociedade preparando os novos imames e pregadores”.
Em entrevista, o organizador desta atividade, o xeque Abul Haura al Yaziri, explica que publicam um texto baseado nas doutrinas de Mohammed ibn Abdel Wahhab, fundador no século XVIII do “wahhabismo”, doutrina radical do islã.
Da educação passam aos serviços prestados aos cidadãos com um encontro com o chefe do denominado Escritório de Proteção ao Consumidor em Al Raqqah, Abu Saleh al Ansari, que detalha a forma como o EI “protege” os compradores com inspeções a lojas, mercados e matadouros.
Al Ansari antecipa que vai realizar um curso para ensinar o método islâmico adequado (“halal”) para sacrificar o gado.
A revista, que conta com entre cinco e oito páginas, contém textos com uma redação cuidada, que intercala versículos do Corão com fotografias de qualidade.
Em outro de seus números, a revista aborda em uma “reportagem” a importância que os agricultores de Al Raqqah doem parte da colheita em conceito de “zakat” (esmola), um dos cinco pilares do islã, que, certamente, colhe e reparte o EI, de acordo com a “sharia”, a lei islâmica.
A revista também se adentra no trabalho da polícia dos extremistas, integrada por “seus melhores homens”, com um artigo que exibe “a face amável” deste corpo de segurança.
Em um tom épico próprio de um filme de super-heróis o texto começa: “São homens que assumiram a responsabilidade de proteger o povo. Fazem frente a muitas dificuldades, suportam muitas cargas e se acostumaram a passar noites sem dormir, tudo pelo bem da segurança na província” de Al Raqqah.
As forças policiais são parte dos serviços de segurança do EI, que dispõem de uma divisão administrativa, que administra as prisões e um escritório de queixas, e uma divisão de patrulhas.
Os “agentes” são coordenados com o corpo de inteligência e a polícia da moral dos jihadistas.
Com relação aos últimos eventos no campo de batalha, os últimos dois números da revista analisam os avanços no Iraque.
Em um texto sobre a tomada da cidade iraquiana de Mossul, a revista oferece os pormenores da “estratégia de distração” utilizada perante o exército iraquiano, já que, antes de invadir essa cidade, o EI atacou Samarra para “entreter” os soldados.
Os radicais dizem que decidiram abandonar seus redutos no deserto da província ocidental iraquiana de Al-Anbar porque “entenderam que ter uma base única de poder em uma região determinada se voltaria contra deles e daria a seus inimigos um ponto onde focar seus ataques”.
Por isso, viram a necessidade de se expandir pelo território e lançar operações em grande escala em diferentes pontos, indica o artigo.
Em seu último número, a publicação fala já da ideia de califado, declarado no domingo passado, com a eliminação das fronteiras entre Síria e Iraque, que acompanha com fotografias de suas escavadeiras destruindo aterros que faziam o limite entre as províncias síria de Al Hasaka e a iraquiana de Ninawa.
A revista rememora o acordo de Sykes-Picot (1916) entre França e o Reino Unido pelo qual, “a partir dos cruzamentos”, foram repartidas as áreas de influência no Oriente Médio e foram estabelecidas as fronteiras atuais, frente ao que o EI anuncia que haverá um califado que concorde com “a metodologia do profeta Maomé”.
Falta ver como evolui este califado, sobre o qual provavelmente a revista do EI oferecerá as chaves de sua base ideológica e organizativa nos próximos números. EFE
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