Exportadores sugerem comércio em moeda local para combater impacto cambial

  • Por Agencia EFE
  • 25/02/2014 17h23

Pablo Giuliano.

São Paulo, 25 fev (EFE).- O comércio entre os países do Mercosul em moedas nacionais, sem o uso do dólar, é a alternativa sugerida por uma parte do setor privado no Brasil para reduzir o impacto na macroeconomia regional da desvalorização cambial argentina e a situação cambial na Venezuela.

“Nossa proposta é estimular o comércio em moedas locais, mediante os bancos centrais”, disse à agência Efe Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina.

Segundo Alzueta, “o exportador brasileiro vende em reais e o comprador argentino pagassem pesos. Automaticamente aumentará o comércio e diminuirá a demanda por dólares”.

É a mesma posição de José Francisco Marcondes, presidente da Federação de Câmaras de Comércio Brasil-Venezuela, que afirmou ser “absolutamente positivo e adequado que se possa fazer este tipo de comércio que nos desvincula do dólar, moeda que não controlamos a emissão nem a inflação”.

A recomendação dos dirigentes das câmaras exportadoras para o setor do comércio exterior aconteceu após as previsões negativas para os exportadores brasileiros que calculam, segundo o diário Valor Econômico de São Paulo, reduzirão as vendas em US$ 4 bilhões para Argentina e Venezuela.

Alzueta assinalou que o comércio em moedas locais representa há pelo menos cinco anos menos de 5% das trocas entre Brasil e Argentina, principais parceiros do Mercosul, que também é integrado por Uruguai, Paraguai e Venezuela.

Para o empresário, o uso de pesos e reais no comércio bilateral, com os bancos centrais usados como agentes de clearing, fará o governo argentino voltar atrás nas restrições alfandegárias aos produtos brasileiros que, para ele, beneficiam as importações chinesas.

As previsões da queda das exportações do Brasil para a Argentina estão baseadas na retração do comércio, um mercado interno mais recessivo, lembrou Alzueta, que previu que o setor automotivo brasileiro será o mais afetado pela desvalorização de 22% do peso.

A desvalorização não afeta afetou apenas o peso, segundo o presidente da Câmara bilateral, que é sediada em São Paulo.

“No Brasil em dois anos a cotação do real subiu de US$ 1,50 para US$ 2,40. Nossas moedas se deterioraram porque há inflação, os Estados Unidos não precisam emitir mais moeda e agora atrai capitais”, sustentou.

O Bradesco calculou que se perderão US$ 3,9 bilhões das vendas do Brasil ao seu terceiro parceiro comercial, logo atrás de China e Estados Unidos.

O caso da Venezuela, país que atravessa uma crise política, teve sua primeira repercussão em janeiro.

Segundo o dirigente empresarial Marcondes, em janeiro houve uma queda de 14,9% das exportações brasileiras à Venezuela, em comparação com o primeiro mês de 2013, mas o dado mais importante da estatística é que a exportação venezuelana para o Brasil cresceu 142,5%.

“Isto assinala uma tendência de redução do superávit brasileiro que servirá de empurrão para o posterior crescimento de nossas exportações”, avaliou Marcondes à Agência Efe, ao contar que 2013 foi o quinto melhor ano da história do comércio Brasil-Venezuela para as empresas brasileiras.

Marcondes defendeu a expansão do Mercosul, que permitiu a adesão da Venezuela ano passado, para vizinhos como Bolívia, Suriname e Equador, por se tratar da “única possibilidade do continente sul-americano ser incluído na globalização mundial e um caminho para a inserção do Brasil nos negócios mundiais”.

Sobre a visita da presidente Dilma Rousseff à Bruxelas para discutir um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europa, tanto Marcondes como Alzueta avaliaram os benefícios de um acordo.

No caso de Marcondes, “um acordo com a União Europa significa que as partes oferecerão condições adequadas as nossas necessidades”.

Alzueta, por sua vez, considerou que os governos dos países- membros do Mercosul devem apostar no livre-comércio com a UE. “Devemos ter cuidado com a questão agrícola, uma área forte para nós, mas sem temores. Ou fazemos este acordo ou seremos periféricos para sempre”, lembrou. EFE

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