Grupo de cientistas portugueses encara desafio de criar vida em Marte
Lucía Rodríguez.
Lisboa, 8 jan (EFE).- Criar vida no planeta Marte é o desafio que uma equipe formada por jovens cientistas, a maioria deles portugueses, vai encarar nos próximos anos, quando será responsável por enviar sementes ao inóspito planeta vermelho.
A equipe Seed, cuja base de operações está na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, ganhou um concurso de projetos para experiências em Marte organizado pela Mars One, fundação privada que pretende construir uma colônia neste planeta e ocupá-la a partir de 2025.
Eleita entre outros 35 projetos através de uma votação pela internet, essa pesquisa pretende levar sementes a Marte em 2018 a bordo da primeira grande missão da Mars One.
Os integrantes da Seed se antecipariam, deste modo, pelo menos dois anos ao projeto da Nasa com o mesmo propósito de levar vegetais a Marte, o Mars Plant Experiment.
A maioria deles estuda Biotecnologia Molecular ou Engenharia Biomédica no Porto, embora também participem do projeto um espanhol do Centro de Pesquisas Biológicas e um holandês.
Miguel Ferreira, um destes jovens engenheiros portugueses, afirmou à Agência Efe que as plantas podem ser imprescindíveis para os “sistemas de suporte vital” se quisermos pensar em levar humanos ao planeta vermelho.
Nem todos os projetos finalistas do concurso propunham levar seres vivos a Marte, explicou Ferreira.
Entre seus concorrentes, americanos, alemães, indianos e ingleses, havia protótipos de estufas, sistemas de fotossínteses artificial e sistemas para obter água a partir da urina.
A proposta da equipe portuguesa consiste em conseguir que sejam cultivadas plantas para explorar “a única solução para a ausência de alimentos frescos” em outro planeta devido à duração da viagem, uns 10 meses, período no qual muitos alimentos perdem a validade.
Os vegetais em Marte também ajudariam para a sobrevivência de humanos graças a sua produção de oxigênio.
“A dificuldade será que o nível de gravidade em Marte é mais baixo que na Terra”, destacou Ferreira.
A planta utilizada no experimento será a “Arabidopsis thaliana”, da mesma família que a mostarda, já utilizada em experiências da Estação Espacial Internacional graças a seu rápido crescimento e a suas sementes de pequeno tamanho, embora pensem em incluir, além disso, outros espécies como a rúcula.
Quando a nave chegar a Marte, a equipe Seed ativará por controle remoto seu sistema para proporcionar calor e água às sementes congeladas que viajarão nela, controlando com fotografias todo o seu processo de germinação e crescimento, segundo Ferreira.
Está previsto que o desenvolvimento e construção do protótipo do sistema termine em dois anos, e os participantes do Seed calculam que custará mais de 100 mil euros, embora o orçamento possa se multiplicar até chegar a 500 mil euros.
O sistema contará com um contêiner de lixo externo, isolante, e outro interno, onde estarão os cartuchos com sementes.
O projeto Mars One pretende estabelecer uma colônia humana em Marte e não recebe dinheiro de instituições oficiais, sendo financiado através de patrocinios e doações. A intenção é transmitir a exploração dos primeiros humanos no planeta de modo similar a um “reality show”.
O projeto Seed integrará a primeira missão com carga do Mars One, prevista para 2018, com a qual serão realizados experiências para buscar água sob o solo marciano e serão testados painéis solares como método para obter energia em Marte.
Também será enviada uma câmera com capacidade para transmitir vídeos à Terra em “streaming” (pela internet em tempo real) durante um ano.
A Seed terá o apoio de várias empresas da indústria biológica e aeroespacial que trabalham no cultivo de plantas em ambientes controlados, sistemas de isolamento ou testes de gravidade alterada, entre outras especialidades. EFE
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