Latinos e afro-americanos, as minorias que enchem as prisões dos EUA

  • Por Agencia EFE
  • 13/12/2014 10h29
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Beatriz Pascual Macías.

Washington, 13 dez (EFE).- Com o debate racial em pauta nos Estados Unidos pela demissão do policial que matou o jovem afrodescendente Michael Brown, diferentes estudos mostram que os latinos e os negros têm mais chances de ser presos ou acusados de um crime do que os brancos.

O caso de Michael Brown, que voltou à tona com protestos e distúrbios em Ferguson (Missouri), suscita questões como se o sistema judiciário americano trata igualmente os diferentes grupos étnicos, se os policiais são castigados quando disparam contra civis e se persistem as tensões raciais.

Segundo dados do Escritório de Estatísticas do Departamento de Justiça (BJS), 59% das pessoas em prisões estaduais ou federais pertencem a minorias étnicas, com 37% de negros e 22% de hispânicos.

O estudo mostra que, em dezembro de 2013, 3% dos homens negros do país estavam na prisão, contra 1% dos hispânicos e 0,5% de homens brancos. Já com relação às mulheres, em 2013 foram presas o dobro de negras do que brancas.

Sobre estas desigualdades, um relatório da organização “The Sentencing Project” mostra que os negros têm mais possibilidades de sofrer penas mais longas, enquanto os latinos são mais propensos a estar em desvantagem quando a Justiça tem que decidir se os encarcera ou não.

Esta organização, que advoga por um sistema judiciário justo, ressalta que ambas as minorias étnicas sofrem nos Estados Unidos penas mais duras do que a população branca, especialmente em delitos contra a propriedade e acusações de tráfico de drogas.

Por isso, são impostas maiores penas e duas em cada três pessoas na prisão por este delito são negras.

Concretamente, quase metade (47,9%) dos condenados por delitos de drogas em tribunais federais são hispânicos, enquanto os negros compõem 26,5% dos processados e os brancos 22,4%, segundo a Comissão de Sentenças dos Estados Unidos, uma agência independente do ramo judicial.

A pressão da polícia militar e a pobreza, a segregação e o desemprego que afetam em maior medida estas minorias dão pistas sobre estes números, explicou à Agência Efe Vanesa Cárdenas, vice-presidente do “Projeto 2050”, que estuda as mudanças demográficas e raciais no país.

Este especialista fez insistência no crescente encarceramento de hispânicos, fenômeno que ligou ao crescimento demográfico que experimentam os 52 milhões que atualmente vivem no país e que em 2050 espera-se que cheguem a 132 milhões, passando a representar 30,2% da população, segundo projeções do censo de 2010.

“Os latinos estão seguindo as mesmas tendências que os negros. Pelos mesmos crimes, são castigados a um nível mais alto que os brancos”, afirmou Cárdenas.

Este especialista, autora do estudo “Nação para todos: Estados Unidos que funcionem para todos”, vê “um mesmo padrão” no tratamento que a polícia e o sistema judiciário dá aos negros e hispânicos e, por isso, alerta que “o próximo Michael Brown pode ser latino”.

Cárdenas adverte que enquanto as minorias começam a se transformar em maiorias, as desigualdades econômicas seguem crescendo, preparando um “coquetel molotov” de marginalização e desconfiança.

Latinos ou negros, a incógnita continua sendo como o país da “liberdade e justiça para todos” reinventará sua cultura de “crisol de raças” para enfrentar os desafios demográficos futuros. EFE

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