Mulheres podem ter risco maior de infecção de zika, diz estudo

  • Por Estadão Conteúdo
  • 16/11/2016 16h21 - Atualizado em 11/05/2017 16h19
Cynthia Goldsmith / CDC Imagem de microscópio eletrônico do vírus da zika (pontos pretos) em tecido humano

Os vírus de RNA, como o zika, enfraquecem o sistema imunológico vaginal, retardando a resposta das defesas do corpo à infecção e dificultando a detecção do vírus na vagina – o que pode aumentar o risco de infecção do feto durante a gravidez. A conclusão é de um estudo publicado nesta quarta-feira (16) na revista científica Journal of Experimental Medicine.

O novo estudo foi liderado por cientistas dos Institutos Gladstone, ligados à Universidade da Califórnia em São Francisco (Estados Unidos). De acordo com os autores do artigo, a descoberta sugere que as mulheres são mais suscetíveis à transmissão sexual de vírus de RNA e que elas têm mais dificuldade que os homens para eliminar a infecção do organismo

“Nossa pesquisa reforça os estudos epidemiológicos que mostram que as mulheres têm um risco maior de infecção por zika. Além disso, o amortecimento da resposta imune vaginal é especialmente preocupante, porque dá ao vírus mais tempo para se espalhar e chegar ao feto, se a mulher estiver grávida ou engravidar durante a infecção”, disso o autor principal da pesquisa, Shomyseh Sanjabi, dos Institutos Gladstone.

Na pesquisa, os cientistas infectaram camundongos de forma sistêmica – como acontece na infecção pela picada do mosquito Aedes aegypti – e também através da vagina.

Normalmente, células infectadas liberam as moléculas conhecidas como interferon, como uma primeira linha de defesa contra a infecção. O interferon inicia o combate ao vírus e – o que é mais importante – alerta as células vizinhas que o corpo está sendo atacado, desencadeando a reação de todo o sistema imunológico. 

Depois de três dias, os animais que foram infectados sistemicamente apresentaram uma forte resposta do interferon e começaram a eliminar o vírus do organismo. Enquanto isso, os animais infectados por via vaginal ainda tinham níveis extremamente altos do vírus na vagina e nenhum sinal de interferon.

“Ficamos muito surpresos com a ausência de resposta de interferon. Essa molécula é liberada como um primeiro passo da resposta imune e o fato de ela não ter sido detectada na vagina é muito alarmante. Sem interferon, o resto do sistema imune não pode ter sua ação desencadeada de forma eficiente, tornando extremamente difícil para o corpo lutar contra infecções virais”, disse outro dos autores do estudo, Shahzada Khan.

O sistema imunológico só começou a responder cerca de uma semana depois da infecção, quando o vírus já havia se espalhado até o tecido linfoide – um tipo de tecido conjuntivo presente em órgãos ligados ao sistema linfático.

Quando os cientistas aplicaram na vagina uma droga anti-inflamatória, os interferons foram liberados na vagina e os camundongos ficaram protegidos do vírus da zika. Os animais tratados com a droga e expostos à zika por via vaginal conseguiram eliminar completamente o vírus dois dias após a infecção.

Segundo os cientistas, drogas anti-inflamatórias semelhantes poderiam ser um caminho para proteger mulheres contra a zika transmitida sexualmente, mas é preciso realizar mais pesquisas para avaliar a segurança dessas drogas durante a gravidez.

Os pesquisadores validaram seus resultados com um outro vírus de RNA chamado vírus da coriomeningite linfocitária (CML), típico de roedores. Os resultados foram parecidos com os obtidos com o vírus da zika, sugerindo que a resposta imune enfraquecida não ocorre apenas com o zika, mas pode ter estendida a outros vírus de RNA, como o HIV.

Os vírus de RNA como os do ebola ou da hepatite C, armazenam seu código genético na forma de RNA, enquanto outros vírus, como o da herpes, ou da catapora, armazenam a informação genética em DNA.

“Há algo único acontecendo no trato reprodutivo feminino, que faz com que as mulheres sejam particularmente vulneráveis aos vírus de RNA. Nosso próximo objetivo é descobrir por que isso acontece – se é um mecanismo de defesa liberado pelos próprios patógenos, ou uma lacuna imunológica no tecido vaginal”, disse Sanjabi.

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