Após quatro meses de confrontos, líder paramilitar apresenta roteiro para alcançar solução política no Sudão

Dagalo disse na rede social X (antigo Twitter) que a guerra entre as FAR e o Exército é ‘um reflexo’ de uma crise que o país arrasta há décadas e que deve ser enfrentada em suas raízes

  • Por Jovem Pan
  • 27/08/2023 20h23
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Reprodução/AFP conflito no sudão combatentes das Forças de Apoio Rápido na traseira de um veículo técnico (picape montada com uma torre)

Após quatro meses de confronto, o líder do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), Mohamed Hamdan Dagalo, apresentou neste domingo, 27, um roteiro para alcançar uma “solução política integral” que ponha fim ao conflito no Sudão e estabeleça as bases para a criação de um novo Estado federativo onde prevaleça uma “paz sustentável”. Dagalo, conhecido pelo codinome Hemedti, disse na rede social X (antigo Twitter) que a guerra que começou em 15 de abril no Sudão entre as FAR e o Exército é “um reflexo” de uma crise que o país “arrasta há décadas e que deve ser enfrentada em suas raízes”. Para tanto, indicou que é necessário estabelecer um cessar-fogo de “longo prazo” que conduza a “uma solução política integral que aborde as causas profundas das guerras no Sudão” e “restabeleça direitos, uma transição democrática pacífica, uma paz sustentável e a implementação de uma justiça de transição”.

“A guerra de 15 de abril deveria ser aquela que acabaria com todas as guerras no Sudão”, disse Hemedti, acrescentando que a unidade no país tem sido historicamente difícil de alcançar devido à “multiplicidade” de grupos étnicos e tribos existentes. Por essa razão, propôs a criação de um Estado federativo em que as diferentes regiões possam “gerir os seus assuntos econômicos, políticos, sociais e culturais” e dotar de “poderes” as comunidades locais. Nesse sentido, pediu o “envolvimento da maior e mais ampla base política e social possível” para levar a cabo uma “transição democrática” no Sudão, mas excluiu os apoiadores do regime do antigo ditador Omar al Bashir, que foi deposto em uma onda de protestos em 2019. Hemedti excluiu também o Exército, uma vez que as FAR alegam que fazem parte da estrutura herdada de Al Bashir. Da mesma forma, colocou especial ênfase na “necessidade de construir um novo Exército” a partir dos “muitos exércitos existentes” com o objetivo de combinar a força militar e prevenir a proliferação de grupos armados.

Em 15 de abril, as FAR rebelaram-se contra o Exército devido a divergências precisamente sobre como realizar esta unificação militar, uma vez que ambos queriam liderar a nova instituição. No entanto, Hemedti observou em seu roteiro que o processo deve ser realizado tendo em conta “experiências regionais e internacionais em que foram construídos novos exércitos com estas especificações, padrões e bases”. Por último, ressaltou a necessidade de as “regiões marginalizadas”, especialmente o oeste do Sudão, gozarem de uma “representação justa”, uma vez que “sofreram muito e durante muito tempo o flagelo das guerras”, como é o caso de Darfur, cenário de uma conflito étnico que entre 2003 e 2008 custou mais de 300.000 vidas, segundo a ONU. Hemedti divulgou este roteiro em um momento em que as negociações para um cessar-fogo parecem ter parado e enquanto o Exército obtém vitórias importantes nesta guerra que já deixou entre mais de 1.000 e quase 4.000 civis mortos, segundo diferentes estimativas.

*Com informações da EFE

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