Ataques de Israel contra a Faixa de Gaza podem constituir crimes de guerra, diz ONU

O movimento islâmico palestino Hamas concordou em se encontrar com autoridades israelenses no Cairo na próxima semana para reforçar a trégua vigente

  • Por Jovem Pan
  • 27/05/2021 10h30 - Atualizado em 27/05/2021 17h20
EFE/EPA/MOHAMMED SABER Meninas palestinas brincam entre os escombros das casas de suas famílias destruídas na cidade de Beit Hanoun, norte da Faixa de Gaza Pelo menos 63 crianças palestinas foram mortas durante os bombardeios israelenses

Os recentes ataques com mísseis feitos por Israel contra a Faixa de Gaza podem constituir crimes de guerra. A afirmação foi feita nesta quinta-feira, 27, por Michelle Bachelet, Alta Comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos. Durante uma sessão especial para discutir a recente escalada de violência na região, a ex-presidente do Chile defendeu que as ofensivas “lançam dúvidas sobre a conformidade israelense com com os princípios de distinção e proporcionalidade do direito humanitário internacional”. Ela explicou que, enquanto Israel possui “o Domo de Ferro e forças militares profissionais para defendê-los, os palestinos não têm proteção contra ataques aéreos contra uma das áreas mais densamente povoadas do mundo”. “Não têm para onde fugir por causa do bloqueio terrestre, marítimo e aéreo que tem estado em vigor nos últimos 14 anos”, completou.

A Alta Comissária lembrou ainda que, além dos 242 palestinos mortos e mais de 74 mil deslocados, os ataques resultaram na destruição em larga escala de instalações civis, incluindo casas, escritórios de organizações humanitárias, centros médicos e meios de comunicação. “Apesar da afirmação de Israel de que muitos destes edifícios abrigavam grupos armados ou eram utilizados para fins militares, não vimos qualquer prova nesse sentido”, frisou Bachelet. Em referência ao movimento islâmico palestino Hamas, a ex-presidente reconheceu que “é também uma violação do direito internacional colocar meios militares em áreas civis densamente povoadas, ou atacar a partir delas”. Porém, indicou que “as ações de uma das partes não isentam a outra das suas obrigações”.

Na mesma reunião da Comissão da ONU para os Direitos Humanos, o relator sobre o território da Palestina, Michael Lynk, acrescentou que a população da Faixa de Gaza vive “em uma situação desesperada”, “insustentável e inviável”, que se assemelha a uma forma de “punição coletiva”. Ele denunciou também as expulsões de famílias palestinas em Jerusalém Oriental, um dos desencadeadores do recente conflito, como parte do plano de Israel para aumentar os assentamentos ilegais, a fim de estabelecer uma reivindicação ilegal de soberania, apesar dos repetidos apelos da entidade para pôr fim a esta prática. À luz da situação atual, Lynk reiterou seu pedido, emitido recentemente junto com outros funcionários de direitos humanos da ONU, de que os recentes incidentes em Gaza e na Cisjordânia fossem investigados pelo Tribunal Penal Internacional. Por fim, Bachelet elogiou o cessar-fogo alcançado entre palestinos e israelenses em 21 de maio, mas salientou que, “enquanto os problemas de raiz dessa violência não forem resolvidos, será apenas uma questão de tempo até que uma nova onda de combates comece”. “Tem de haver um processo de paz genuíno e inclusivo que aborde estes problemas de raiz e ponha fim à ocupação”, concluiu.

Israel e Hamas aceitam se reunir no Egito para reforçar trégua

Israel, representada pelo ministro das Relações Exteriores Gabi Ashkenazi, e o Hamas, representado pelo chefe político Ismail Haniyeh, concordaram em se reunir no início da próxima semana no Cairo para reforçar a trégua estabelecida há uma semana com a mediação do Egito. Durante o encontro, as partes devem abordar questões como a estabilização do cessar-fogo, a reconstrução da Faixa de Gaza e a troca de reféns. As informações foram confirmadas pelo Galatz, emissora de rádio oficial do Exército de Israel, e em nota pelo próprio movimento islâmico palestino.

Catar anuncia ajuda para reconstrução de Gaza

Nesta quinta-feira, 27, o porta-voz do Hamas, Abu Marzouk, escreveu em seu perfil no Twitter que o movimento islâmico palestino “não tem objeções a permitir doações através de agências internacionais ou países doadores para a Faixa de Gaza”, garantindo ainda que esses recursos não sofrerão qualquer “interferência do movimento”. O posicionamento acontece um dia depois do Catar anunciar uma ajuda financeira para reconstrução do enclave. “Seguindo as instruções de sua majestade o xeique Tamim bin Hamad Al Thani, emir do Catar, o Estado anuncia US$ 500 milhões de apoio à reconstrução de Gaza. Seguiremos apoiando os nossos irmãos na Palestina para alcançar uma solução justa e duradoura mediante o estabelecimento de um Estado independente”, escreveu no Twitter o ministro das Relações Exteriores, xeique Mohamed bin Abdelrahman Al Thani. Na terça-feira, 25, os Estados Unidos também prometeram US$ 75 milhões em ajuda econômica para os palestinos, US$ 32 milhões para a agência de ajuda aos palestinos da ONU e US$ 5,5 milhões em alívio imediato para a Faixa de Gaza. Há ainda a perspectiva de reabrir o consulado de Jerusalém e o fornecimento de 1,5 milhão de doses de vacinas contra a Covid-19 à Autoridade Nacional Palestina.

*Com informações da EFE

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