Cercado pelo Exército de Israel, principal hospital de Gaza fica sem energia e enterra mortos em vala comum

Porta-voz do Exército israelense, Peter Lerner, reiterou que Al Shifa era ‘central nas capacidades de comando e controle do Hamas’, mas que destacou que a casa de saúde não é um dos alvos da ofensiva

  • Por Jovem Pan
  • 14/11/2023 12h46
Dawood NEMER / AFP hospital al shifa Pessoas esperam em tendas na escuridão enquanto o combustível para a geração de eletricidade acaba, do lado de fora do hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza, no início de 3 de novembro

Israel cerco ainda mais nesta terça-feira, 14, o principal e maior hospital da Faixa de Gaza.  Após dias de bombardeios e combates nos arredores do hospital Al Shifa da cidade de Gaza, testemunhas afirmam que tanques e veículos armados estão nas entradas do complexo cercado, que se tornou um dos centros da guerra que começou há mais de cinco semanas. O Exército israelense acusa o movimento islamista palestino de usar uma rede de túneis sob o hospital como um “nódulo” de comando, transformando pacientes e refugiados em “escudos humanos”, o que o Hamas nega. A ONU acredita que milhares de pessoas dentro do hospital, um número que pode superar 10.000, entre pacientes, funcionários e deslocados, que não conseguem deixar o local devido aso combates. Nesta terça, ao menos 179 corpos foram enterrados em uma “vala comum” no hospital Al Shifa, informou o diretor do centro médico, Mohamad Abu Salmiya, que mencionou sete bebês prematuros que morreram devido à falta de energia elétrica.

“Não temos energia elétrica, comida e água no hospital”, afirmou em um comunicado um cirurgião da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que classifica a situação como desumana. “Nos vimos obrigados a enterrá-los em uma vala comum”, disse Abu Salmiya. “Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as áreas refrigeradas do necrotério não têm energia elétrica”, acrescentou. “Uma mulher e um homem que estavam no CTI morreram nesta terça-feira”, disse o médico. O diretor do hospital, Mohamad Abu Salmiya, relatou que “há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as salas refrigeradas dos necrotérios não têm mais energia elétrica”. Vinte e nove pessoas hospitalizadas no CTI faleceram desde sábado, quando a energia elétrica foi cortada no hospital Al Shifa. Um jornalista que está no complexo hospitalar afirmou que o odor dos cadáveres em decomposição é insuportável.

combates em gaza

Israel afirma que o hospital não é um dos alvos da sua ofensiva iniciada em Gaza para “aniquilar” o Hamas, em resposta ao ataque lançado pelos comandos do movimento palestino em território israelense que deixou 1.200 mortos e quase 240 reféns, segundo as autoridades. Contudo, um porta-voz do Exército israelense, Peter Lerner, reiterou que Al Shifa era “central nas capacidades de comando e controle do Hamas”, mas disse que as tropas estavam de prontidão. “A ideia é tentar retirar as pessoas, retirar o maior número possível”, declarou. Gaza já soma 11.240 mortos, incluindo 4.630 crianças. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou da situação no hospital Al Shifa, que tem chamado a atenção internacional para o conflito. “O hospital deve ser protegido”, disse Biden na segunda-feira, em meio à crescente indignação com as mortes de civis em Gaza.

Reféns do Hamas

A situação dos reféns levados para Gaza é uma questão complicada e as negociações são mediadas pelo Catar. Nesta terça, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, disse, após se reunir com a presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Genebra, que Israel carece de ‘provas de vida’ dos reféns levados para a Faixa de Gaza pelo movimento islamista palestino Hamas. “Até hoje, nenhum dos nossos reféns se encontrou com a Cruz Vermelha (…) não temos nenhuma prova de vida”, disse Cohen em uma coletiva de imprensa na sede da ONU em Genebra, depois de se reunir com a presidente do CICV, Mirjana Spoljaric. O Exército israelense confirmou nesta terça a morte de Noa Marciano, um soldado de 19 anos mantida refém pelo Hamas em Gaza, um dia depois de o movimento islamista ter afirmado que a mulher morreu em um bombardeio israelense.

Na segunda, Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, disse na segunda-feira que existe a possibilidade de um acordo para a libertação de 100 reféns israelenses em troca de 200 menores de idade e 75 mulheres palestinas que estão nas prisões israelenses.  O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, disse que os soldados “encontraram indícios” de que reféns israelenses detidos pelo Hamas estavam escondidos no porão do hospital pediátrico Al Rantissi, em Gaza.A polícia israelense anunciou nesta terça-feira que está investigando acusações de que combatentes do Hamas cometeram violência sexual durante o ataque.

*Com informações da AFP

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