Cerimônia do Nobel é marcada por pedido de distribuição igualitária de vacinas para o mundo

Evento, que ocorreu em Oslo e Estolcomo, também teve discurso a favor da liberdade de expressão por parte de jornalistas vencedores na categoria da Paz

  • Por Jovem Pan
  • 10/12/2021 16h53 - Atualizado em 10/12/2021 17h07
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Anders WIKLUND / TT NEWS AGENCY / AFP Carl-Henrik Heldin Carl-Henrik Heldin fez discurso de abertura da cerimônia

A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel, realizada nesta sexta-feira, 10, em Estolcomo, na Suécia, foi marcada por falas exaltando a ciência e os problemas geopolíticos do mundo em 2022. Em discurso de abertura do evento, o presidente do Conselho da Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin, falou da pandemia da Covid-19 e lembrou que em 2020, por causa da doença, os vencedores receberam medalhas em casa. “Hoje estamos honrados em celebrar aqui em Estocolmo. Com uma rapidez memorável, cientistas de todo o mundo conseguiram elucidar como o vírus afeta pessoas. Vacinas foram feitas em tempo recorde e mostram que estão funcionando. A ciência e os cientistas foram muito eficientes. Distribuir igualmente os resultados desta ciência, porém, se mostrou mais difícil. Agora, temos que fazer o conhecimento das vacinas chegar a todos os países do mundo igualitáriamente”, afirmou. Heldin também citou a dificuldade de fazer as pessoas confiarem na ciência diante de tantos receios propagados em 2021. “COmo podemos fazer as pessoas confiarem em fatos científicos em vez de se basearem em informações falsas ou teorias conspiratórias? Essa é uma tarefa muito importante para nós”, pontuou. Heldin também falou que o aquecimento global não é uma questão de opinião e pediu a colaboração de todas as nações para um mundo melhor.

Em outro evento solene na prefeitura de Oslo, na Noruega, a filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov, vencedores do Nobel da Paz, também falaram e defenderam a liberdade de expressão alertando sobre as ameaças sofridas em todo o mundo. “Necessitamos de ecossistemas de informação que vivam e morram com fatos. Faremos isso mudando as prioridades sociais para reconstruir o jornalismo do século 21, enquanto regulamos e proibimos o controle econômico que se beneficia do ódio e das mentiras” afirmou Ressa. Os dois profissionais de imprensa foram premiados “pelos seus esforços para defender a liberdade de expressão, condição prévia para a democracia e a paz duradoura”, segundo o Comitê Nobel, responsável pela premiação. Ressa destacou a necessidade de “abraçar” as novas tecnologias, ideia compartilhada por Muratov. “Somos jornalistas. Nossa missão é clara: distinguir entre fatos e ficção. A nova geração de profissionais sabe como trabalhar com fatos”, afirmou o cofundador e diretor do jornal russo “Novaya Gazeta”, que ganhou notoriedade ao revelar o transporte de refugiados do Oriente Médio para Belarus.

Ressa, que dirige o site “Rappler”, falou sobre o “jogo moral de poder e dinheiro” impulsionado pelas redes sociais, que são controladas por grandes corporações americanas e que considera uma “ameaça”, por exemplo, para eleições. A jornalista das Filipinas mencionou, Ferdinand “Bongbong” Marcos, filho do ex-ditador do país, que lidera as pesquisas para presidente, graças ao que chamou de “extensa rede de desinformação”, que foi exposta pelo “Rappler”, assim como a guerra contra as drogas do governo do presidente Rodrigo Duterte. “Em menos de dois anos, o governo filipino emitiu dez ordens de prisão contra mim. Tive que pagar fiança dez vezes para fazer meu trabalho. No ano passado, um antigo colega e eu fomos condenados por difamação, devido uma história publicada oito anos antes, quanto a lei, supostamente violada, sequer existia”, lamentou Ressa.

A jornalista, que pode viajar para a Noruega depois que a Corte de Apelações das Filipinas a autorizou na semana passada, luta contra uma série de processos judiciais, abertos por causa de suas apurações jornalísticas, e pode ser condenada a mais de 100 anos de prisão. Muratov, por sua vez, lamentou que o jornalismo da Rússia atravessa “um vale obscuro” e garantiu que centenas de profissionais de imprensa, veículos e ativistas foram classificados pelo governo como “agentes estrangeiros” e precisaram deixar o país. O diretor do “Novaya Gazeta” lamentou que a tortura seja uma “prática habitual” na Rússia e que os indiciamentos sejam baseados em “informações falsas e motivos políticos”, como no caso de Alexey Navalny. Muratov ainda denunciou os “jogos” geopolíticos que acontecem no leste da Europa e lamentou uma possível guerra entre Rússia e Ucrânia, que disse “já não ser mais impossível” de ocorrer.

*Com informações da EFE

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