China condena a quatro anos de prisão jornalista que noticiou Covid-19

Zhang Zhan denunciou que os moradores de Wuhan receberam comida estragada e foram obrigados a pagar pelos testes de Covid-19 durante o seu confinamento

  • 28/12/2020 13h58
EFE/EPA/MIGUEL CANDELA Manifestantes pedem a libertação da jornalista e ativista Zhang Zhan no dia de sua audiência

A China condenou a jornalista Zhang Zhan a quatro ou cinco anos de prisão por ter veiculado notícias sobre o início da propagação do novo coronavírus na cidade de Wuhan. Durante um julgamento a portas fechadas de três horas de duração, a ativista de 37 anos foi acusada de “provocar tumultos” e “buscar problemas”, duas acusações frequentemente utilizadas contra os cidadãos que são contrários ao governo chinês. O Ministério Público também a condenou pela publicação “repetida de um grande número de informações falsas” e por “exagerar maliciosamente” sobre a situação em Wuhan. Zhang Zhan é uma das várias jornalistas chinesas detidas por fazer reportagens sobre a cidade, mas a primeira a ser condenada à prisão. A audiência aconteceu em um tribunal de Xangai, em meio à forte presença de policiais, nesta segunda-feira, 27. As autoridades chinesas costumam realizar julgamentos delicados envolvendo ativistas de direitos humanos durante a temporada de férias, quando grande parte do resto do mundo está distraída. Os procedimentos, anunciados com pouca antecedência, são quase sempre mantidos em segredo.

Em fevereiro, a jornalista viajou para Wuhan para filmar hospitais, bairros e centros comunitários lotados. Os conteúdos eram publicados em plataformas como o WeChat, o Twitter e o YouTube junto com relatórios críticos acusando a China de não informar os moradores da cidade sobre a realidade da situação. Eles contrastavam fortemente com a cobertura da mídia estatal, que era muito mais otimista sobre a disseminação do vírus. Entre as informações divulgadas por ela estaria o fato dos habitantes de Wuhan terem recebido comida apodrecida durante o primeiro confinamento de 11 semanas imposto na cidade e serem obrigados a pagar para fazer os testes de detecção do novo coronavírus. Seu veredito surge antes de uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) à China para investigar as origens do novo coronavírus. O tópico politicamente tenso, já que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, junto com outros críticos, diz que o país asiático deve assumir a responsabilidade pela pandemia que já atingiu mais de 1,7 milhão de vidas. “A sentença de Zhang Zhan terá um efeito dissuasor de silenciar outras pessoas que testemunharam o que aconteceu em Wuhan no início deste ano”, disse Leo Lan, um consultor de pesquisa e advocacia da Chinese Human Rights Defenders.

Detida em maio, Zhang Zhan está em greve de fome desde setembro, mas foi alimentada à força por meio de um tubo enquanto permanecia algemada. Apesar disso e dos apelos de seus amigos e familiares, ela afirmou ao seu advogado de defesa, Zhang Keke, que continuará se negando a comer até morrer na prisão. “Se receber uma sentença pesada, vou recusar qualquer alimento até o fim”, disse a jornalista. Os seus apoiadores estiveram do lado de fora do Tribunal de Xangai durante a sua audiência, segurando cartazes que defendiam a sua inocência e pediam a atenção da comunidade internacional. No entanto, os simpatizantes foram empurrados para longe do prédio pela polícia, sendo que nove chegaram a ser presos.

*Com informações de agências internacionais

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