China confisca caixões para proibir enterros

  • Por Agência EFE
  • 03/08/2018 07h40
Reprodução Reprodução Segundo a tradição chinesa, o morto precisa viajar para o além da forma mais intacta possível, por isso o enterro é a prática considerada mais adequada

Com cada vez menos espaço nos cemitérios, a China tenta deixar para trás a tradição de enterrar os mortos por meio de medidas governamentais de fomento à incineração ou até mesmo com práticas mais duras, como o confisco e destruição dos caixões.

Uma das últimas medidas polêmicas postas em prática ocorreu na província de Jiangxi, cujo governo proibiu que os mortos fossem enterrados conforme a tradição e confiscou todos os caixões à força.

Fotos divulgadas pela imprensa local e pelas redes sociais mostram montanhas de caixões a ponto de serem destruídos, além de idosos que entravam nos recipientes como forma de protesto.

Segundo a tradição chinesa, o morto precisa viajar para o além da forma mais intacta possível, por isso o enterro é a prática considerada mais adequada.

Nos últimos anos houve tentativas de mudar esta concepção, já que em muitos lugares a falta de espaço a impossibilitam, principalmente nas grandes cidades. Em algumas, inclusive, já é obrigatório incinerar os corpos.

Algumas zonas rurais ainda preservam a tradição de se comprar ou construir o caixão sob medida em vida. Para os habitantes desses lugares, guardar o ataúde em casa até a morte atrai longevidade e sorte.

Entre essas regiões há muitas aldeias de Jiangxi, onde nos últimos meses agentes do governo entraram nas casas das pessoas à força para fazê-las cumprir uma lei emitida há seis meses que estipula que a partir de setembro será proibido enterrar os mortos em caixões, motivo pelo qual não se pode possuir nem construir esse objeto.

Desde que a medida foi implementada na região, 5.800 caixões foram entregues voluntariamente e outros foram confiscados pelas forças de segurança.

A medida, classificada pela imprensa local como “bárbara e impopular”, criou uma forte polêmica entre a população que não entende que os interesses econômicos se ponham acima das tradições.

“São bandidos que roubam as propriedades privadas do povo”, disse através da rede social Weibo uma usuária chamada Na Wa.

O governo promove funerais alternativos, como os enterros verdes, que ocupam menos terra, consomem menos recursos ou usam materiais biodegradáveis. Um deles é jogar as cinzas no mar ou enterrá-las perto das árvores.

Segundo o Escritório de Assuntos Civis de Pequim, os enterros ecológicos na capital do país representaram 44% de todos os enterros no ano passado.

O Ministério de Assuntos Civis emitiu recentemente uma diretriz em nível nacional que estabelece uma meta para que as cerimônias verdes constituam 50% do total anual até 2020.

Para ajudar a população a mudar de mentalidade, em alguns lugares foram estabelecidos incentivos monetários. Um exemplo é o plano desenvolvido em Wenling (província oriental de Zhejiang), onde as pessoas que escolhem um enterro no mar recebem um pagamento mensal.

Assim, os maiores de 70 anos que adotarem esse plano receberão uma remuneração mensal baseada na idade que oscila entre 100 e 400 iuanes (R$ 55 e R$ 220).

“A reforma do enterro ecológico é a tendência. Agora há muitos montes de túmulos nos campos. Os mortos não devem competir com os vivos na ocupação da terra. A reforma do governo tem um bom objetivo, e é preciso uma divulgação e normas mais positivas”, comentou Hui Min, outro internauta que luta pela necessidade de se adaptar aos novos tempos.

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