China: Taxa de natalidade cai em 2020 e envelhecimento populacional preocupa

O número de recém-nascidos caiu 15% pelo quarto ano consecutivo no país asiático, que passou da lei do filho único para o incentivo à gravidez

  • Por Bárbara Ligero
  • 09/02/2021 16h17 - Atualizado em 09/02/2021 16h41
EFE/EPA/JEROME FAVRE/Archivo Cinco anos depois do fim da lei que limitava o número de herdeiros por casal, ter irmão ainda é raro na China

O 10,4 milhões de nascimentos registrados na China ao longo de 2020 representam uma diminuição de 15% em relação ao ano anterior. Esse é o quarto ano consecutivo em que o índice de natalidade sofre retração, sendo que 2019 foi o pior em 70 anos. Os dados divulgados pelo Ministério da Segurança Pública nesta segunda-feira, 8, comprovam que o fim da lei do filho único está tendo pouco impacto no combate ao envelhecimento populacional. O problema não é exclusivo da China, mas pode ser especialmente grave no país porque representa um custo significativo, mesmo para a segunda maior economia do mundo. Por anos, a a nação asiática se beneficiou da sua numerosa população (que representa quase um quinto do planeta), para ter ampla mão de obra e ascender economicamente em uma velocidade nunca antes vista. Agora, se não conseguir reverter as estatísticas, pode estar em jogo as suas ambições de passar de segunda para primeira potência mundial, superando, assim, os Estados Unidos.

Ao longo de três décadas, a China buscou frear o seu crescimento demográfico e acabar com a perpetuação da pobreza através da lei do filho único, que proibia os casais de terem mais de um herdeiro. O professor de relações internacionais da ESPM, Alexandre Uehara, explica que a medida foi implementada no final da década de 1970, em um contexto em que o país ainda era muito pobre e não conseguia atender à demanda de alimentos e recursos de uma população tão grande. Ainda que fossem abertas algumas exceções, a regra era muito criticada pela comunidade internacional por levar ao aborto seletivo de meninas e ao abandono de crianças. Mas não foram por esses motivos que a lei foi finalmente abolida em 2015. Dois anos depois de assumir a presidência da China, Xi Jinping aumentou para dois o número máximo de filhos permitidos a cada casal, já temendo os efeitos do envelhecimento da população.

No entanto, a medida até agora não resolveu o problema: apenas em 2016, o ano seguinte ao fim da lei do filho único, houve um ‘baby boom’. Ou seja, por mais que estejam autorizados a isso, os chineses não querem dar irmãozinhos às suas crianças. O especialista Alexandre Uehara explica que esse comportamento está ligado à urbanização e ao custo de vida na China, que tem se elevado. Isso, mais uma vez, acontece em diferentes partes do mundo, mas pode ter um agravante na sociedade chinesa: a alta competitividade torna de suma importância investir em uma educação de qualidade para os herdeiros. Ciente desses desafios, o governo chinês tem lançado propagandas estatais pedindo que os casais tenham “filhos em nome do país” enquanto discute outras medidas, como a ampliação da licença-maternidade e incentivos financeiros e fiscais.

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