Com escassez de oxigênio, Índia censura críticas ao governo no Twitter e recebe ajuda internacional
O país bateu o recorde mundial de casos diários de Covid-19 pelo quinto dia consecutivo, com 352.991 novas infecções registradas nesta segunda-feira, 26
A Índia bateu o recorde mundial de casos diários de Covid-19 pelo quinto dia consecutivo. Nesta segunda-feira, 26, foram relatadas 352.991 novas infecções pelo coronavírus, além de 2.812 mortes causadas pela doença. Isso faz com que o país tenha sido responsável por 48% de todas as contaminações do planeta nas últimas 24 horas, segundo dados do “Our World in Data”. Até então, só os Estados Unidos tinham superado a marca de 300 mil contaminações em um dia, mas apenas uma vez em 2 de janeiro. A situação é especialmente crítica em Nova Délhi, que enfrenta uma grave escassez de oxigênio suplementar. No sábado, 24, pelo menos 20 pessoas morreram na cidade devido à falta desse recurso.
Em resposta a essa crise, no domingo, 25, o primeiro-ministro Narendra Modi fez uma publicação em seu perfil oficial no Twitter prometendo instalar 551 usinas de geração de oxigênio pelo país. Enquanto isso, a falta do recurso nos hospitais está fazendo com que familiares de pacientes com Covid-19 comprem cilindros por 50 mil rúpias (cerca de R$ 3.647) a unidade no mercado negro, sendo que o preço original era de 6 mil rúpias (cerca de R$ 437) cada, segundo a emissora de televisão britânica BBC. Ao mesmo tempo, os resultados de testes RT-PCR estão demorando dias para sair devido à sobrecarga dos laboratórios e a falta de leitos de UTI alavancou a procura por enfermeiras particulares entre a classe alta.
Ajuda global
Os Estados Unidos, que vinham sendo criticados por terem impedido a exportação de insumos necessários para a fabricação de imunizantes contra a Covid-19, prometeram ajuda à Índia neste domingo, 25. “Se quisermos realmente nos unir para vencer este vírus, em nome da indústria de vacinas fora dos Estados Unidos, humildemente peço que suspendam o embargo às exportações de matérias-primas para que a produção de vacinas possa aumentar”, escreveu o diretor do Instituto Serum, Adar Poonawalla, em seu perfil oficial no Twitter no último dia 16. Quase dez dias depois, a Casa Branca respondeu ao apelo prometendo suspender parcialmente o embargo de insumos específicos necessários para a produção da Covishield. Os Estados Unidos também anunciaram que enviarão ventiladores, testes de diagnóstico rápido da Covid-19 e equipamentos de proteção individual enquanto buscam “opções para fornecer oxigênio em caráter urgente”.
No mesmo dia, o médico conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, afirmou que está em pauta a possibilidade de enviar à Índia as doses em excesso da vacina da AstraZeneca–Oxford, que ainda não recebeu aprovação da Food and Drug Administration (FDA). As gigantes da tecnologia Microsoft e Google também ofereceram ajuda à nação asiática através de financiamento de suprimentos. Já o Reino Unido se comprometeu com o envio de 600 equipamentos médicos, entre eles concentradores de oxigênio e ventiladores. França, Alemanha, China, Emirados Árabes e Austrália também ofereceram ajuda à Índia, mas a oferta mais surpreendente, no entanto, veio do Paquistão que, apesar do histórico hostil com o país vizinho, afirmou que enviará ventiladores, equipamentos de proteção individual e outros tipos de assistência médica em um “gesto de solidariedade”.
Censura no Twitter
A Índia solicitou ao Twitter que removesse dezenas de postagens críticas à forma como o governo está lidando com a pandemia do novo coronavírus, inclusive algumas que tinham sido escritas por parlamentares locais. A justificativa é que alguns materiais são falsos ou então podem levar a população ao pânico. O Twitter admitiu que a solicitação foi parcialmente atendida porque estava apoiada na Lei de Informação Tecnológica de 2000, que tem uma cláusula sobre a “proteção da soberania e da integridade da Índia”. Segundo o jornal local The Indu, mais de 50 postagens foram excluídas. A decisão gerou revolta entre alguns usuários indianos da plataforma. “O governo, ao invés de salvar vidas, está censurando a rede social. Condenável”, escreveu Amal Chandra. “Porque você sabe que é mais fácil tirar tweets do que garantir suprimentos de oxigênio”, completou Aftab Alam. Outra usuária, Kajol Srinivasan, escreveu “nova máscara lançada pelo sistema” e postou uma foto em que um menino aparece com a boca tampada por uma fita adesiva.
The whole India is petrified, citizens are searching for emergency help, coordinating life support & trying to keep the government accountable, but the GOI, instead of saving lives, is bringing social media censorship. Condemnable! https://t.co/DT43bWltHa
— Amal Chandra (@ens_socialis) April 25, 2021
Because you know it’s easier to take down tweets than it is to ensure oxygen supplies.
Via Shuddhabrata Sengupta
"On the Centre's request, Twitter takes down 52 tweets criticising India's handling of the pandemic"
— Aftab Alam (@aftabistan) April 25, 2021
New mask launched by the System. pic.twitter.com/d86t14kwsQ
— Kajol Srinivasan (@LOLrakshak) April 25, 2021
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