Com escassez de oxigênio, Índia censura críticas ao governo no Twitter e recebe ajuda internacional

O país bateu o recorde mundial de casos diários de Covid-19 pelo quinto dia consecutivo, com 352.991 novas infecções registradas nesta segunda-feira, 26

  • Por Jovem Pan
  • 26/04/2021 12h11 - Atualizado em 26/04/2021 17h12
EFE/EPA/DIVYAKANT SOLANKI Indianos fazem fila do lado de fora de centro de vacinação contra Covid-19 em Mumbai Indianos fazem fila do lado de fora de centro de vacinação contra Covid-19 em Mumbai

A Índia bateu o recorde mundial de casos diários de Covid-19 pelo quinto dia consecutivo. Nesta segunda-feira, 26, foram relatadas 352.991 novas infecções pelo coronavírus, além de 2.812 mortes causadas pela doença. Isso faz com que o país tenha sido responsável por 48% de todas as contaminações do planeta nas últimas 24 horas, segundo dados do “Our World in Data”. Até então, só os Estados Unidos tinham superado a marca de 300 mil contaminações em um dia, mas apenas uma vez em 2 de janeiro. A situação é especialmente crítica em Nova Délhi, que enfrenta uma grave escassez de oxigênio suplementar. No sábado, 24, pelo menos 20 pessoas morreram na cidade devido à falta desse recurso.

Em resposta a essa crise, no domingo, 25, o primeiro-ministro Narendra Modi fez uma publicação em seu perfil oficial no Twitter prometendo instalar 551 usinas de geração de oxigênio pelo país. Enquanto isso, a falta do recurso nos hospitais está fazendo com que familiares de pacientes com Covid-19 comprem cilindros por 50 mil rúpias (cerca de R$ 3.647) a unidade no mercado negro, sendo que o preço original era de 6 mil rúpias (cerca de R$ 437) cada, segundo a emissora de televisão britânica BBC. Ao mesmo tempo, os resultados de testes RT-PCR estão demorando dias para sair devido à sobrecarga dos laboratórios e a falta de leitos de UTI alavancou a procura por enfermeiras particulares entre a classe alta.

Ajuda global

Os Estados Unidos, que vinham sendo criticados por terem impedido a exportação de insumos necessários para a fabricação de imunizantes contra a Covid-19, prometeram ajuda à Índia neste domingo, 25. “Se quisermos realmente nos unir para vencer este vírus, em nome da indústria de vacinas fora dos Estados Unidos, humildemente peço que suspendam o embargo às exportações de matérias-primas para que a produção de vacinas possa aumentar”, escreveu o diretor do Instituto Serum, Adar Poonawalla, em seu perfil oficial no Twitter no último dia 16. Quase dez dias depois, a Casa Branca respondeu ao apelo prometendo suspender parcialmente o embargo de insumos específicos necessários para a produção da Covishield. Os Estados Unidos também anunciaram que enviarão ventiladores, testes de diagnóstico rápido da Covid-19 e equipamentos de proteção individual enquanto buscam “opções para fornecer oxigênio em caráter urgente”.

No mesmo dia, o médico conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, afirmou que está em pauta a possibilidade de enviar à Índia as doses em excesso da vacina da AstraZenecaOxford, que ainda não recebeu aprovação da Food and Drug Administration (FDA). As gigantes da tecnologia Microsoft e Google também ofereceram ajuda à nação asiática através de financiamento de suprimentos. Já o Reino Unido se comprometeu com o envio de 600 equipamentos médicos, entre eles concentradores de oxigênio e ventiladores. França, Alemanha, China, Emirados Árabes e Austrália também ofereceram ajuda à Índia, mas a oferta mais surpreendente, no entanto, veio do Paquistão que, apesar do histórico hostil com o país vizinho, afirmou que enviará ventiladores, equipamentos de proteção individual e outros tipos de assistência médica em um “gesto de solidariedade”.

Censura no Twitter

A Índia solicitou ao Twitter que removesse dezenas de postagens críticas à forma como o governo está lidando com a pandemia do novo coronavírus, inclusive algumas que tinham sido escritas por parlamentares locais. A justificativa é que alguns materiais são falsos ou então podem levar a população ao pânico. O Twitter admitiu que a solicitação foi parcialmente atendida porque estava apoiada na Lei de Informação Tecnológica de 2000, que tem uma cláusula sobre a “proteção da soberania e da integridade da Índia”. Segundo o jornal local The Indu, mais de 50 postagens foram excluídas. A decisão gerou revolta entre alguns usuários indianos da plataforma. “O governo, ao invés de salvar vidas, está censurando a rede social. Condenável”, escreveu Amal Chandra. “Porque você sabe que é mais fácil tirar tweets do que garantir suprimentos de oxigênio”, completou Aftab Alam. Outra usuária, Kajol Srinivasan, escreveu “nova máscara lançada pelo sistema” e postou uma foto em que um menino aparece com a boca tampada por uma fita adesiva.

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