Confronto entre palestinos e israelenses deixa mais de 300 feridos em Jerusalém

Tensão aumentou no Dia de Jerusalém, feriado do calendário hebraico que comemora a captura da cidade sagrada por Israel em 1967

  • Por Jovem Pan
  • 10/05/2021 12h16 - Atualizado em 10/05/2021 16h18
EFE/EPA/ABIR SULTAN Policial israelense (esquerda) aponta arma para palestino (centro) ao lado de um judeu ortodoxo ferido (direita) em Jerusalém Policial israelense (esquerda) aponta arma para palestino (centro) ao lado de um judeu ortodoxo ferido (direita) em Jerusalém

Jerusalém voltou a ser palco de confrontos entre palestinos e israelenses nesta segunda-feira, 10, quando pelo menos 300 pessoas ficaram feridas. Os embates aconteceram no Dia de Jerusalém, data do calendário hebraico que marca a captura da cidade por Israel em 1967 e costuma ser comemorada com centenas de judeus agitando bandeiras e cantando músicas patrióticas enquanto caminham por áreas muçulmanas. Há muito tempo o evento é visto por muitos palestinos como uma provocação deliberada. Para evitar tensões, as autoridades israelenses decidiram impedir os judeus de passarem pela mesquita Al-Aqsa, terceiro local mais sagrado do Islã, durante a Marcha das Bandeiras desse ano. O problema é que a mesquita em questão também fica no topo do Monte do Templo, que por sua vez é o local mais importante para o judaísmo. Desde a noite anterior, muçulmanos ficaram de prontidão para defender a sua mesquita al-Aqsa e, pela manhã, centenas de judeus ativistas caminharam até o Monte do Templo, contrariando as ordens das autoridades locais. Teve início assim o confronto, em que palestinos lançaram pedras e coquetéis molotov. A polícia israelense teve que intervir e respondeu com granadas, balas de borracha e gás lacrimogênio. Imagens compartilhado pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel também mostram um veículo tentando fugir de um linchamento nos arredores da Cidade Antiga:

O Crescente Vermelho Palestino afirmou que 305 muçulmanos ficaram feridos, sendo que 228 tiveram que ser levados ao hospital para receber tratamento e 7 estão em estado crítico. Já a força policial israelense apontou que 21 de seus agentes se machucaram, incluindo 3 que precisaram de atendimento médico. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou as ações israelenses. “A invasão brutal das forças de ocupação israelenses e o ataque aos fiéis na abençoada Mesquita al-Aqsa e seus pátios é um novo desafio para a comunidade internacional”, acrescentou o seu porta-voz, Nabil Abu Rudeineh. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu a ação da polícia. “Está é uma batalha entre tolerância e intolerância, entre violência sem lei e ordem”, completou.

Contexto

Rodeada por muros milenares, a Cidade Antiga de Jerusalém não chega a ter nem 1 km², mas abriga uma série de monumentos de grande importância religiosa, como o Monte do Templo e o Muro das Lamentações para os judeus, o Domo da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa para os muçulmanos e a Basílica do Santo Sepulcro e a Via Sacra para os cristãos. Tanto os israelenses quanto os palestinos reivindicam a cidade como sendo sua capital. A diferença é que Israel possui o controle de fato de Jerusalém, enquanto a Palestina a prevê como sua futura sede política. Apesar do conflito possuir raízes profundas em uma disputa de mais de 70 anos, pode-se dizer que a recente tensão começou há quase um mês, com o início do Ramadã.

Desde 13 de abril, primeiro dia do mês sagrado dos muçulmanos, os palestinos estão acusando os israelenses de terem erguido barreiras para impedi-los de se reunirem nos arredores do Portão de Damasco, uma das principais entradas da Cidade Antiga de Jerusalém. Apesar da polícia local negar qualquer discriminação religiosa e alegar que a medida visa apenas facilitar a circulação de pedestres na região, a decisão levou alguns muçulmanos a fazerem um protesto na praça logo em frente. Enquanto isso, os judeus vêm se queixando de uma onda de vídeos do TikTok que mostram palestinos atacando membros da comunidade ultraortodoxa em Jerusalém. O grupo judeu de extrema-direita Levaha usou essa justificativa para marchar em direção ao Portão de Damasco entoando slogans que pediam “morte aos árabes” no último dia 23. Essa manifestação invariavelmente acabou se encontrando com o protesto dos muçulmanos na entrada da Cidade Antiga, onde teve início um confronto que deixou pelo menos 100 feridos.

As tensões aumentaram ainda mais depois que Israel anunciou que despejará as famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah. Na sexta-feira, 7, mais de 200 pessoas ficaram feridas em confrontos na Esplanada das Mesquitas, onde milhares de palestinos se reuniam para a última oração antes do fim do Ramadã. No sábado, 8, houve disputas em outras regiões de Jerusalém. No domingo, 9, militantes palestinos da Faixa de Gaza dispararam quatro foguetes contra Israel, que respondeu com tiros de tanques.

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