Tensão na França aumenta após recusa de Macron em se reunir com sindicatos para discutir reforma da previdência
Cerca de 300 mil manifestantes tomaram às ruas do país em mais um ato contra o projeto do líder francês; Câmaras do Parlamento têm até 26 de março para aprovarem
Desde o meio de janeiro, a França enfrenta uma onda de manifestações contra a reforma da previdência prevista pelo presidente Emmanuel Macron. Neste sábado, 11, cerca de 300 mil pessoas foram às ruas mais uma vez para demonstrar o seu descontentamento, que aumentou ainda mais na sexta-feira após o líder francês se recusar a se reunir com os sindicatos. “Quando milhões de pessoas estão nas ruas, quando há greves e tudo o que recebemos do outro lado é o silêncio, as pessoas perguntam: O que mais temos que fazer para sermos ouvidos?”, afirmou Philippe Martinez, líder do sindicato CGT, antes de pedir um referendo sobre a reforma previdenciária. Apesar das revoltas populares com o projeto, diante da queda do número de adesão das manifestações que aconteceram pelo sétimo dia seguindo, o senado francês aprovou, na noite deste sábado, 11, por 195 votos a favor e 112 contra, a polêmica reforma previdenciária – esse é o primeiro passo para adoção final. “Um passo importante foi dado esta noite com uma ampla votação do texto da reforma da previdência no Senado”, disse Elisabeth Borne, primeira-ministra da França. “Apesar das tentativas de obstrução por parte de alguns grupos, o debate democrático manteve-se”, acrescentou. Ela está confiante de que a maioria no Parlamento vão votar a favor do texto, que segue sua jornada legislativa na próxima semana, com votação marcada para quinta-feira, 16, na Assembleia Nacional (Câmara baixa).
A mobilização na França entrou em uma nova fase na terça-feira, 7, com o maior protesto até o momento, 1,8 milhão de manifestantes, de acordo com as autoridades, e 3,5 milhões, segundo o sindicato CGT, e com o início de greves prorrogáveis. As manifestações têm como objetivo forçar o governo a retirar o projeto de lei que pretende adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos a partir de 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42, como atualmente) para receber a pensão integral. Depois de cinco grandes manifestações pacíficas em janeiro e fevereiro, os sindicatos decidiram intensificar sua luta diante da recusa do governo Macron e da primeira-ministra, Élisabeth Borne, de recuar da medida. Nesta nova fase, além de saírem as ruas, importantes portos de Le Havre, Rouen e Marselha foram bloqueados temporariamente e trabalhadores em greve do setor elétrico continuam reduzindo a produção de eletricidade. Também houve cancelamento de viagens de trens e pertubações nos transportes públicos. Para próxima semana, uma nova manifestação está marcada, e ela provavelmente ocorrerá na quarta-feira, 15.
Mesmo diante do descontentamento – segundo as pesquisas, dois terços dos franceses são contra essa mudança -o governo optou por um controverso procedimento parlamentar — um projeto que altera a lei de financiamento da Seguridade Social — que limita o tempo de análise e facilita a aplicação do plano. As duas câmaras do Parlamento têm agora até 26 de março para adotar o mesmo texto. Caso contrário, o governo pode implementar a medida por meio de uma portaria a partir desta data, algo que nunca aconteceu. O Senado (Câmara Alta), controlado pela oposição de direita favorável à reforma, tem até o domingo, 12, para votar a medida. Já na Assembleia Nacional (Câmara Baixa), o prazo expirou sem tenha chegado a fazê-lo. Na próxima semana, representantes de ambas as Câmaras devem se reunir para chegar a um texto comum, sobre o qual deputados e senadores devem se pronunciar novamente ou pelo menos tentar, possivelmente em 16 de março.
*Com informações da AFP
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