Falha em anticoncepcional deixa ao menos 170 mulheres grávidas no Chile; método é mesmo seguro?

Uma das pílulas relatadas é a Conti-Marvelon, fabricada e comercializada no Brasil com outro nome; erro não impactou a vida das brasileiras, segundo a farmacêutica responsável pelo medicamento

  • Por Camila Corsini
  • 27/03/2021 10h00
Reprodução/Instituto de Salud Pública de Chile Cartelas de pílulas anticoncepcionais com comprimidos quebrados Ginecologista especialista em Reprodução Humana afirma que existem duas formas de usar a pílula: uso perfeito e uso típico

Uma falha na pílula anticoncepcional Anulette CD, distribuída gratuitamente nos postos de saúde do Chile, deixou pelo menos 170 mulheres grávidas no país. É o que diz a organização Miles Chile, que atua na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Mais dois medicamentos são observados: Minigest e Conti-Marvelon, sendo este último fabricado no Brasil pelo laboratório Eurofarma com o nome de Mercilon Conti. Em ambos os países ela é comercializada pela multinacional Merck Sharp & Dohme (MSD). Em agosto de 2020, o Instituto de Saúde Pública (ISP) do Chile retirou de circulação dois lotes do Anulette CD, responsável pela maior parte das denúncias. Segundo a farmacêutica que fabrica o medicamento, isso soma 276.890 cartelas. Quatro lotes do Minigest e Conti-Marvelon também foram suspensos. A organização Miles Chile já recebeu pelo menos 27 denúncias de outros lotes com defeito que continuam sendo distribuídos. De acordo com o ISP, as falhas vão desde cartelas com pílulas danificadas, ausentes ou trocadas por farinha — até com erros no esquema impresso na embalagem. No Chile, a farmacêutica Silesia, responsável pela Anulette, foi condenada pelo instituto a pagar uma multa equivalente a R$ 520 mil. E a própria empresa pediu a retirada de circulação de três lotes do Minigest porque foi detectada uma quantidade insuficiente da substância ativa — o que afetaria a eficácia do método. As notificações feitas em relação ao Conti-Marvelon diziam respeito a falhas na impressão das cartelas, que poderiam confundir a ordem certa de ingestão dos comprimidos.

Posso confiar no método?

A pílula anticoncepcional é um método contraceptivo conhecido mundialmente como um dos mais populares, acessíveis e seguros — sua eficácia, quando administrada de forma correta, pode passar de 99%. Em geral, os anticoncepcionais costumam diferenciar os comprimidos com inibidor de ovulação dos comprimidos com placebo, ingeridos na “pausa”, por meio da cor e de um esquema orientado por setas indicando a ordem que eles devem ser ingeridos. De acordo com Carla Iaconelli, ginecologista e obstetra especialista em Reprodução Humana, existem duas formas de usar a pílula: uso perfeito e uso típico.

No primeiro, o medicamento é tomado todos os dias, evitando usar antibiótico, sem vômito, tomando todos os cuidados para não esquecer o horário e seguindo a ordem da cartela. No segundo, é aquela paciente que toma pílula, mas de vez em quando esquece, toma em horários diferentes. “Com o uso perfeito, a taxa de gravidez é de 0,3 casais a cada 100 parceiros tendo relações durante um ano. O normal seria que a cada 100 casais que tivessem relações durante um ano, em torno de 85 engravidassem. O uso típico já tem um aumento de 7 gestações para cada 100 casais que têm relações durante um ano”, explica. A especialista reforça que o ato sexual é um momento muito importante, de muita intimidade e responsabilidade. “E a responsabilidade vai nesse sentido, de utilizar o método corretamente se o casal não pensa em ter filhos naquele momento”, reforça.

Uma forma de intensificar a proteção é utilizando métodos combinados. No caso da pílula, o ideal é que ela seja usada com a camisinha. “O preservativo também tem taxa de gravidez diferente para quando se faz o uso perfeito ou o uso típico. O casal que faz o uso perfeito apenas da camisinha tem uma taxa de gravidez de 2 casais a cada 100 durante um ano. Quem não usa perfeito, quando a camisinha não é bem colocada ou não usam sempre, aumenta para 13 gestações a cada 100 casais.” De acordo com ela, a combinação da pílula com a camisinha é muito interessante porque, caso a pílula falhe, o casal pode não falhar no uso do preservativo — o que aumenta a eficácia dos dois métodos juntos. Além disso, o uso do preservativo é o único método que previne o risco de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) se usado do começo ao fim da relação.

Falha afetou Brasil? 

A Jovem Pan entrou em contato com a Eurofarma e foi orientada a procurar a Merck Sharp and Dohme (MSD), responsável pela comercialização do medicamento nos dois países. Em nota, a multinacional afirmou que, no Chile, no fim de 2020, foi solicitado o recolhimento voluntário do lote 608442 de Conti-Marvelon devido a alterações na arte indicativa do esquema de administração na cartela de comprimidos. “Não houve nenhuma alteração na composição das pílulas. Como descrito em bula, a utilização do medicamento em uma sequência diferente da pré-determinada pode levar a um sangramento irregular ou mesmo um atraso no sangramento”, afirmou o documento.  “No Brasil, este medicamento é comercializado com outra nomenclatura – Mercilon Conti. Como o problema relatado refere-se a um lote específico comercializado no Chile, não houve nenhum impacto ou necessidade de medidas preventivas a respeito.” Em nota, a Anvisa afirmou que até o presente momento “não foi encontrada nenhuma notificação de problemas com o anticoncepcional em questão”.

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