França convoca embaixadores nos Estados Unidos e Austrália por irritação com acordo militar
Parceria entre australianos, americanos e britânicos fará com que venda de submarinos franceses seja cancelada
A França convocou seus embaixadores em Washington e Camberra como forma de demonstrar insatisfação com um acordo militar celebrado entre Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. O incidente diplomático ocorre porque o país da Oceania tinha um acordo para adquirir submarinos franceses movidos a diesel que agora será cancelado, pois os australianos receberão tecnologia americana para construir submarinos com propulsão nuclear. Paris considerou a situação como ‘uma punhalada nas costas’, afirmou que não confiaria mais em negociações comerciais com a Austrália e acusou os Estados Unidos de ‘comportamento impróprio’.
“A pedido do presidente da República, decidi chamar imediatamente para consultas nossos dois embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália. Esta decisão rara se justifica pela gravidade excepcional dos anúncios realizados em 15 de setembro por Austrália e Estados Unidos”, declarou o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian em um comunicado nesta sexta-feira, 17. A França focou sua ira em Austrália e Estados Unidos, e Le Drian comparou Joe Biden a Donald Trump, classificando o novo acordo militar como uma ‘decisão unilateral, brutal, imprevisível’, muito parecida com as atitudes do presidente americano anterior.
A ministra de Relações Exteriores australiana, Marise Payne, disse entender a decepção por parte da França e prometeu trabalhar em estreita colaboração com o governo de Paris, enquanto o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, negou que a situação tivesse sido uma traição contra os franceses. “Eu fui claro, em um longo jantar em Paris, sobre as nossas preocupações quanto à capacidade de submarinos convencionais para lidar com o novo ambiente estratégico em que estamos”, relatou Morrison, se referindo a um encontro que teria tido com o presidente francês, Emmanuel Macron, em junho. Os EUA, por sua vez, lamentaram a decisão francesa de convocar os embaixadores e afirmaram que se esforçarão nos próximos dias para resolver as diferenças, segundo informou um porta-voz da Casa Branca.
O novo acordo, denominado ‘Aaukus’, tem como objetivo diminuir a presença da China na região do Indo-Pacífico, principalmente relacionada à presença militar. Os três países vão compartilhar tecnologia para fortalecer as bases navais e construir novos submarinos de propulsão nuclear para atuar no entorno. A França também tinha a intenção de fortalecer sua presença na região, onde possui os territórios ultramarinos da Nova Caledônia e da Polinésia Francesa, o que agora se torna mais difícil pelo desentendimento com os australianos e o cancelamento do acordo de venda dos submarinos.
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