Índia registra recorde mundial com 315 mil casos de Covid-19 em um dia

Interrupção no fornecimento de oxigênio levou pelo menos 22 pacientes à morte na quarta-feira, 21; variante indiana do coronavírus corresponde a 29% dos casos da doença no país

  • Por Jovem Pan
  • 22/04/2021 16h56 - Atualizado em 22/04/2021 20h10
EFE/EPA/DIVYAKANT SOLANKI Profissionais da saúde atendem paciente com suspeita de Covid-19 em Mumbai, na Índia O primeiro-ministro Narendra Modi garantiu que o governo está trabalhando no suprimento de oxigênio após interrupção

Os Estados Unidos detinham o recorde mundial de casos de Covid-19 em um único dia desde 2 de janeiro, quando registraram pouco mais de 300 mil novas contaminações. No entanto, a marca foi superada nesta quarta-feira, 22, pela Índia, que teve quase 315 mil infecções só nas últimas 24 horas. O agravamento da pandemia está relacionado ao desrespeito das medidas de restrição em meio a importantes festivais religiosos, como a celebração hindu Kumbh Mela, e também à presença das variantes mais transmissíveis do novo coronavírus detectadas pela primeira vez no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil. Porém, a mutação dupla que surgiu de forma inédita na própria Índia também pode estar desempenhando um papel no aumento no número de contaminações: chamada de B.1.617, a variante corresponde a 29% dos casos de Covid-19 na nação asiática, segundo o site científico Outbreak.info.

Sistema de saúde entra em colapso

Imagens que mostram pacientes com Covid-19 dividindo macas em hospitais simbolizam a crise pela qual o sistema de saúde da Índia está passando com a falta de leitos, remédios e oxigênio. Nesta quarta-feira, 21, pelo menos 22 pacientes morreram em um hospital da cidade de Nashik, no estado de Maharashtra, após uma interrupção no fornecimento de O2. O caso levou o primeiro-ministro Narendra Modi a reconhecer que houve aumento na demanda por oxigênio e garantir que o governo está trabalhando “com rapidez e sensibilidade para garantir o produto a todos que precisam”. “A situação estava sob controle há algumas semanas e a segunda onda veio como um furacão”, tentou justificar. De fato, até meados de fevereiro a Índia registrava cerca de 10 mil casos diários de Covid-19. Porém, o governo está sendo acusado de ter “baixado a guarda” desde então, o que teria provocado o agravamento da situação epidemiológica.

O número de óbitos pela doença na Índia ficou em 2.074 nesta quarta-feira, 22, mas especialistas acreditam que a quantidade real deve ser ainda maior. Isso porque, de acordo com a imprensa local, várias cidades estão relatando mais cremações e enterros feitos sob os protocolos da Covid-19 do que mostram os registros oficiais. Em Nova Délhi, por exemplo, foi realizada uma cremação em massa devido ao alto número de vítimas do novo coronavírus. Até agora, a Índia mantém uma das menores taxas de letalidade da doença no mundo – a proporção é de 119 mortes a cada um milhão de habitantes -, apesar de ser o segundo país com mais casos acumulados do planeta.

Vacinação sim, lockdown não

Maior fabricante mundial de vacinas, a Índia já aplicou 77 milhões de doses desde o início de sua campanha de vacinação contra a Covid-19 em meados de janeiro. Isso faz com que o país possua o terceiro maior número absoluto do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos (161 milhões) e para a China (133 milhões). No entanto, a taxa de vacinação per capita ainda é baixa no segundo país mais populoso do mundo: são 5,51 doses a cada 100 habitantes, atrás da média mundial, que é de 8,33. Por esse motivo, o primeiro-ministro Narendra Modi está impedindo as exportações das vacinas de Oxford produzidas no Instituto Serum. O objetivo é garantir que as doses fabricadas ali sejam usadas para acelerar a campanha de imunização da própria Índia.

No entanto, o governo tem se recusado a adotar um lockdown nacional, visto que o do ano passado causou um forte impacto econômico. Por enquanto, apenas governos locais tem tomado medidas nesse sentido. A capital administrativa Nova Délhi impôs um toque de recolher nos finais de semana e determinou o fechamento de serviços não essenciais, como shoppings, restaurantes e academias. Já a capital financeira Mumbai, que é um dos epicentros da segunda onda, também determinou lockdown nos finais de semana e decidiu fechar alguns estabelecimentos públicos, além de ter proibido reuniões com mais de quatro pessoas.

Países fecham as suas fronteiras para a Índia

A Emirates, principal companhia dos Emirados Árabes, decidiu suspender todos os voos para a Índia a partir de domingo, 25. A medida deve valer pelo menos até o dia 4 de maio. A nação árabe definiu que a chegada de indianos por outras empresas aéreas só será permitida caso a pessoa em questão comprove que esteve em outro país por pelo menos 14 dias. No início da semana, o Reino Unido também já tinha anunciado que a partir da sexta-feira, 23, os indianos ficarão proibidos de entrar no território britânico.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.