Juiz argentino dá liberdade a acusado de abuso sexual por ter usado preservativo

Magistrado disse que tinha dúvidas sobre o depoimento da vítima e causou polêmica no país, recebendo muitas críticas

  • Por Jovem Pan
  • 03/06/2021 23h00
Wikipédia cidade de santa fe, na argentina Caso aconteceu na cidade de Santa Fe, na Argentina

Um juiz da cidade de Santa Fe, capital da província argentina de mesmo nome, concedeu liberdade a um indiciado por abuso sexual por ter utilizado preservativo, motivo pelo qual declarou falta de mérito na causa, informou a imprensa local nesta quinta-feira, 3. “Não consigo entender como vai ter relações sexuais forçadas, empurrando-a e submetendo-a, se tem tempo necessário… Não posso reconstruir a forma como ele coloca o preservativo e depois avança sobre o corpo da vítima, que, de acordo com o que está aqui, se recusou. É aqui que tenho a maior dúvida”, disse o magistrado Rodolfo Mingarini. De acordo com um vídeo divulgado pela justiça de Santa Fé e exibido pela imprensa, Mingarini fez estas declarações em audiência oral no dia 30 de maio, na qual libertou um homem acusado de abuso sexual.

O caso começou no final de abril, após uma mulher ter denunciado ao Ministério Público de Santa Fé que o pedreiro que trabalhava em uma construção próxima entrou em sua casa e abusou sexualmente dela. Durante o discurso, que gerou polêmica nas redes sociais e em movimentos feministas no país, o juiz rejeitou as provas do Ministério Público, que incluíam um relatório de peritos indicando que a mulher sofreu lesões compatíveis com abuso sexual e que temia pela sua integridade física. “Várias coisas podem ter acontecido. Pode ser que tenha começado como algo consensual (ou) que começou desde o início tentando forçá-la… O que não posso é relacionar e entrar na lógica de colocar o preservativo para esta relação quando ele está forçando a vítima. A verdade é que não o consigo entender”, disse o juiz.

Este vídeo foi divulgado no mesmo dia em que o movimento de ativistas feministas “Ni una menos” completou seis anos de luta contra a violência doméstica, a causa de 1.733 femicídios na Argentina desde 2015, de acordo com dados contabilizados por organizações sociais. A vereadora de Santa Fe, Laura Mondino, da Frente Progressiva Cívico-Social, apresentou nesta quinta-feira um projeto de repúdio ao juiz Mingarini na Câmara Municipal. “Em um dia tão sentido para o movimento feminista, hoje, sem marchas nas ruas, mas com a força de um grito que se repete dia após dia, associamo-nos à reivindicação da Mesa Ni Una Menos Santa Fe e sublinhamos o dever dos funcionários judiciais de garantir a nossa segurança e proteger os nossos direitos”, disse Mondino.

*Com informações da EFE

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