Kim Jong-un planeja encontro com Putin para discutir fornecimento de armas para a campanha militar de Moscou na Ucrânia

Kremlin não confirmou que os líderes devem se reunir; Casa Branca disse que a Rússia já mantinha conversas secretas com a Coreia do Norte para adquirir munições e suprimentos 

  • Por Jovem Pan
  • 05/09/2023 13h34 - Atualizado em 05/09/2023 13h51
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ALEXANDER ZEMLIANICHENKO / POOL / AFP putin e kim jong-un Presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, apertam as mãos enquanto posam para fotos antes de suas conversas no campus da Universidade Federal do Extremo Oriente, na ilha Russky, no porto de Vladivostok, no extremo leste da Rússia, em 25 de abril

Apesar dos russos não terem confirmado que Vladimir Putin vai se encontrar com o líder norte-coreano, Kim Jong-Un, os Estados Unidos afirmam que existem altas expectativas de que aconteça um ‘compromisso diplomático ao nível de líderes’ e que o chefe de Estado da Coreia do Norte pretende viajar ao exterior para um encontro bilateral com o russo. “Como advertimos publicamente, as negociações sobre armas entre a Rússia e a RDPC estão avançando ativamente”, disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, utilizando um acrônimo do nome oficial da Coreia do Norte. “Temos a informação de que Kim Jong Un espera que essas discussões continuem até incluir um compromisso diplomático ao nível de líderes na Rússia.” Segundo o jornal ‘The New York Times’, é provável que Kim, que raramente viaja para fora de seu país, visite este mês a cidade de Vladivostok, na costa russa do Pacífico, perto da fronteira com a Coreia do Norte, para se reunir com Putin. Ele utilizará um trem blindado, segundo fontes do jornal norte-americano. Além das visitas a Singapura e ao Vietnã em 2018 e 2019 para reuniões com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Kim Jong Un fez quatro visitas à China. Ele também se reuniu com Putin em Vladivostok em 2019.

“Não, não podemos (confirmar), não temos nada a dizer sobre o tema”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa. Na semana passada, a Casa Branca disse que a Rússia já mantinha conversas secretas com a Coreia do Norte para adquirir munições e suprimentos para a campanha militar de Moscou na Ucrânia. Um encontro entre os dois líderes aconteceria em meio a um momento de elevação das tensões nas relações, tanto entre as Coreias, como da Rússia com os Estados Unidos, que desde o início da guerra na Ucrânia viu os laços ficarem estreitos e delicados. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que, apesar de suas negativas, a Coreia do Norte forneceu, no ano passado, foguetes de infantaria e mísseis para a Rússia, que foram utilizados pelo grupo paramilitar Wagner. Watson também disse na segunda-feira que Washington instou os norte-coreanos “a cessarem suas negociações armamentísticas com a Rússia e a cumprirem os compromissos firmados por Pyongyang de não fornecer, nem vender armas para a Rússia”.

No mês passado, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, viajou para a Coreia do Norte com a intenção de adquirir mais munições para a guerra. Putin teria interesse em peças de artilharia e mísseis antitanque da Coreia do Norte e Kim poderia, inclusive, viajar a Moscou, mas isto é incerto. Shoigu afirmou que discutiria com a Coreia do Norte a possibilidade de organizar exercícios militares conjuntos. “Discutimos sobre isto com todo mundo, incluindo a Coreia do Norte. Por que não? Eles são nossos vizinhos”, disse o ministro, citado pela agência de notícias TASS. Segundo vários relatórios de inteligência, Kim busca tecnologia avançada para satélites e submarinos nucleares, além de ajuda alimentar para sua nação empobrecida. Um funcionário do Ministério da Unificação de Seul, responsável pelas relações entre as Coreias, afirmou que vários acontecimentos “indicam” a crescente possibilidade de um acordo sobre armas entre Pyongyang e Moscou. “Qualquer forma de cooperação entre a Coreia do Norte e os países vizinhos deve acontecer de uma maneira que não viole as normas internacionais e a paz”, disse. Para o governo dos Estados Unidos, os acordos “violariam as resoluções do Conselho de Segurança da ONU” contra o programa de armas de Pyongyang.

Aliança Rússia x Coreia do Norte

O apoio da Rússia, um aliado histórico de Pyongyang, foi crucial durante décadas para o país sair do isolamento. Mas, na década de 1980, quando quis reconciliar-se com a Coreia do Sul, a União Soviética reduziu o seu financiamento ao Norte. O fim da URSS foi um golpe duro para Pyongyang. A Federação Russa e a Coreia do Norte realizaram a sua primeira cúpula em 2000, quando assinaram uma declaração conjunta sobre cooperação econômica e trocas diplomáticas. A assinatura do acordo entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o falecido Kim Jong Il, pai e antecessor do atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, estabeleceu um marco na revitalização das relações bilaterais. Kim Jong Un fez a sua primeira visita oficial à Rússia em 2019, quando procurava estreitar laços com o seu aliado tradicional, em meio à crise com Washington sobre armas nucleares.

Não houve declaração conjunta naquela ocasião. Kim tem sido firme no seu apoio à invasão russa da Ucrânia e, segundo os Estados Unidos, forneceu foguetes e mísseis a Moscou. Putin elogiou o “apoio constante de Pyongyang às operações militares especiais contra a Ucrânia” em julho. Estados Unidos, Reino Unido, Coreia do Sul e Japão afirmaram na semana passada, nas Nações Unidas, que qualquer acordo para aumentar a cooperação entre Rússia e Coreia do Norte violaria as resoluções do Conselho de Segurança, que proíbem acordos de armas com Pyongyang – resoluções que foram endossadas por Moscou.

*Com informações da AFP

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