No Camarões, homens armados entram em escola e matam crianças

O ataque relembrou o mundo da existência de conflitos separatistas no país africano, que possui uma minoria de língua inglesa que se sente marginalizada do restante da nação

  • Por Bárbara Ligero
  • 27/10/2020 15h06
OCHA/Giles Clarke O fato das escolas serem alvo dos grupos separatistas já fizeram com que muitos jovens abandonassem o ensino

No último sábado (24), uma dezena de homens armados mataram pelo menos sete crianças entre 9 e 12 anos que estavam dentro de suas salas de aula em Kumba, na região de língua inglesa do Camarões. Outras doze crianças foram feridas por tiros ou cortes com facões e estão sendo tratadas em hospitais da região, algumas à beira da morte. Alguns menores de idade também chegaram a receber o atendimento de uma equipe da ONG Médico Sem Fronteiras. O governo declarou que o ataque foi realizado por “bandos terroristas”, que chegaram na Academia Internacional Bilíngue Madre Francista em motocicletas.

É muito provável que esse seja mais um desdobramento do conflito que dura há mais de três anos no Camarões. O país, majoritariamente de língua francesa, possui uma minoria nas regiões noroeste e sudoeste que fala inglês e se considera marginalizada. O problema tem origem em 1961, após a unificação do Camarões francês e britânico. As escolas já foram alvo desses grupos separatistas no passado, o que levou centenas de milhares de jovens a abandonarem a sua educação.

Desde o ataque em Kumba, mais de 35 organizações relacionadas aos direitos humanos participaram de um abaixo-assinado pedindo o cessar-jogo no país. O presidente da Comissão da União Africana expressou o seu repúdio ao evento através do seu perfil oficial no Twitter. “Não há palavras de pesar ou condenação fortes o suficiente para articular meu horror total ao ataque brutal que alvejou crianças do ensino fundamental”, escreveu. O coordenador da ONU no Camarões, Matthias Naab, também condenou o ataque em um comunicado oficial. “As crianças têm direito à educação. A violência contra escolas e crianças inocentes em idade escolar não é aceitável em nenhuma circunstância e pode constituir um crime contra a humanidade se for provado em um tribunal de justiça”, afirmou.

A tragédia em Camarões foi o primeiro de outros três ataques que vitimizaram crianças nos últimos dias. Também no sábado (24), um ataque suicida em Cabul, capital do Afeganistão, deixou 18 mortos e 57 feridos. Como a explosão do homem-bomba aconteceu perto de um centro educacional, a maior parte das vítimas eram estudantes. Nesta terça-feira (27), uma escola também foi alvo de um ataque em Peshawar, no Paquistão. Explosivos escondidos dentro de um saco plástico foram levados por uma pessoa ainda não identificada para dentro da instituição de ensino muçulmana. A explosão aconteceu durante uma aula sobre o Alcorão.

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