Presidente da Tanzânia que nega existência da Covid-19 teria contraído a doença
Há 17 dias sem fazer nenhuma aparição pública, John Magufuli estaria no Quênia para receber tratamento hospitalar; governo se limita a dizer que ele está ‘indisposto’
Alguns países do mundo se recusaram a divulgar estatísticas relacionadas à pandemia do novo coronavírus ou compartilharam números maquiados que não correspondem à realidade. Porém, nenhum mandatário demonstrou um negacionismo maior do que o presidente da Tanzânia, John Magufuli. Além de afirmar que não houve mais nenhum caso de Covid-19 em seu território desde junho de 2020, ele se recusa a sequer receber vacinas contra a Covid-19, zomba da eficácia das máscaras de proteção individual e duvida dos testes que detectam a presença do Sars-Cov-2 no organismo, apesar de não apresentar nenhuma evidência científica que dê embasamento às suas afirmações.
A ironia é que, como John Magufuli está sem aparecer em público desde o fim de fevereiro, os principais rumores indicam que o presidente de 61 anos de idade foi infectado pelo novo coronavírus e está recebendo tratamento para a doença no exterior. Em entrevista à BBC da África, o líder da oposição Tundu Lissu disse que foi informado pelas suas fontes que o presidente da Tanzânia sofreu uma parada cardíaca em consequência da Covid-19 e foi levado a um hospital de Nairóbi, capital do Quênia, onde está em estado crítico desde o último dia 8. Além disso, o ministro das Finanças, Philip Mpango, de 53 anos, também teria contraído o novo coronavírus e estaria sendo tratado no mesmo hospital queniano.
Nesta terça-feira, 16, a vice-presidente Samia Suluhu Hassan admitiu que o presidente John Magufuli estaria indisposto e pediu orações. “É bastante normal que o corpo de uma pessoa fique indisposto e contraia gripe ou desenvolva febre… Este é o momento para os tanzanianos se unirem por meio de orações”, afirmou. No entanto, ela também alertou contra os rumores sobre a saúde do chefe de governo. “A maioria dos boatos que você ouve não tem origem na Tanzânia. Eles vêm de fora do país. Eu peço que vocês os ignorem”, completou. De acordo com a imprensa local, uma pessoa foi presa por circular mensagens sobre John Magufuli supostamente estar com Covid-19.
Na ausência de dados oficiais desde maio de 2020, não há como saber a verdadeira extensão da pandemia do novo coronavírus na Tanzânia, mas nas últimas semanas tem havido preocupações crescentes sobre um aumento nos casos de doenças que estão sendo chamadas apenas de “pneumonias”. Desde fevereiro, líderes da Igreja Católica se posicionam contra o presidente alertando que o surto do novo coronavírus continua existindo. “Não sejamos inconsequentes, nós temos que nos proteger, lavar as mãos com sabão e água. Nós também temos que voltar a usar máscaras”, pediu o bispo de Dar Es Salaam, Yuda Thadei Ruwaichi.
A ministra da Saúde, Dorothy Gwajima, contribuiu para a desinformação da população nos últimos meses ao dizer que um método que pode ajudar a se prevenir da doença é tomar uma bebida à base de gengibre, cebola, limão e pimenta. “Precisamos melhorar nossa higiene pessoal, lavar as mãos com água corrente e sabão, usar lenços, vapor de ervas, fazer exercícios, comer alimentos nutritivos, beber muita água e usar remédios naturais que a nossa nação é dotada”, acrescentou. Tudo isso, segundo ela, não porque o novo coronavírus ainda está no país, mas sim porque a Covid-19 está se alastrando pelas nações vizinhas.
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