Prolongamento da guerra deixa Israel vulnerável e à beira do isolamento

Comunidade internacional tem feito fortes críticas e pressões ao governo de Netanyahu; EUA, principais aliados do país, deixaram claro que apoio contínuo dependerá das ações para proteger os civis em Gaza

  • Por Sarah Américo
  • 06/04/2024 21h00
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EFE/EPA/ABIR Bombaerdeio em Gaza Fumaça sobe da Faixa de Gaza após os ataques aéreos israelenses

No domingo (7), o conflito no Oriente Médio completa seis meses. A situação na região que já vinha escalando desde que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro de 2023, ficou ainda mais tensa nesta semana depois dos ataques contra o Consulado no Irã na Síria, e a morte de trabalhadores humanitários que atuavam na Faixa de Gaza, auxiliando as pessoas que sofrem as consequências da guerra e vivem uma crise humanitária. Esses episódios aumentaram a pressão sobre Israel e o governo de Benjamin Netanyahu, que já vinham sedo criticados pela comunidade internacional devido às mortes no enclave palestino – são mais de 30 mil e a maioria mulheres e crianças -, a proibição na entrada de ajuda humanitária – as pessoas estão morrendo de fome em Gaza – e os bombardeios incessantes.

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Nesses últimos dias, Israel sofreu, podemos dizer, duas derrotas. A primeira delas foi a aprovação no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) de uma resolução que pede um cessar-fogo imediato. Os Estados Unidos, principal aliado dos israelenses, se abstiveram do voto, o que possibilitou a aprovação do projeto. Contudo, uma semana antes, eles mesmos, pela primeira vez desde que o conflito começou, já tinham apresentado uma resolução com um pedido de cessar-fogo. Algo que foi negado, porque Rússia e China, membros permanentes do Conselho, foram contra. Outro revés que Netanyahu sentiu foi que, os EUA, deram a entender após os episódios desta semana, que podem deixar seguir caminhos opostos a Israel, apesar de terem dito que seu apoio ao país é ‘inabalável’.

Em conversa com Netanyahu, o presidente norte-americano, Joe Biden, disse que o apoio contínuo dos Estados Unidos dependerá das ações de Israel para proteger os civis de Gaza, e instou um “cessar-fogo imediato” no território palestino. O norte-americano deixou claro que a “política americana com relação à Gaza será determinada por nossa avaliação da ação imediata de Israel sobre estes passos”, acrescentou. Em entrevista ao Portal Jovem Pan, a doutora em relações internacionais e coordenadora de projeto no Instituto Brasil-Israel, Karina Calandrin, fala que a situação está ficando cada vez pior para Israel. “Todo o cenário fica cada vez mais complicado para Israel conforme a guerra vai se alongando e mais atos como esses que aconteceram continuaram a ocorrer”, fala a professora, que também destaca que Israel tem perdido a guerra de narrativas para o Hamas.

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“Israel é um país consolidado e soberano com poder militar e econômico. Ele tem poder de guerra e consegue causar a destruição que tem provocado. Do outro lado, o Hamas aparece como um lado mais fraco do ponto de vista militar, do ponto de vista econômico”, explica Calandrin, destacando que isso tem feito com que a comunidade internacional se vire contra Israel, e não o apoiem mais no que diz respeito a “tem o direito de se defender”.  Helena Gharem, analista internacional especializada em Oriente Médio, relembra que no começo Israel tinha bastante apoio internacional, contudo foi perdendo no decorrer da escalada do conflito e as razões que explicam isso são: “a formo como Netanyahu está lidando com a situação ou deixando de lidar, os ataques que foram intensificados e também as questões humanitárias”.

Para ela, essa guerra que se trata mais do que um conflito bélico, também é uma guerra de narrativas, faz com que o vencedor seja aquele que conseguiu contar a melhor história no final. “É o que a gente vai ver aqui nos próximos momentos”, fala. Helena acredita que não deve haver uma solução diplomática para a guerra entre Hamas e Israel, e a única forma disso acabar, é quando “um dos dois lados esteja completamente destruído”, diz, mas destaca que a destruição de Israel nunca será possível. “Tem tantas incógnitas e tantas possibilidades que essa guerra terminar eu genuinamente não vejo. É acontecer isso de uma forma diplomática, nem de uma forma pacífica. Eu só consigo ver esse conflito terminar de uma forma muito catastrófica” fala.

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Calandrin já vê diferente. Ela acredita que a pressão internacional e interna – os israelenses têm protestado contra Netanyahu, principalmente os parentes dos sequestrados – são capazes de levar ao fim da guerra. “Todo esse conjunto de pressão pode levar a queda do governo”, fala. Mas enfatiza que, apesar de haver uma pressão muito grande sobre Netanyahu neste momento e seu ministro de guerra, Benny Gantz, ter proposto antecipação das eleições, o primeiro-ministro ainda tem maioria no Congresso, então Netanyahu só aceitaria uma proposta que fosse benéfica para ele. “A partir do momento que o governo cair, Netanyahu deve encerrar sua carreira política, porque ele tá com uma popularidade muito baixa e corre a risco de ser preso por casos de corrupção nos quais ele é réu”, relembra Calandrin. “Então, há um interesse daqueles que estão com ele de manter essa posição dentro do governo, com os interesses próprios. Porque ele sabe que, se o governo cair, ele perde a carreira política”, completa a especialista.

Helena Gharem destaca que Netanyahu ainda consegue manter parte do seu poder, contudo ele já e bem considerado porque ele jé entrou na guerra com instabilidade política, muito por causa da reforma política que ele aprovou em Israel que gerou uma onda contínua de manifestações, que só foram ‘pausadas’ devido ao início da guerra. Apesar de acreditar que a popularidade de Netanyahu não tem mais volta, a professora destaca que se ele conseguir “trazer os sequestrados de volta, acabar com a guerra e com o Hamas”, talvez ele consiga mudar a visão da população sobre ele.

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