Reino Unido deixa oficialmente a União Europeia
Depois de discussões, disputas intensas, referendo e trocas de primeiros-ministros, o Reino Unido deixa a União Europeia com direito a contagem regressiva em Downing Street
Após uma contagem regressiva exibida em Londres, diante da casa do primeiro-ministro Boris Johnson, no nº 10 de Downing Street, o Reino Unido deixou oficialmente a União Europeia (UE) na noite desta sexta-feira (31). Às 22h (hora local – 20h em Brasília), os britânicos puderam comemorar e se despedir da UE.
O processo até a saída foi longo e a trajetória envolveu disputas intensas, referendo, trocas de primeiros-ministros e tentativas de acordo frustadas, porém o Partido Conservador obteve maioria suficiente para encaminhar o acerto em dezembro e, finalmente, consolidar o abandono da UE.
A saída foi aprovada pelo Parlamento Europeu na última quarta e, com isso, o Reino Unido deixa de ser integrante do bloco que congrega agora 27 países. Uma curta cerimônia também marcou a retirada da bandeira do país da sede da UE, em Bruxelas, na Bélgica.
Mesmo com a saída, o bloco e o Reino Unido ainda devem discutir, até dezembro deste ano, os termos da relação diplomática que será estabelecida, das relações econômicas, além das regras de circulação de cidadãos, condições de moradia e trabalho, tarifas e exigências e a comercialização de bens e serviços.
A Irlanda, no entanto, permanece no bloco, mas a Inglaterra, o País de Gales, a Irlanda do Norte e a Escócia, que formam o Reino Unido, deixaram a UE nesta sexta. Nas redes sociais, os britânicos comemoram a saída e, em Londres, milhares de pessoas se reuniram na na praça do Parlamento, em Westminster, para celebrar o fim do processo que durou 4 anos.
Em discurso publicado nas redes sociais, o primeiro-ministro Boris Johnson, que sai vitorioso das negociações que culminaram no Brexit, afirmou que a saída do Reino Unido da UE “não é um fim, mas um começo”. “O que tenho de mais importante para dizer nesta noite é que o isso [saída da UE] não é um fim, mas um começo. Esse é o momento que as cortinas se levantam para um novo ato em nosso grande drama nacional”, afirmou.
🇬🇧 A Very Happy Brexit Day! 🇬🇧
Please come and join us in Parliament Square tonight to celebrate this historic moment!
Or, if you're unable to make it, stay tuned to watch the livestream here from 9pm until Brexit! pic.twitter.com/ipghFUs4gn
— The Brexit Party (@brexitparty_uk) January 31, 2020
Entenda como se deu o Brexit:
2016
O país se dividiu em uma intensa disputa com a realização do referendo sobre a proposta de Brexit. De um lado, conservadores argumentavam que a saída redirecionaria recursos repassados à UE para o Reino Unido e impediria a entrada de imigrantes. De outro lado, forças políticas favoráveis à permanência defendiam que esta trazia benefícios tanto nas relações econômicas com outros países quanto por meio de programas regionais que auxiliavam cidadãos e produtores.
O referendo foi concluído com vitória apertada do Brexit, por 52% a 48%, em um pleito que teve a maior taxa de participação desde 1992, com 72% dos britânicos indo às urnas. O então primeiro-ministro, David Cameron, renunciou em seguida. Em julho, o Partido Conservador indicou Theresa May para o posto de Cameron. A ela foi incumbida a tarefa de conduzir as negociações para a concretização da saída, com prazo de gestão até 2020. Boris Johnson foi indicado para o posto de principal diplomata.
2017
A Suprema Corte do país define que o processo do Brexit precisa passar pelo Parlamento, confirmando decisão tomada no fim do ano anterior. Em março, a primeira-ministra Theresa May envia carta ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disparando o período de dois anos de contagem regressiva para a conclusão do Brexit, que deveria ser finalizado até março de 2019.
Em abril, Theresa May convoca novas eleições para junho. A aposta era tentar construir maioria para concluir as negociações com a UE. No pleito, os conservadores perdem a maioria no Parlamento. O partido é forçado a costurar um acordo com uma legenda da Irlanda do Norte para constituir um novo governo, acerto que é ratificado pela Rainha Elizabeth II.
Em julho, as negociações começam oficialmente. Os principais pontos giravam em torno da multa a ser paga pelo Reino Unido por conta da saída da UE, as regras de comércio e circulação pós-saída e a situação da fronteira entre a Irlanda, que continuaria no bloco, e a Irlanda do Norte, que sairia juntamente com o Reino Unido.
2018
As negociações avançam nos primeiros meses, após o Reino Unido ceder em parte dos pontos mais polêmicos. Em março um esboço do acordo é publicado, mas ainda com diversos itens sem consenso. Em julho, May publica uma proposta de “Brexit leve”, com formas de parceria com a UE. Diversos ministros, entre eles, Boris Johson, renunciam, em protesto.
Em novembro, a União Europeia aprova acordo de saída do Reino Unido, abrindo caminho para efetivar o Brexit. O documento abordava como seriam as relações entre o país e o bloco após a conclusão do processo, a multa a ser paga, condições relativas à fronteira da Irlanda (uma vez que o país continuaria membro da UE).
2019
No início do ano, May coloca em votação no Parlamento uma proposta de acordo, mas é derrotada. Ela tenta novos arranjos, uma espécie de “plano B”. Em março, uma nova proposta é submetida à votação, sendo novamente derrotada. Em nova tentativa, o Parlamento rejeita pela terceira vez a minuta de acordo submetida por May.
Em maio, May apresenta outro modelo de acordo de retirada, mas a proposta é rejeitada tanto pela oposição quanto pelos membros do próprio partido conservador. Diante das derrotas, a primeira-ministra renuncia ao posto. Em julho, Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, ex-diplomata de destaque na gestão de May e um dos cabos eleitorais mais notáveis da campanha do Brexit, é escolhido primeiro-ministro. O plano era aprovar o Brexit até 31 de outubro.
Johnson tenta uma manobra para encaminhar a proposta. Ele solicita à rainha a suspensão do Parlamento, sendo atendido, e tenta votar o acordo durante este período, mas é barrado pelos parlamentares, que desmontam a movimentação. Um novo prazo é estabelecido para o dia 31 de janeiro. Diante de uma margem apertada no Legislativo, Johnson faz uma aposta de risco e convoca novas eleições para o fim do ano.
O primeiro-ministro sai vitorioso no pleito, ganhando mais do que os 326 lugares no Parlamento necessários à maioria para viabilizar o acordo. Foi uma larga vitória para os conservadores e uma grande derrota para os trabalhistas. Líder da oposição, Jeremy Corbyn anuncia, em seguida, sua renúncia. E, na noite desta sexta, o Brexit chega ao fim com a saída do Reino Unido da UE.
The Union Jack is removed from the European Council building in Brussels.
Britain leaves the European Union at 11pm this evening. pic.twitter.com/pyB0UWDj6G
— Channel 4 News (@Channel4News) January 31, 2020
*Com informações da Agência Brasil
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