Estudo indica que remédio ainda em testes pode bloquear efeitos do Covid

Pesquisadores utilizaram mini-rins desenvolvidos a partir de células estaminais humanas geradas em laboratório

  • Por Jovem Pan
  • 02/04/2020 20h49 - Atualizado em 02/04/2020 20h50
Pixabay Mulher manuseando equipamentos do setor químico Para infectar uma célula, os coronavírus utilizam uma proteína, chamada S, que se une a um receptor das células humanas chamado ACE2

Um estudo que contou com a participação de pesquisadores de vários países identificou um fármaco em fase clínica de testes — o hrsACE2 (ACE2 humano solúvel recombinante) — que bloqueia os efeitos do Covid-19 no início da infecção pelo novo coronavírus.

Uma equipe do Instituto de Bioengenharia da Catalunha (Ibec) na Espanha, liderada por Núria Montserrat, conseguiu decifrar como o Sars-CoV-2 interage e infecta células renais humanas. A partir daí, detectou o potencial do fármaco, segundo o estudo publicado nesta quinta-feira (2) na revista científica Cell.

Para realizar os testes, os pesquisadores utilizaram mini-rins desenvolvidos a partir de células estaminais humanas geradas no Ibec pela equipe de Montserrat. Os organoides, criados por técnicas de bioengenharia, capturam a complexidade do órgão real, o que permitiu aos especialistas decifrar como o vírus infecta as células renais humanas, assim como identificar uma terapia destinada a reduzir a carga viral.

O estudo contou também com a participação de pesquisadores do Instituto Karolinska, da Suécia, do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia Austríaca das Ciências e do Instituto de Ciências da Vida (LSI) da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.

“A utilização de organoides humanos nos permite testar muito rapidamente tratamentos que já estão sendo utilizados para outras doenças ou que estão prestes a ser validados. Nesta época de pressão de tempo, essas estruturas 3D poupam drasticamente o tempo que passaríamos analisando um novo medicamento em humanos”, explicou Montserrat.

Outras publicações

Publicações recentes mostraram que, para infectar uma célula, os coronavírus utilizam uma proteína, chamada S, que se une a um receptor das células humanas chamado ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2). Considerando que esta ligação foi identificada como uma porta de entrada do vírus no organismo, evitá-la seria um alvo terapêutico potencial.

Seguindo esta estratégia, os pesquisadores se concentraram em compreender o papel do receptor ACE2 nos organoides humanos, porque imitam muitas das características dos órgãos reais em poucos milímetros, e assim torna-se possível analisar como o vírus pode infectar os vasos sanguíneos e os rins.

O receptor ACE2 é encontrado não só nos pulmões, mas também no coração, nos vasos sanguíneos, no intestino e nos rins, o que explicaria a disfunção multiorgânica observada em doentes infectados com Sars-CoV-2, de acordo com Montserrat.

O fato desse receptor atuar fortemente nos rins, e de o Sars-CoV-2 também ser encontrado na urina, foi o que levou esta equipe de pesquisadores a utilizar os organoides renais como modelo para os testes.

Como foi feita a pesquisa

Em primeiro lugar, os especialistas mostraram que os organoides renais continham grupos de células que exprimem a ACE2 de forma semelhante aos tecidos humanos e, em seguida, infectaram-na com o coronavírus.

Com os mini-rins infectados, os pesquisadores aplicaram terapias diferentes e concluíram que o hrsACE2 (ACE2 humano solúvel recombinante), um fármaco que já passou pelas fases 1 (em voluntários saudáveis) e 2 (em pacientes com síndrome de dificuldade respiratória aguda) dos testes clínicos, inibe significativamente as infecções pelo coronavírus e reduz sua carga viral.

“Estas descobertas são promissoras como tratamento capaz de travar a infecção precoce deste novo coronavírus”, disse Montserrat, que também destacou a importância das técnicas de bioengenharia para a medicina do futuro.

* Com EFE

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