Renúncia do primeiro-ministro do Líbano gera protestos no país e apreensão internacional
Segundo Saad Hariri, desentendimentos com presidente Michael Aoun fizeram com que ele desistisse do cargo; demissão marca mais um obstáculo na formação de novo governo
O primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri, anunciou nesta quinta-feira, 15, que deixaria o seu cargo após tentar por oito meses formar um governo para o país, afundado em uma crise política. A demissão de Hariri foi anunciada após uma rápida reunião com o presidente Michael Aoun. Na saída do Palácio de Baabda, ele conversou com jornalistas e narrou desentendimentos com o presidente como uma das motivações. “Aoun demandou algumas emendas que ele considera essenciais e eu disse que nós não seríamos capazes de entrar em um acordo em comum. Que Deus salve este país”, disse. Em um posicionamento oficial, por sua vez, o presidente acusou o primeiro-ministro de já ter decidido se aposentar antes da reunião. “Ele rejeitou qualquer emenda relativa a mudanças em ministérios, na distribuição de secretários e nos nomes ligados a ele”, afirmou a nota.
Pouco após o anúncio de Hariri, manifestantes a favor do partido do ex-primeiro-ministro, que é muçulmano e sunita, como a tradição do país exige, tomaram as ruas de Beirute para protestar contra o presidente, bloqueando vias e queimando pneus. Segundo o canal Al Jazeera, dezenas de pessoas entraram em confronto com soldados, que dispararam balas de borracha para dispersar os protestos. O anúncio também causou um alto impacto na moeda local, que nos últimos meses chegou a perder 90% do seu valor. As estimativas são de que cerca de metade da população tenha mergulhado na pobreza com inflação crescida em mais de 400%.
A decisão do primeiro-ministro gerou reação internacional. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que a demissão foi decepcionante para os libaneses e criticou o “desperdício” da política local nos últimos meses. “A economia está em queda livre e o governo atual não consegue prover serviços básicos de forma básica. Líderes em Beirute devem colocar diferenças partidárias de lado imediatamente e formar um governo que sirva ao povo”, afirmou. O ministro de Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, também comentou sobre a escolha de Hariri e destacou que a classe política deve ser responsabilizada pela situação de destruição que enfrentam. “Parecem ser incapazes de encontrar uma solução para uma crise criada por eles mesmos”, pontuou. O país está sem um governo oficial há quase um ano, já que os representantes políticos anteriores renunciaram em 2020, logo após a explosão que deixou centenas de mortos no Porto de Beirute.
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