O livro de Xi Jinping, a última arma do Facebook para entrar na China
Adrià Calatayud.
Pequim, 16 dez (EFE).- “A governança e a administração da China”, um livro que reúne discursos e entrevistas do presidente Xi Jinping, se transformou na última arma do Facebook para romper a censura sofrida desde 2009 no país.
Com cerca de 650 milhões de internautas (metade de sua população total), a China é um mercado muito atraente para a rede social. Por isso, o presidente e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, tem se proposto a fazer amigos nas altas esferas da sociedade chinesa para tentar expandir seu negócio.
Sua enésima tentativa foi revelada em uma recente visita do ministro da Administração do Ciberespaço da China, Lu Wei, responsável por controlar a internet no país.
O ministro viu um exemplar em inglês do livro do presidente chinês em cima da escrivaninha de Zuckerberg. Quando perguntado sobre isso, o empresário americano respondeu que tinha recomendado a leitura para os funcionários do Facebook. O objetivo era que todos entendessem as características chinesas do socialismo.
O momento foi captado por um fotógrafo e, desde que a imagem foi divulgada na segunda-feira da semana passada por um portal oficial do governo chinês, o “china.com.cn”, acabou republicada em outros veículos de comunicação tanto na China como nos Estados Unidos.
Uns criticaram o criador do Facebook pelo interesse na compilação de discursos e entrevistas de Xi. Outros garantem que sua intenção é apenas se aproximar das autoridades da segunda economia do mundo para que os bloqueios à rede social sejam retirados.
Em todo caso, se o que Zuckerberg pretendia era ganhar a atenção da imprensa oficial chinesa, ele está conseguindo.
O “Global Times”, um dos jornais oficiais do país, mostrou nesta semana sua satisfação pela recomendação feita aos trabalhadores do Facebook por Zuckerberg.
No editorial da última quarta-feira, o jornal disse que o empresário americano é apenas um dos representantes de um grupo de elites ocidentais que estão lendo esse livro e que têm interesse em entender a filosofia dos líderes chineses.
Na realidade, o fundador da rede social está há algum tempo tentando derrubar a proibição imposta pelo regime comunista ao Facebook. A censura – que também atinge o Twitter e o YouTube – ocorreu após os conflitos ocorridos na região autônoma de Xinjiang, no noroeste do país, em julho de 2009. Pequim culpa as redes sociais pelo incidente.
Desde 2007, a empresa americana tem registrado o domínio “Facebook.cn”, mas a maioria dos usuários do país asiático não conseguem acessá-lo exatamente por causa da censura, chamada de “Grande Muralha Virtual”.
Poucos internautas chineses conseguem furar o bloqueio, graças a ferramentas como os servidores de VPN, que permitem ocultar o endereço de IP e navegar como se estivessem em outro país.
Analistas dizem que o Facebook tem duas opções para aterrissar com garantias na segunda maior economia do mundo: estabelecer uma empresa mista com uma firma local ou adquirir o capital de uma companhia chinesa.
Zuckerberg já trabalha nessas estratégias. Ele tem visitado à China com relativa frequência para buscar novos negócios e estudar colaborações com empresas locais.
Entre 2010 e 2011, foi especulada uma possível aliança entre Facebook e Baidu, maior site de buscas chinês, mas não houve acordo.
Decidido a reverter a situação, Zuckerberg optou agora por ganhar a simpatia dos chineses e seus dirigentes políticos.
Primeiro, surpreendeu a todos ao falar mandarim durante uma conferência realizada no final de outubro na Universidade de Tsinghua de Pequim, um gesto aplaudido pelos internautas chineses.
Agora, recomenda publicamente o livro de Xi, a espera do fim da censura do Facebook no país, querendo que os atuais 1,3 bilhão de usuários da rede possam adicionar alguns amigos a mais da China. EFE
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