A grande briga pelo governo de São Paulo será entre o PSDB e a minha candidatura, diz Arthur do Val
Deputado estadual se destacou na última eleição para a capital paulista ao conquistar quase 10% dos votos sem fundo eleitoral e tempo de propaganda
Há mais de ano, o deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (Podemos), conhecido nas plataformas digitais como “Mamãe Falei“, por causa de seu canal no YouTube, afirma sua pré-candidatura ao governo do Estado. Eleito em 2018 pelo Democratas e com apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo do qual é membro, Do Val mudou de partido duas vezes. A primeira em 2020, quando chegou ao Patriota, partido ao qual também era filiado o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro, até o final de 2021. No mesmo ano, fez 9,78% dos votos na capital paulista na disputa pela prefeitura. Lavajatista, em janeiro de 2022, Do Val trocou de legenda novamente, filiando-se ao Podemos, que atualmente tem o ex-juiz Sergio Moro como pré-candidato à Presidência da República. Com o apoio de quem já foi considerado herói nacional, o deputado mantém sua pré-candidatura ao Palácio dos Bandeirantes e diz acreditar que a disputa será protagonizada por ele e Rodrigo Garcia, atual vice-governador, do PSDB. Em entrevista exclusiva, Do Val ainda comentou sobre suas bandeiras para o Estado, sua ligação com o MBL, as movimentações políticas mais recentes e a disputa pela Presidência da República.
Quais as suas principais bandeiras para o governo de São Paulo?
Em primeiro lugar, a reforma mais importante a ser feita: a revisão do pacto federativo. Salvar São Paulo é salvar o Brasil. Hoje, a gente tem um pacto federativo que arranca de São Paulo 90% dos nossos recursos. A cada R$ 11 que a gente arrecada, apenas R$ 1 fica com a gente e R$ 10 vão para a União, para “Lulas e Bolsonaros” distribuírem mal o nosso dinheiro. Além disso, se cria um incentivo nefasto para outros governadores não fazerem as suas lições de casa. Quanto piores os índices de um Estado — em segurança, educação, saúde —, mais dinheiro da União ele recebe. Isso é um incentivo muito fácil, isso é horroroso. Nós precisamos de uma revisão do pacto federativo em São Paulo, que é responsável por 37% de toda arrecadação do Brasil, para ter seus servidores, o Estado, bem atendido.
Já em termos de governo administrativo, o primeiro grande programa que nós precisamos fazer é um grande programa de habitação. O maior problema social de São Paulo é a habitação. Não podemos ter uma arrecadação de primeiro mundo, como a gente tem, e ver mais de 3,5 milhões de famílias morando nas ruas ou em locais inadequados, haja vista o deslizamento que nós tivemos agora em Franco da Rocha. Todo começo de ano é a mesma coisa: enchente, alagamentos, mortes. A gente tem um crescimento absurdo das cidades, de uma forma geral, nas regiões mais periféricas, o que é um absurdo. A gente não consegue nem levar infraestrutura física, de saneamento básico, que dirá infraestrutura social de educação, saúde, segurança, cultura.
Além disso, tem ainda uma outra consequência desse problema, que é a estruturação do crime organizado, o PCC. Ele é muito forte, não somente no tráfico de drogas, mas também, entre aspas, suprindo essa demanda por habitação, muitas vezes inclusive em áreas de preservação ambiental, colocando famílias para dentro de casas, onde têm as suas vidas em risco por conta de habitações inadequadas, aliciando os jovens para o tráfico de drogas. Enquanto isso, nós temos um governador, não só esse, mas todos os outros [que já tivemos], que só pensa em ser presidente. Então, não falam de planejamento, de infraestrutura, de habitação, de reforma do pacto federativo, porque não querem magoar o eleitorado Brasil afora. O que a gente pretende, se a gente chegar lá [no Palácio dos Bandeirantes], é fazer algo completamente disruptivo, transformar água em vinho. Nós vamos mudar completamente as direções que São Paulo vem tomando nos últimos 30 anos.
Há algumas pré-candidaturas ao Palácio dos Bandeirantes já colocadas, tanto à direita quanto à esquerda. Há também incertezas, como a de Geraldo Alckmin. Que análise o senhor faz do cenário que se desenha para as eleições paulistas e como pretende enfrentar os favoritos nas pesquisas?
A grande briga, o que eu acredito que será a grande briga, vai ser entre o PSDB e eu. O PSDB vem com o Rodrigo Garcia, com máquina, já está comprando perfeitos, lideranças do Estado, como o PSDB sempre fez. O PSDB domina o Estado de São Paulo há décadas fazendo a coisa mais velha que tem na política, que é aumentar impostos. Tem que lembrar que o PSDB aumentou o ICMS no meio da pandemia para fazer obra eleitoreira em véspera de eleição. E eu, com uma candidatura completamente disruptiva, com esse discurso, inclusive, de revisão do pacto federativo, justamente para tirar da mão dos governadores esse poder orçamentário de ficar comprando prefeitos. Então, eu acho que a grande briga está aí, entre o PSDB e a minha candidatura.
Eu acho que Alckmin não vai se lançar ao governo e vai entrar como vice de Lula [à presidência da República]. E mesmo que ele não fosse, agora já era! Essa sinalização que ele deu para o país e para São Paulo, de ele cogitar uma aliança com o Lula, e a gente sabe que não é que ele cogitou, isso vai acontecer, mostrou quem ele é. Isso mostra também muito da história do nosso Estado. Por anos, a gente comprou gato por lebre, a gente achou que o PSDB era alternativa à direita do PT, e hoje a gente vê que não. Eu vejo uma chance histórica nesta eleição para a gente finalmente vencer o PSDB.
Na esquerda, a gente tem basicamente três candidaturas. A do PT vai vir forte por conta do apoio do Lula. Mas eu acredito que não seja favorita, porque o Estado de São Paulo nunca deu forças para a esquerda. E é uma candidatura que vai dividir votos com o Boulos, que vem com uma volta ainda mais à esquerda, mais identitária, menos pragmática, e com o Márcio França, que está meio perdido nesse jogo. Quem estiver na esquerda está complicado.
No que se chama de direita bolsonarista, nós temos dois candidatos. Parece que o [Abraham] Weintraub vai querer vir. Ele é o bolsonarista sem Bolsonaro. O cara está ferrado. Ele pagou todos os pedágios ideológicos desse governo, passou vergonha e, agora, o Bolsonaro deu um belo de “um forte abraço, aí, campeão” e vai apoiar outro. Tem o Tarcísio [de Freitas], que está muito claro o que acontece, ele é um carioca que nunca morreu em São Paulo, ele não sabe nem onde é Jundiaí. E foi o ministro da Infraestrutura da Dilma, foi o ministro do PAC. A gente esquece disso. A candidatura do Tarcísio para mim é muito nítida: se você quer que a família Bolsonaro mande em São Paulo, vote nele. Se você quer o Carluxo, o Flávio Bolsonaro mandando em São Paulo, eis a candidatura bolsonarista. Está aí o Tarcísio para cumprir esse papel.
O senhor já se coloca como pré-candidato ao governo de São Paulo há bastante tempo. Por que a mudança de partido? Não houve respaldo para a candidatura no Patriota?
Não. Na verdade, a gente tem um carinho muito grande, um contato muito bom com Patriota, sempre tivemos uma relação muito boa. O que acontece é que, depois do meu resultado “na prefeitura” [na campanha de 2018], quando eu fiz 10% [dos votos] sem tempo de TV, quase sem debates, sem igrejas, sem fundo eleitoral, a gente pôde, pela primeira vez, escolher, sentar na mesa e fazer exigências aos partidos. E, nesse caso específico, o [Sergio] Moro tinha pedido muito para gente ir para o Podemos. A gente conversou com o Patriota, que teve alguma resistência em apoiar o Moro nacionalmente, em fazer a coligação com o Podemos. Então, a gente optou por ir para o Podemos, que é um partido maior, mais estruturado. Mas a gente não vai usar fundo eleitoral de novo, por opção, por convicção mesmo.
Diversos analistas políticos e jornalistas falam sobre a perda da capilaridade e força do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual o senhor faz parte, se comparado ao momento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O senhor ainda trabalha com a ideia fortalecer sua campanha por meio do MBL?
O MBL não pode apoiar formalmente nenhum pré-candidato ou candidato, então não existe esse apoio formal, mas o movimento nunca esteve tão forte. O nosso desempenho eleitoral tem sido também cada vez maior. Em 2018, eu fui o segundo [deputado estadual de São Paulo] mais votado. O Kim [Kataguiri], o quarto [deputado federal]. Em 2020, nós elegemos três vereadores, fizemos 10% [para a prefeitura] em São Paulo e tivemos mais votos de legenda do que o Novo, por exemplo. O movimento vem em franca ascensão, faz parte da minha história e isso me ajuda a chegar lá.
Em 2018, o MBL apoiou o então candidato Jair Bolsonaro à Presidência da República. E, agora, se afasta dele, apoiando Sergio Moro, com filiação de membros do movimento no Podemos. Da mesma forma que Moro demonstra ser menos conservador nos costumes, o MBL e suas candidaturas deverão seguir esse mesmo rumo, liberal na economia e progressista nos costumes?
Isso não existe. O MBL apoiou, sim, o Bolsonaro em 2018, mas somente no segundo turno. No primeiro turno, cada um apoiou um [candidato]. Eu votei e declarei voto no [João] Amoêdo. Quando eu e o Kim já estávamos eleitos, aí, sim, no segundo turno, tínhamos apenas duas opções, ou PT ou Bolsonaro, nós apoiamos o Bolsonaro e nos arrependemos. Mas isso de liberal na economia e progressista nos costumes, isso não existe. Nós somos liberais clássicos. As pautas identitárias não são base do nosso movimento. A gente fala muito pouco de aborto, de casamento gay, de liberação de drogas ou não. Essas são pautas secundárias no que a gente faz. Nosso movimento é muito mais pragmático, voltado a melhorar os índices do Brasil. Se a gente quer melhorar os índices de violência, econômicos… A gente precisa discutir outras coisas que são muito mais urgentes. Por exemplo, em 2016, a reforma da Previdência. Agora, precisamos focar numa reforma trabalhista de verdade, não somente essa que passou, e ainda fazer a defesa, porque se o Lula entrar, ele já falou que vai revogar. Acho que tem assuntos muito mais importantes para nos apegarmos.
Nos bastidores, se discute uma possível ida de Sergio Moro para o União Brasil. Como o senhor fica caso isso aconteça, considerando que o partido é formado a partir da junção do PSL com o DEM, que já foi o seu partido no passado?
Eu acho muito difícil isso acontecer. Eu não vejo o caminho do Moro no União Brasil. Acho que ele tem que pensar no que é melhor para a candidatura dele. Mas se isso acontecesse, nós não iríamos de forma alguma [para o União Brasil]. O Podemos ainda é a melhor opção para nós, um partido estruturado, que nos deu total liberdade de agirmos da forma que a gente age. E o Moro vai estar comigo de qualquer forma. Essa é uma questão suprapartidária, tudo aquilo que a gente fez, e que fez o Moro inclusive ser candidato, mostra que a nossa luta, a pavimentação do que a gente chama de terceira via é algo legítimo nosso. Nós somos os donos desse discurso. Não tem o menor cabimento o Rodrigo Garcia ou o Doria querer agora colocar uma camiseta e falar que é terceira via. Isso não faz sentido, as pessoas rejeitam completamente. Então, para nós, é uma questão secundária. Eu acredito que ele deve fazer o que é melhor para ele, mas vai ser difícil isso acontecer.
Caso Sergio Moro não consiga crescer nas eleições e o segundo turno seja disputado entre Bolsonaro e Lula, da forma que vem sendo apontado nas pesquisas, como o senhor se posicionará?
Eu voto nulo. E mais do que isso, eu faço a campanha para que a gente forme uma oposição robusta imediatamente. Uma oposição de verdade. A verdade é que, desde a redemocratização até agora, o Brasil nunca teve oposição. Nos governos do PT, por exemplo, quem se dizia oposição era o PSDB. E não era oposição. Hoje, com o Alckmin indo para a chapa do Lula, a gente vê isso. O Aécio [Neves] tentando desarticular o impeachment, falando para a Dilma sangrar até 2018 deixou muito claro que o PSDB nunca fez oposição ao PT. E, agora, com o governo Bolsonaro, nós mantemos também a oposição ao PT. Haja vista que o PT tentou de todas as formas desarticular qualquer possibilidade de impeachment do Bolsonaro, sabendo que a única chance do Lula é o Bolsonaro. E o Bolsonaro sabendo que é a única chance dele é o PT. Nem assim, nem com a chance do PT ele se elege. Bolsonaro não vence essa eleição de forma alguma. A possibilidade disso acontecer é quase nula. Então, se esse for o segundo turno, Bolsonaro e Lula, eu já vou me preparar para ser a maior oposição que a história já viu ao governo Lula.
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