Aras critica ‘pessoalização’ da Lava Jato e diz que cumpriu seu papel sem ‘espetáculos midiáticos’

Indicado por Bolsonaro defendeu que a atuação do PGR não deve ser mensurada por ‘proselitismo ideológico’, ‘operações policiais espetaculosas’ ou ‘embates na arena política’

  • Por Jovem Pan
  • 24/08/2021 13h04 - Atualizado em 24/08/2021 13h28
Pedro França/Agência Senado Indicado para recondução ao cargo de procurador-geral da República, com mandato de dois anos, Antônio Augusto Brandão de Aras; presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre Augusto Aras está sendo sabatinado nesta terça-feira pela CCJ do Senado e deve ser aprovado para novo mandato à frente da PGR

Em discurso inicial durante sua sabatina na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado, o atual procurador-geral da República, Augusto Aras, defendeu, nesta terça-feira, 24, que cumpriu o seu dever e as promessas feitas aos parlamentares em 2019, quando foi alçado ao cargo pela primeira vez. Segundo Aras, ao longo dos dois anos a frente da PGR, ele não permitiu que o Ministério Público substituísse nenhum dos Três Poderes. “Cumpri, nesse aspecto, em especial, o meu dever assumido aqui na última sabatina: não permitir que o Ministério Público pudesse se substituir ao Poder Legislativo, ou ao Judiciário, ou ao Executivo. Cumprir a Constituição é compreender a separação dos Poderes, é poder saber que o dever de fiscalizar condutas ilícitas não dá aos membros do Ministério Público nenhum poder inerente aos Três Poderes constituídos”, disse o PGR, que acrescentou que sua gestão foi “sóbria e técnica”.

Aras tem recebido duras críticas de parlamentares e de outros procuradores, que o acusam de “omissão”. Ele, porém, justifica que o papel do PGR é não manifestar opiniões sobre questões objeto de “atuação finalística”. “A falta de participação diária do Procurador-Geral da República nos debates provocados pela mídia, ou de apresentação de respostas para combater críticas ou acusações dos veículos de imprensa não se deram em razão de omissão, mas sim em respeito à vedação legal a magistrados e membros do Ministério Público manifestarem opinião sobre questões objeto de atuação finalística”, explicou. Em seguida, o procurador atribui à imprensa o que chamou de “críticas infundadas e incompreensões”, “que acabam reverberando pela atuação de parte da imprensa, que abraça um jornalismo descomprometido com a credibilidade de fontes e descuidado em conferir a veracidade de premissas e de fatos”.

Em outro momento, o procurador-geral da República criticou abertamente o que chamou de “pessoalização” da Operação Lava Jato. “Realizamos ainda 35 operações, sem vazamentos seletivos ou espetáculos midiáticos. Talvez, se nós tivéssemos, a cada duas grandes operações, feito o vazamento seletivo das operações, dos investigados, talvez eu estivesse numa posição de muito elogio por parte de alguns, como quem distribuiu flechadas por todo o Brasil, criminalizando a política”, afirmou Aras em referência à Lava Jato. “O modelo das forças tarefas, com pessoalização, culminou em uma série de irregularidades, tais como os episódios revelados pela na Vaza Jato, a frustrada gestão de vultosas quantias arrecadadas em acordo de colaboração e acordos de leniência, por meio de fundos não previstos em lei”. Aras ainda apontou que a atuação do PGR não deve ser mensurada por “proselitismo ideológico”, “operações policiais espetaculosas” ou “embates na arena política”. “Assim pautei minha atuação na discrição, no diálogo e na compreensão de que cabe ao PGR ficar adstrito ao discurso jurídico, manifestando-se nos autos, conduzindo investigações com rigor técnico”, defendeu.

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