Arthur Virgílio manda recado a Leite e Doria: ‘Quem perder, precisará apoiar o vencedor das prévias’

O ex-senador concedeu entrevista à Jovem Pan, falou sobre a escolha do partido para disputar Presidência, comentou o racha no ninho tucano e chamou Geraldo Alckmin de mimado

  • Por Pedro Jordão
  • 20/11/2021 15h00 - Atualizado em 02/05/2022 11h23
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Felipe Rau/Estadão Conteúdo - 12/11/2021 Com Arthur Virgílio em primeiro plano, Eduardo Leite atrás dele e Doria desfocado, os três candidatos nas prévias tucanas posam perfilados para foto O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio enfrenta Eduardo Leite e João Doria nas prévias tucanas

Neste domingo, 21, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) realiza, pela primeira vez, as suas prévias eleitorais, com o objetivo de definir por voto o pré-candidato oficial da legenda à presidência da República em 2022. Concorrem ao posto os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, além do ex-prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio. Em entrevista à Jovem Pan, Virgílio, que não é favorito para o pleito, comentou o atual contexto de divisão do partido, que tem os apoiadores de Doria de um lado e os de Leite do outro. De acordo com o amazonense, a possibilidade de reorganização da legenda em torno de uma única candidatura reside no candidato derrotado apoiar o vencedor: “Os líderes [Doria e Leite] prometeram solenemente, em programa de televisão [debate realizado na última quarta-feira], se manter no PSDB e apoiar o candidato vencedor das prévias. Aquele que não cumprir, se desmoraliza. Eles se comprometeram comigo e com o povo do país a cumprir esse compromisso”, comentou Virgílio. O ex-senador falou também sobre o processo eleitoral e suas contribuições, além dos caminhos que visualiza para o futuro do PSDB e governo do Brasil.

Durante o último debate, Virgílio demonstrou preocupação com o racha interno da legenda e utilizou seu tempo para questionar Doria e Leite sobre o apoio ao vencedor das prévias. Ele confia que isso fará com que deputados, prefeitos e outros membros e militantes do partido sigam o mesmo caminho. Entretanto, a divisão do PSDB passa por outras questões. Em caso de vitória de João Doria, ele deverá indicar ao governo do Estado de São Paulo o seu atual vice, Rodrigo Garcia, o que contraria a vontade de Geraldo Alckmin de concorrer ao posto. Por sua vez, o ex-governador paulista, liderança importante da sigla, já vem flertando com outras possibilidades políticas, como se mudar para o Partido Social Democrático (PSD) para disputar o Estado ou ser vice de Lula na corrida pela presidência da República. Para Virgílio, a situação demonstra que Alckmin vai na contramão do PSDB neste momento. “O Alckmin, para mim, comete um erro capital ao sair do partido por estar contrariado com o governador Doria. Ou faz o que ele quer ou o partido não serve. Ele se gabava muito de ser o sétimo nome que assinou a ficha de filiação ao PSDB, no entanto, na hora de alguém dizer ‘não’, ele mostrou um caráter muito mimado“, destacou.

“Ele queria que o Doria não lançasse o vice dele ao governo. Isso é um problema de São Paulo. Mas o que acontece é o seguinte: por que ele teria que lançar uma pessoa para ser governador pela quinta vez? Eu vejo muitas pessoas do PSDB falsamente elogiando o Alckmin, endeusando uma pessoa que não merece. Ele é uma pessoa que era muito criticada dentro do partido. Eu não tenho duas caras. Não tenho boa impressão do Alckmin. Ele não me seduz com aquela voz mansa, aquela conversa dele. Ele quer ser governador pela quinta vez. O que ele quer? Uma oligarquia alckmista, num país que tem que se livrar de oligarquias?”, questionou o ex-senador.

Com qualquer resultado das prévias (Doria, Leite ou mesmo Virgílio), as últimas pesquisas eleitorais apontam o PSDB com baixas intenções de voto para 2022. No último levantamento do Datafolha, divulgado em setembro, o partido amargava apenas 4% das intenções, ficando atrás de Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes, respectivamente. Questionado sobre a situação, Virgílio afirmou que o candidato oficial dos tucanos vai precisar conquistar aliados e se mostrar capaz de liderar, além de apresentar propostas robustas de reformas e privatizações para o Brasil. Ele aposta nesses elementos para o crescimento e consolidação como terceira via. Para formação da chapa com um vice, o ex-prefeito de Manaus disse que ainda não consegue considerar nenhum expoente político do atual cenário. “Eu não conseguiria responder agora um nome, teria que ver o futuro se desenhar, virar presente. Quem sabe o Rodrigo Pacheco, mas ele precisa mostrar mais, porque ele praticamente era um desconhecido”, pontuou.

Virgílio descarta a possibilidade de o PSDB abandonar a cabeça de chapa para compor com outro candidato, mesmo se o partido continuar com fraco desempenho em intenções de voto com o passar dos meses. “Não vejo ninguém no cenário atual que esteja se destacando em pesquisa. Eu prefiro pensar nas pessoas do cenário atual como pessoas que nós lideraríamos”. E afirma que, em um cenário no qual o candidato (provavelmente Doria ou Leite) não evolua, seria preciso uma ação em favor do Brasil. “Se isso não acontecer [crescer nas pesquisas], a gente vai ter que meditar muito e tomar uma atitude em nome do Brasil, em favor do Brasil sempre”, disse, sem explicar quais tipos de procedimentos poderiam ser considerados.

Assumindo saber que o sistema das prévias do PSDB não o favorece, Arthur Virgílio diz se sentir um vencedor por ter levantado alguns temas nos debates, como a importância da Amazônia para o Brasil. “[Só saberemos o resultado] Quando as urnas abrirem e os votos forem contados. Mas é óbvio que, para uma pessoa com a minha característica, que é de eleição direta e contato com o povo, as regras das prévias não são ideais, porque elas favorecem muito as pessoas com mandato, favorecem as pessoas que são preponderantes no comando do partido. São geralmente as pessoas que formam o establishment. De certa forma, a minha candidatura não é muito a favor do establishment. De qualquer maneira, entendo que cumpri alguns papeis. Eu vou votar no domingo, e o resultado que vier, veio, vai ser acatado por mim, porque me sinto muito vitorioso pelos temas que eu consegui encucar na cabeça de milhões de brasileiros e dos meus dois adversários. Em vez de ficar aquela prestação de contas, de quem fez mais hospitais ou colocou em dia as contas do Estado que governa, eu trouxe o debate da democracia para o centro, o debate da importância da Amazônia“, disse.

O ex-senador, que defende que a floresta possui uma riqueza trilionária e que deve ser patrimônio de todos os Estados brasileiros, criticou o presidente Bolsonaro e suas ações sobre o meio ambiente. E afirmou que a Amazônia deve ser prioridade em um governo do PSDB. “O Brasil pode se dar muito mal se não houver uma mudança de 180º na política ambiental do governo brasileiro. O pré-candidato Lula aproveita o fato de ter sido presidente duas vezes, e as relações internacionais que ele firmou, para ser recebido como se fosse o chefe de Estado brasileiro, com honras e tudo. Do ponto de vista político, é uma atitude espertíssima, muito inteligente, mas é verdade que o presidente atual está dando panos para essas mangas à medida que ele se descredibiliza, dizendo coisas do tipo ‘a floresta não pega fogo porque é úmida’. São atitudes assim, coisas incoerentes, inconsequentes, que não fazem bem ao conceito do país”, declarou Virgílio. “O governo Bolsonaro está levando a Amazônia para uma crise irreversível. Recomendo a meus companheiros de prévias que coloquem a Amazônia em primeiríssimo plano, depois vem o resto. Ela é assunto de interesse econômico para todos os brasileiros”, finalizou.

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