Com afastamento de Bolsonaro, PSDB deve buscar se reerguer na política nacional

Partido derreteu junto ao eleitorado com o enfraquecimento de seus caciques e o discurso antissistema bolsonarista, mas, com três jovens lideranças eleitas em Estados, deverá buscar recuperar votos antipetistas e se firmar como opção para centristas e direitistas

  • Por Pedro Jordão
  • 21/01/2023 17h00
Reprodução/Twitter/@EduardoLeite_/Maurício Tonetto Eduardo Leite e Raquel Lyra, governadores do RS e de PE, respectivamente, pelo PSDB Eduardo Leite e Raquel Lyra, governadores do RS e de PE, respectivamente, pelo PSDB, são esperanças dos tucanos para a retomada da força que a legenda já teve no contexto nacional

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) enfrentou uma série de transformações nos últimos anos que o fizeram minguar junto à opinião pública no contexto da política nacional. Pela primeira vez em muito tempo e por duas eleições consecutivas (2018 e 2022), a legenda não disputou o segundo turno das eleições presidenciais, tendo sido substituída por outras que se capitalizaram a partir da figura de Jair Bolsonaro. Com a derrota do ex-presidente nas urnas em outubro do ano passado e a possibilidade de ele ser condenado em processos nos quais é réu, tornando-se inelegível, muito vem sendo especulado sobre possíveis herdeiros de seus votos, personalidades que poderiam comandar a direita brasileira. É em meio a essas incertezas que o PSDB, agora com novas lideranças eleitas – Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS) – deverá tentar recuperar seu prestígio e sua importância histórica no debate público.

Para a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Priscila Lapa, existe um esgotamento crescente na população brasileira quanto a radicalismos políticos, e o fato de o PSDB ser um partido de centro-direita, que nega algumas pautas da esquerda e outras da direita, favoreceria a sua retomada na política nacional. “Esses novos liderem vêm com uma outra cara. Eles são PSDB no sentido de não terem opiniões radicais, de terem facilidade de dialogar com várias forças políticas. E como a gente vive um momento de superação dessa polarização – principalmente diante do episódio de terrorismo que aconteceu em Brasília, que, provavelmente, vai gerar um repúdio a práticas ideologicamente radicais – essas lideranças podem, a partir de experiências bem sucedidas nos seus Estados, conduzir o PSDB para ser um novo protagonista desse processo e para a eleição de 2026. E, inclusive, captar de volta os eleitores antipetistas que migraram para o bolsonarismo como alternativa de não votar no PT, mas que podem, a partir de agora, olhar o PSDB como uma oposição estruturada, eficiente e menos radical”, afirma.

Uma prévia do fenômeno citado pela pesquisadora já foi vista na reeleição de Eduardo Leite para comandar o governo do Rio Grande do Sul, Estado que deu a maioria dos votos para Bolsonaro na disputa presidencial. A diferença de votos que Leite teve de seu oponente, o bolsonarista Onyx Lorenzoni, foi praticamente a mesma que o ex-presidente teve de Lula – entre 800 mil e 1 milhão. O que leva a refletir sobre a possibilidade dos tucanos recuperarem os votos antipetistas, como comentado por Priscila Lapa. “A presença do Eduardo Leite é muito simbólica dessa capacidade que o partido pode ter de se movimentar ao centro, trazer o eleitorado menos radical para o seu núcleo e conquistar votos”, diz ela. Além disso, o fato de os três governadores serem novos na política nacional, distantes de caciques que ficaram congelados no tempo, como José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), também seria um ponto de vantagem dos psdbistas neste momento, podendo explorar suas imagens e discursos sem grandes rejeições.

Por outro lado, o também cientista político Rui Tavares Maluf cita uma dificuldade que Leite, Lyra e Riedel deverão enfrentar nos próximos anos na tentativa de alavancar a legenda. Para ele, os três nomes não possuem o mesmo peso que lideranças do passado possuíam, como é o caso do ex-tucano Geraldo Alckmin. “Não se pode perder de vista que estamos vivendo um momento de mudança de geração. O Bruno Araújo, por exemplo, está deixando a presidência do PSDB. E essa geração que está na faixa dos 40, 50 e poucos anos, uma nova geração de políticos do partido, parece que ela não conseguiu se colocar tematicamente, programaticamente. É como se fosse uma geração mais ou menos de apoio às grandes lideranças tucanas. Mas, ela própria não foi capaz de entusiasmar a sociedade. Não foi capaz de ir além do momento eleitoral. O partido tem que empolgar, tem que ser capaz de lançar teses. E essa nova geração não foi capaz de fazer isso. É difícil entrar na individualidade de cada um, mas eu não consigo ver essas três pessoas como emuladoras de grandes ideias. Isso é um grande problema e um grande desafio”, comenta Maluf.

Ainda na esteira das dificuldades que o partido terá para se restabelecer como protagonista perante o eleitor brasileiro, Maluf relembra a disputa interna que ocorreu no ano passado entre Eduardo Leite e João Doria, pontuando que o gaúcho, hoje o principal nome da legenda – já que ele mesmo assumirá a presidência do PSDB a partir de fevereiro – mostrou incapacidade de diálogo e fraqueza no jogo da política. “Ele ameaçou sair do partido, quase que dizendo ‘se não sou eu o candidato [à Presidência]’… quase como uma birra, representou algo menor”. Para o professor, diferentemente da ação de Leite, o momento atual pede união dos novos líderes e crença na própria sigla: “Se o PSDB vai partir realmente para o momento no qual ele vai começar a se reerguer, eu ainda não sei, mas só o fato de ter conseguido eleger três governadores não deixa de ser uma coisa relevante. Entretanto, é preciso que eles tentem, é claro, ter uma articulação entre eles, não só no nível institucional”.

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