Com depoimento de advogada e Luciano Hang, CPI quer avançar em caso Prevent Senior

Dossiê enviado por 12 médicos à comissão afirma que empresa utilizou ‘cobaias humanas’ para testar medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença

  • Por André Siqueira
  • 27/09/2021 19h58 - Atualizado em 27/09/2021 20h27
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Jefferson Rudy/Agência Senado - 19/08/2021 Randolfe Rodrigues e Omar conversam em pé (e usando máscaras) durante sessão da CPI, enquanto Renan Calheiros ouve a conversa do aliados sentado em seu lugar Caso Prevent Senior prorrogou os trabalhos da CPI da Covid-19

Na semana em que o Brasil deve ultrapassar a marca das 600 mil mortes causadas pelo coronavírus, a CPI da Covid-19 quer avançar no caso envolvendo a Prevent Senior. Em um dossiê enviado à comissão, ao qual a Jovem Pan teve acesso, a operadora de saúde é acusada de utilizar “cobaias humanas” para testar medicamentos do chamado “kit-Covid”, ocultar mortes de pessoas que foram submetidas a este tipo de procedimento e orientar os profissionais a não avisarem os pacientes que estariam recebendo estes fármacos. Os parlamentares também querem esclarecer se houve financiamento para a disseminação de notícias falsas sobre a pandemia.

Nesta terça-feira, 28, os senadores vão ouvir a advogada Bruna Morato, que representa os 12 médicos e ex-médicos da Prevent Senior que elaboraram o dossiê. À reportagem, ela afirmou que dirá “a verdade” que ouviu dos profissionais de saúde que trabalham ou trabalhavam na empresa. Como a  Jovem Pan mostrou, a advogada enviou um áudio aos senadores da CPI informando que a Prevent Senior demitiu quatro médicos, entre eles um dos clientes da profissional. “Ele [Pedro Batista, diretor-executivo] disse que a instituição deu autonomia e que, se aconteceram mortes, a culpa é dos médicos. E saíram de lá demitindo médicos”, diz na gravação.

Para a quarta-feira, 29, está prevista a oitiva do empresário bolsonarista Luciano Hang. A ida do dono da rede de lojas da Havan não é consenso entre os senadores – o assunto será tratado em uma reunião da cúpula da comissão na casa do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente do colegiado, na noite desta segunda-feira, 27. O principal defensor da presença do apoiador do presidente Jair Bolsonaro é o relator, Renan Calheiros (MDB-AL). O emedebista avalia que Hang pode esclarecer detalhes sobre o financiamento e a disseminação de notícias falsas sobre a pandemia do novo coronavírus. Ele também deve ser questionado sobre o atestado de óbito de sua mãe, Regina Hang. Segundo um dossiê enviado por 12 médicos e ex-médicos da Prevent Senior à CPI, ao qual a Jovem Pan teve acesso, o documento foi fraudado.

Até a publicação desta reportagem, não havia definição sobre o depoimento da quinta-feira, 30. Mas dois dos nomes mais cotados são o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, e Márcio Teixeira Nunes, ex-servidor do Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Nunes chegou a ser preso preventivamente no ano passado no âmbito da Operação Hospedeiro, que mirou um esquema de desvios de recursos do IEC. De acordo com mensagens em posse da CPI, o lobista Marconny Albernaz de Faria atuou para favorecer o servidor.

Os senadores afirmam que possuem elementos que comprovam que a Prevent Senior aplicou remédios comprovadamente ineficazes para o tratamento de pacientes internados em hospitais da rede. Os parlamentares também investigam a relação entre a empresa e o gabinete paralelo de assessoramente ao presidente Jair Bolsonaro. Em um vídeo, o virologista Paolo Zanotto, que sugeriu a criação de um “shadow cabinet” (gabinete das sombras, em tradução livre), diz que os médicos Nise Yamaguchi e Luciano Azevedo “estão em Brasília com o alto escalão do governo” redigindo “protocolos de vários tipos para a aplicação” destes medicamentos. Em seu depoimento à CPI, Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent, admitiu que os médicos alteravam o código de classificação da doença (CID) após os pacientes ficarem entre 14 e 21 dias internados. Para os integrantes da comissão, isto comprova que a operadora de saúde omitiu o número de pacientes mortos por complicações causadas pela Covid-19.

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