Confira as estratégias das campanhas dos presidenciáveis para o último debate na TV

Ex-presidente travou agenda nos últimos dois dias para se preparar para o compromisso; candidato do PL vai subir o tom contra petista, e Tebet mira terceira colocação na disputa

  • Por André Siqueira
  • 29/09/2022 19h35 - Atualizado em 29/09/2022 19h41
Montagem de fotos/Estadão Conteúdo/Presidência da República/Agência Brasil e Agência Senado Montagem com foto de quatro candidatos Debate na TV Globo é o último antes da eleição, marcada para o domingo, 2

A três dias da eleição, o último debate entre presidenciáveis, que será realizado pela TV Globo na noite desta quinta-feira, 29, é visto pelas campanhas dos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto como fundamental para definir se o pleito será encerrado no primeiro turno, marcado para o domingo, 2. O evento ganha ainda mais relevância em razão da mais recente pesquisa Datafolha, que aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 50% dos votos válidos, limiar para liquidar a fatura nos próximos dias. O site da Jovem Pan ouviu aliados e coordenadores das campanhas de Lula, do presidente Jair Bolsonaro (PL), do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da senadora Simone Tebet (MDB), para apontar as estratégias que devem ser adotadas pelos postulantes a partir das 22h30.

O ex-presidente Lula travou sua agenda nos dois últimos dias para se preparar para o debate. O núcleo duro da campanha espera que o petista seja bombardeado com perguntas sobre corrupção e a chamada pauta de costumes, com questionamentos sobre aborto. Membros do comitê acreditam, inclusive, que Bolsonaro usará o candidato do PTB, Padre Kelmon, para explorar assuntos dessa natureza – no último debate, Kelmon serviu de escada para o mandatário do país, que buscou uma tabelinha com o petebista para abordar temas caros ao bolsonarismo. Segundo relatos feitos ao site da Jovem Pan, Lula está preparado para rebater, de forma enfática, ataques sobre condenações na Justiça e desvios na Petrobras. A ideia, dizem, é citar casos que envolvem Bolsonaro e sua família, como o das rachadinhas, a compra de imóveis com dinheiro vivo e o orçamento secreto, por exemplo, para se contrapor ao discurso do atual mandatário do país de que ele não está envolvido em nenhum escândalo. Um dirigente petista destaca que, por estar na liderança das pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente da República tentará não se expor desnecessariamente. Por outro lado, sempre que possível, Lula tentará acenar aos indecisos e reforçará a importância de a população não se abster.

O QG de Bolsonaro, por sua vez, vê o debate desta quinta-feira como uma oportunidade de ouro para impedir que Lula vence no primeiro turno. “Vamos para cima com tudo”, resumiu à reportagem um coordenador da campanha. O entorno de Bolsonaro reconhece que o tom inflamado pode agradar apenas o eleitor que já está com o mandatário do país, mas calcula que a estratégia de explorar termos como “ex-presidiário” e “ladrão” pode aumentar a rejeição ao ex-presidente nas últimas horas antes do pleito e atenuar os efeitos do voto útil. A campanha à reeleição identificou, em pesquisas internas, a migração de uma parcela de votos de Ciro Gomes para o postulante do PT. Aliados também estão preocupados com a postura do presidente da República nos embates com as senadores Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Nos debates anteriores, as parlamentares criticaram a gestão do governo federal na pandemia e chamaram Bolsonaro de “corrupto” e “mentiroso”. “Por que tanta raiva das mulheres?”, questionou Tebet no primeiro compromisso. O presidente foi aconselhado a adotar um tom sereno, mas aliados destacam que Bolsonaro é imprevisível.

Tecnicamente empatado com Simone Tebet na terceira colocação das pesquisas, Ciro deve manter um tom ríspido contra Lula e Bolsonaro. A ideia, porém, é marcar posição contra o atual presidente, a fim de evitar a impressão de que o pedetista trata o petista e o postulante do PL como iguais e afastar a tese de que o ex-ministro atua como linha auxiliar do bolsonarismo. “Lula e Bolsonaro não são dois lados da mesma moeda e Ciro sabe disso”, afirma um líder do PDT. O ex-ministro deve seguir, no entanto, um roteiro que já vem sendo adotado nas últimas semanas: dizer, sempre que possível, que Bolsonaro só chegou ao poder porque o PT se corrompeu e se envolveu em escândalos de corrupção. A audiência da TV Globo também é vista como fundamental para evitar uma desidratação do pedetista na reta final.

A senadora Simone Tebet, por sua vez, deve manter a estratégia adotada até aqui e se colocar como uma opção viável para furar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Embora publicamente o entorno da parlamentar diga que tudo é possível na reta final da eleição, aliados da emedebista reconhecem que, a três dias da eleição, o cenário está cristalizado entre os candidatos do PT e do PL. A campanha acredita, no entanto, que um bom desempenho no debate da TV Globo pode garantir que Tebet ultrapasse Ciro e conquiste o posto de candidata do MDB com o melhor desempenho na história das eleições presidenciais. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada na noite desta quinta-feira, 29, Simone tem 9% dos votos válidos em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, ante 6% do candidato do PDT.

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