CPI da Covid-19: Depoimento de coronel encerra ciclo sobre intermediários e redireciona o foco das investigações
Até a conclusão dos trabalhos, senadores querem aprofundar apurações sobre disseminação de notícias falsas durante a pandemia, corrupção em hospitais federais do Rio e atuação da empresa VTCLog
Nesta terça-feira, 10, a CPI da Covid-19 ouve o coronel da reserva do Exército Helcio Bruno de Almeida, presidente da ONG Instituto Força Brasil – o requerimento de convocação foi apresentado pelo vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O depoimento encerra um ciclo de investigação da comissão e abre espaço para que os senadores redirecionem o foco para outras frentes, entre elas, a disseminação de notícias falsas durante a pandemia do novo coronavírus, os indícios de corrupção em hospitais federais do Rio de Janeiro e atuação da empresa VTCLog. O militar é apontado como elo entre o Ministério da Saúde e representantes da Davati Medical Supply: ele foi citado por Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho, que se apresentaram como vendedores da empresa, como responsável por intermediar um encontro com o então secretário-executivo da pasta, o coronel Elcio Franco Filho, ocasião em que se discutiu a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
Para os membros da comissão, o caso dos intermediadores para a compra de vacinas está esgotado. Os senadores avaliam que a CPI conseguiu comprovar que o governo Bolsonaro abriu as portas do Ministério da Saúde para supostos vendedores que fugiam da lógica usual das negociações, ou seja, quando o acordo é firmado diretamente pela farmacêutica com a União. Além de Dominguetti, os parlamentares ouviram Cristiano Carvalho, também da Davati, o reverendo Amilton Gomes de Paula, que se disse interessado em adquirir vacinas em razão de uma causa humanitária; e o tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor de Roberto Ferreira Dias que negociou com Dominguetti a compra de vacinas para a iniciativa privada antes mesmo de o projeto de lei ser aprovado na Câmara dos Deputados (no Senado, a iniciativa que amplia a possibilidade de aquisição dos imunizantes está na gaveta). Embora o processo de compra da vacina indiana Covaxin tenha como protagonista a Precisa Medicamentos, que intermediou a compra, os parlamentares dizem que este caso tem “vida própria” e é uma das principais linhas de apuração – há, inclusive, um núcleo de trabalho, composto pelos senadores Simone Tebet (MDB-MS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), destinado especificamente a isto.
O depoimento de Helcio Bruno também abre uma nova frente de investigações da CPI da Covid-19. O Instituto Força Brasil é investigado pela CPMI das Fake News e no inquérito das fake news, do Supremo Tribunal Federal (STF). A organização entrou na mira da comissão do Senado por compartilhar publicações, de perfis de direita, com conteúdo que coloca em xeque a eficácia das vacinas e contrário às recomendações das autoridades sanitárias, como o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença. Um dia depois do coronel da reserva do Exército, os senadores vão ouvir Jailton Batista, representante da Indústria Farmacêutica Vitalmedic, empresa que é fabricante de remédios do chamado “kit-Covid”. Alvo de um requerimento de informação, a Vitalmedic afirmou, em relatório enviado aos senadores, que as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 – um crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90 – um incremento de 226%.
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