CPI da Covid-19: Ernesto Araújo nega atrito com a China e põe cloroquina na conta de Pazuello

Em depoimento, ex-ministro afirmou que nunca entrou em conflito com o país asiático e atribuiu à Saúde as diretrizes adotadas pela chancelaria durante a pandemia

  • Por André Siqueira
  • 18/05/2021 17h54 - Atualizado em 18/05/2021 18h41
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Leopoldo Silva/Agência Senado Ex-chanceler em reunião na CPI da Covid-19 Ernesto Araújo negou que ataques à China tenham prejudicado relação do Brasil com o país asiático

Por aproximadamente sete horas, a CPI da Covid-19 ouviu, nesta terça-feira, 18, o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo. Aos senadores, o ex-chefe do Itamaraty falou sobre críticas à China, da atuação da pasta no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus e da insistência do governo federal em defender a cloroquina, remédio ineficaz no tratamento da doença. A oitiva também foi marcada por críticas ferrenhas da senadora Kátia Abreu (PP-TO) à gestão de Araújo à frente da diplomacia brasileira – um dia antes de entregar sua carta de demissão, o então chanceler insinuou que a parlamentar teria feito lobby em favor da empresa chinesa Huawei no leilão da tecnologia do 5G.

Questionado pelos senadores sobre declarações feitas contra a China, Ernesto Araújo afirmou que sua atuação à frente do Ministério das Relações Exteriores não “criou percalços” no combate à pandemia. “Jamais promovi nenhum atrito com a China”, disse. Na sequência, ele foi repreendido pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), que citou um texto, publicado por Araújo em seu blog pessoal, intitulado “Chegou o comunavírus”, em alusão ao país asiático. “Quero alertá-lo que o senhor está sob juramento. Vossa Excelência deu várias declarações anti-China, se indispôs com o embaixador chinês. O senhor escreve um artigo e diz ‘comunavírus’. Há pouco, disse que não houve nenhuma declaração. Posso ler o seu artigo. O senhor faz uma alusão, erroneamente, de que a pandemia era para ressuscitar o comunismo. Na minha análise pessoal, Vossa Excelência está faltando com a verdade. Peço que não faça isso, porque isso está escrito no seu Twitter. Se isso não é se indispor com um país com quem temos relação comercial muito importante, então não entendo como se faz relações internacionais. Chegar aqui e desmerecer o que já praticou, dizer que nunca se indispôs com a China, Vossa Excelência está faltando com a verdade. Se quiser, leio alguns trechos do que escreveu. Vossa excelência até bateu boca com o embaixador chinês. Nega aquilo que escreveu, aí não dá”, afirmou Aziz.

O ex-ministro também afirmou, reiteradamente, que o Ministério das Relações Exteriores seguiu orientações feitas pelo Ministério da Saúde, à época comandado pelo general Eduardo Pazuello. De acordo com Ernesto Araújo, o Brasil buscou cloroquina no mercado internacional a pedido do oficial do Exército e do presidente Jair Bolsonaro. Em outro momento, o ex-chanceler disse que a opção do governo federal pela adesão mínima ao consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi uma decisão da Saúde. “Nunca fui contrário à adesão. Essa decisão não foi minha, foi decisão do Ministério da Saúde, dentro de sua estratégia de vacinação. Não conheço os fundamentos técnicos”, afirmou ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid-19. O Palácio do Planalto tinha a opção de solicitar doses suficientes para vacinar de 10% a 50% da população, mas preferiu a menor cota.

‘Bússola que nos direcionou para o caos’ 

O depoimento de Ernesto Araújo foi marcado por críticas feitas pela senadora Kátia Abreu (PP-TO) à gestão do ex-ministro. Apesar de não ser membra da CPI, a parlamentar foi a representante da bancada feminina responsável por fazer questionamentos ao depoente. Em seu tempo de fala, Abreu disse que o diplomata é “um negacionista compulsivo, omisso” e foi “a bússola que nos direcionou para o caos, para um iceberg e para o naufrágio da política externa brasileira”. “O senhor apoiou o ataque ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Agora, estamos nas mãos dessa criatura, que aglutina um consórcio para vacinar países pobres e em desenvolvimento. A China foi atacada, Tedros Adhanom foi atacado, o governo Biden [presidente dos Estados Unidos], também. Hoje estamos nas mãos dessas pessoas que o senhor ajudou a atacar com tanta força. O senhor deve desculpas ao país. É um negacionista compulsivo, omisso. Foi uma bússuola que nos direcionou para o caos, para um iceberg, para um naufrágio da política externa brasileira. Isso é voz unânime de seus colegas. O senhor não só colocou o Brasil como pária, foi muito pior: o senhor colocou o Brasil na posição de irrelevância. E eu não aceito que isso aconteça. O maior vexame que já passamos na vida foi a cúpula dos líderes para o Clima, de 22 de abril. O presidente Joe Biden levanta-se da cadeira e deixa o presidente brasileiro falando sozinho. Ele deixa claro: não tenho nada para ouvir do Brasil”, afirmou a senadora.

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