Dimas Covas rebate Pazuello e afirma que oferta da CoronaVac foi ignorada pelo governo Bolsonaro

Diretor do Instituto Butantan disse que ataques do presidente Jair Bolsonaro à vacina interromperam as negociações por três meses; 60 milhões de doses seriam entregues em dezembro de 2020

  • Por Jovem Pan
  • 27/05/2021 17h22 - Atualizado em 27/05/2021 18h38
Jefferson Rudy/Agência Senado Homem de óculos e máscara depõe no Senado Dimas Covas disse que Brasil poderia ter sido o primeiro país a vacinar e que, em dezembro, Butantan tinha 5,5 milhões de doses em estoque

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que as declarações do presidente Jair Bolsonaro e de integrantes da cúpula do Ministério da Saúde causaram a paralisação das negociações para a aquisição da CoronaVac por três meses. O médico também revelou que a primeira oferta do órgão, feita em 30 de julho, previa a entrega de 60 milhões de doses do imunizante até dezembro de 2020 – o contrato sobre as primeiras 46 milhões de doses só foi assinado no dia 7 de janeiro deste ano. De acordo com Covas, isto daria ao Brasil a possibilidade de ser o primeiro país a iniciar a campanha de imunização contra o coronavírus.

Dimas Covas também contradisse o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que, em sua oitiva, na semana passada, afirmou que as declarações de Bolsonaro contra o imunizante não tiveram impacto nas negociações do governo federal com o Instituto Butantan. Segundo o diretor do Butantan, ele chegou a ser convidado a participar de um evento, em outubro, no Palácio do Planalto, que lançaria a CoronaVac como a “vacina do Brasil”. “Estava indo tudo bem, Pazuello dizia que esta seria a vacina do Brasil”, disse o diretor. “Até que houve manifestação do presidente da República dizendo que a vacina não seria incorporada ao PNI”, acrescentou. Aos senadores, o depoente também ressaltou que, em dezembro do ano passado, o instituto tinha 5,5 milhões de doses prontas em estoque. “O mundo começou a vacinar em dezembro. O Brasil poderia ter sido o primeiro país a iniciar a vacinação”.

No final da sessão, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria no Senado, perguntou a Dimas Covas se o governo federal “atuou para estimular” a produção da CoronaVac. “Não houve estímulo governamental para o seu desenvolvimento”, afirmou. “Essa vacina não teve o apoio na hora em que foi solicitado, o que poderia ter dado velocidade maior ao desenvolvimento [do imunizante] e um quantitativo maior de vacinas disponíveis”, seguiu. Diante das revelações do diretor do Instituto Butantan, parlamentares avaliaram, durante a sessão, que o depoimento é “demolidor”.

Líder da bancada feminina do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que as informações apresentadas por Dimas Covas à CPI comprovam que houve negligência do governo Bolsonaro na aquisição das vacinas. “Pelas respostas que o senhor já deu, o Butantan não somente está nos salvando contra os males da pandemia, mas demonstra e responde, claramente, às omissões do governo, ao negacionismo do governo”, disse. “O depoimento de Vossa Excelência é demolidor. Quando o Butantan reapresentou a oferta de 100 milhões de doses, nossos parceiros já haviam afirmado compromissos com outros países em relação aos insumos. Não há insumo porque o Butantan alertou: se não contratar, vamos ter problemas na produção das vacinas”, ponderou. O senador Humberto Costa (PT-PE), titular da comissão, seguiu a mesma linha: “[O depoimento] É a prova mais cabal, mais até que o depoimento da Pfizer, da omissão, da indiferença e do desinteresse daqueles que fazem esse governo”, disse.

O petista também elogiou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e criticou o presidente Jair Bolsonaro. “Feliz o país que pudesse ter um governador e um presidente da República dando murro na mesa para conseguir vacina. Não vamos criticar o governador de São Paulo por isso, não. Tenho muitas divergências com ele, e elas vão permanecer, mas enquanto ele batia na mesa querendo vacina, o de cá [Bolsonaro] estava oferecendo cloroquina a uma ema. É uma diferença muito grande”, disse Costa, que já foi ministro da Saúde.

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