Discurso de Lira reforça percepção de que impeachment de Bolsonaro não está no radar do Centrão

Influência do presidente da Câmara junto aos parlamentares e controle de parte expressiva do orçamento da União ajudam a explicar porque, ao menos por ora, a aliança com o Planalto será mantida

  • Por André Siqueira
  • 08/09/2021 15h45
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Reprodução/Redes Sociais Arthur Lira e Jair Bolsonaro Para um correligionário, fala de Lira "jogou água no chopp" de um grupo de congressistas

O pronunciamento do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em resposta às manifestações bolsonaristas desta terça-feira, 7, reforçou a percepção de lideranças do Congresso de que, neste momento, apesar da mobilização de alguns partidos políticos de centro, como o PSD, o PSDB e o Solidariedade, a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro ser alvo de um processo de impeachment é residual. Na avaliação de um correligionário, a fala do parlamentar do PP “jogou água no chopp” de um grupo de congressistas.

Deputados que são próximos a Lira costumam dizer que, embora não haja dúvidas de que Bolsonaro cometeu diversos crimes de responsabilidade ao longo do mandato, a decisão sobre a abertura de um processo de impeachment depende, sobretudo, de condições políticas, como a presença massiva de opositores do governo federal nas ruas. Reservadamente, parlamentares também afirmam que, enquanto tiver o controle de um montante expressivo em emendas, o que lhe garante influência junto aos pares e pode pavimentar seu caminho na busca pela reeleição para o comando da Casa, por exemplo, o presidente da Câmara dos Deputados não irá se voltar contra o mandatário do país. “Isto não quer dizer que o Centrão não pensa em pular do barco. Mas significa que, por ora, o governo ainda tem o que oferecer”, resume um aliado.

Para o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS), embora Bolsonaro ainda tenha maioria no Parlamento, a articulação dos partidos políticos é necessária. “A leitura que faço é que o discurso do presidente da República está tipificado na lei que estabelece os crimes de responsabilidade. Ninguém pode se arvorar ao direito de descumprir uma decisão judicial. A mobilização dos partidos, além de necessária, é um dever ético. Caso contrário, os partidos estarão sendo cúmplices de sublevação, de desobediência. Se o presidente pode descumprir uma ordem do STF, o governador não pode descumprir decisão do STJ? O cidadão comum não pode descumprir uma determinação do juiz de primeira instância? Precisamos de uma reação em defesa da coesão social, da estabilidade, da vida em comunidade. É preciso que haja mais celeridade na mobilização dos partidos. O tom precisa ser mais assertivo. Vi muitas notas em defesa do Estado democrático de Direito, mas sem proatividade e sem perspectiva de ação. A cada postergação dos partidos do campo democrático, o presidente avança uma casa”, afirmou à Jovem Pan.

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