‘São Paulo não pode ser um puxadinho do Planalto’, diz Boulos

Líder do MTST, candidato do PSOL nas eleições municipais aposta nas redes sociais para impulsionar candidatura e chegar ao segundo turno

  • Por André Siqueira
  • 18/10/2020 08h00
ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Segundo pesquisa Ibope, Boulos está na terceira colocação, com 10% das intenções de voto

Surpresa na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL), aposta no que chama de “um plano ousado” para a área da educação e um plano de governo que focaliza o combate à desigualdade social para convencer o eleitor paulista, chegar ao segundo turno das eleições municipais e ser eleito o próximo prefeito da cidade de São Paulo. “Minha candidatura, ao lado da Luiza Erundina [vice na chapa e prefeita da cidade entre 1989 e 1992], é a única capaz de derrotar esta tragédia que é o Bolsodoria. São Paulo é a cidade mais rica da América Latina, não pode ser um puxadinho do Palácio do Planalto ou do Palácio dos Bandeirantes”, disse em entrevista à Jovem Pan.

A declaração faz alusão ao apoio do presidente Jair Bolsonaro à candidatura de Celso Russomanno (Republicanos) e ao apoio do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ao seu correligionário Bruno Covas – os dois estão tecnicamente empatados na primeira colocação, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira, 15. Com 10% das intenções de voto, Boulos está na terceira colocação. “A cidade precisa de alguém independente, com força e ânimo para fazer aquilo que é preciso”, afirma.

Para Boulos, a grande missão de sua campanha é ampliar sua “taxa de conhecimento” entre os mais pobres. De acordo com a pesquisa Ibope, o candidato do PSOL tem apenas 8% de preferência entre as pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos – Russomanno, por exemplo, tem 27% das intenções de voto neste segmento. A título de comparação, esta taxa é de 19% entre os que têm renda familiar acima de cinco salários (Bruno Covas tem 25%, Russomanno tem 18%). “Essa disparidade existe por conta da taxa de conhecimento. Analisando as pesquisas, cerca de 80% das pessoas com ensino superior me conhecem. Entre os que não fizeram ensino fundamental, de baixa renda, é inferior a 40%. Ninguém pode votar em quem não conhece. A missão é ampliar isso e, por isso, a necessidade de ir aos fundões da cidade, apostar no olho no olho com a população. Aumentando essa taxa, vamos para o segundo turno e vamos ganhar a eleição”, avalia. Por isso, explica, um dos pilares de sua estratégia é a aposta nas redes sociais – de acordo com o Índice de Popularidade Digital, um levantamento feito pela consultoria Quaest, o coordenador do MTST lidera este ranking desde setembro.

Veja algumas propostas defendidas pelo candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo:

Social: Renda Solidária e frentes de trabalho

O carro-chefe do governo de Guilherme Boulos será o combate à desigualdade social. Para isso, aposta na criação do programa Renda Solidária, que irá beneficiar cerca de 3 milhões de pessoas de um milhão de famílias em situação de extrema pobreza. O benefício irá variar de R$ 200 a R$ 400, de acordo com a vulnerabilidade da família. “O programa foi pensado para evitar que, na cidade mais rica da América Latina, haja alguém que precise revirar o lixo para comer. O Renda Solidária vai impactar, inclusive, a economia local: o pai ou a mãe da família que receber o benefício irá ao mercado, ao açougue, à manicure. Comércio local, de uma forma geral. Isso vai estimular também a geração de emprego nas periferias da cidades. Se houver omissão do poder público, como tem ocorrido até agora, teremos uma situação dramática no cenário de pós-pandemia. O Renda Solidária salva o comerciante, o microempresário e o pai de família da tragédia e do caos que a crise vem anunciando”, diz.

O candidato do PSOL também aposta na criação de frentes de trabalho em todas as prefeituras. Segundo Boulos, a ideia irá não só garantir emprego, mas também permitir melhoras na zeladoria da cidade. “Às vésperas da eleição, arrumam calçada e buraco, é sempre assim, para esconder aquilo que ficou abandonado por quatro anos. As frentes de trabalho permitem um melhor tratamento do asfalto, garantem as áreas de lazer, há cuidado com praças, por exemplo. Ao lado do Renda Solidária, é uma iniciativa que vai ajudar São Paulo a superar uma das crises mais graves de sua história”, afirma.

Moradia: mutirões para a construção de casas populares

Guilherme Boulos quer reeditar a experiência dos “Mutirões da Erundina” que, há 30 anos, construiu cerca de 35 mil moradias. A perspectiva do candidato é entregar, se eleito, 50 mil casas, no mínimo, em quatro anos de gestão. “As experiências dos mutirões são incríveis e é isso que queremos resgatar. Ele funciona da seguinte maneira: a prefeitura disponibiliza o terreno, a infraestrutura e os materiais. As pessoas se organizam, acompanhados de arquitetos, e fazem suas casas. É uma forma da casa sair mais rápida, de maneira mais barata e com melhor qualidade, afinal, tem a mão e a participação dos próprios moradores”, diz.

Educação: Investimento na compra de equipamentos eletrônicos

Em seu plano de governo, Boulos é contra o retorno presencial das aulas antes da vacinação da população. Diante da necessidade de dar aos alunos condições de acompanhar os conteúdos à distância, o candidato do PSOL aposta no que chama de “plano ousado” que possibilite recuperar os conteúdos perdidos e promover maior acesso à internet. “Como professor e pai, não posso aceitar que as crianças voltem às aulas com risco à saúde pública. A vida tem que estar sempre em primeiro lugar. Espero que tenhamos a vacina de maneira rápida para que o início do ano letivo, em 2021, seja de forma presencial. Eu e Erundina propusemos um plano ousado, que envolve processo de recuperação daquilo que foi perdido neste período longe das escolas e maior acesso à internet”, diz.

Boulos afirma que a Prefeitura possui recursos mais do que suficientes para investir neste projeto. “Dinheiro não falta. São Paulo tem um orçamento de R$ 70 bilhões ao ano, só no caixa

. Em meio à pandemia, são R$ 17 bilhões, o que já é um escárnio. Há uma dívida ativa de grandes devedores, como bancos, que precisa ser cobrada. Enfrentando os esquemas e as máfias que sugam parte do dinheiro público, teremos condições de colocar este plano de pé. O que não dá é achar que hoje as crianças, os alunos, têm condição de acompanhar uma aula por conta própria se o 3G dos celulares não aguentam baixar um vídeo sequer, imagina suportar um streaming.”

Aposta nas redes e nacionalização do nome

Com 17 segundos de TV no horário eleitoral gratuito, a campanha de Guilherme Boulos aposta nas redes sociais para impulsionar sua candidatura rumo ao segundo turno. “É uma disputa muito desigual, é Davi contra Golias. Tenho 17 segundos na TV, Covas e Russomanno têm um verdadeiro latifúndio. O espaço que temos para dialogar com a cidade e apresentar nossas propostas é a rede social”, resume o candidato. Foi pensando nisto que a campanha de Boulos criou a live de 24 horas com o candidato e o quadro “Se Vira nos 50”, em alusão ao número do partido (50) e o quadro do programa Domingão do Faustão, da TV Globo. A ideia, explica Boulos, é disponibilizar microfones em pontos da cidade para que os eleitores façam seus questionamentos.

O candidato reconhece ainda que a eleição para a Prefeitura da cidade é uma grande vitrine e que o pleito municipal deste ano é uma prévia de 2022. Questionado sobre a possibilidade de, caso eleito, trocar o cargo de prefeito pela campanha visando a Presidência da República, Boulos é taxativo: “Não sou daqueles que pensa política como carreira e trampolim, como fez o João Doria em 2016 (à época, o tucano, que venceu Haddad no primeiro turno, lançou sua candidatura ao governo do estado, e venceu Márcio França, do PSB, nas eleições de 2018). Estou otimista e na expectativa de poder governar São Paulo por quatro anos. Vai ser a maior honra da minha vida. Aqui eu cresci, construí minha trajetória e conheci as pessoas. Vou cumprir o mandato de quatro anos”, diz.

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