Empresário diz que não investiu em propaganda de ivermectina, mas bancou anúncio publicado em jornais

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o diretor da Vitamedic também afirmou que faturamento da empresa aumentou em 29 vezes após início da pandemia

  • Por Jovem Pan
  • 11/08/2021 15h59
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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Homem de terno fala à comissão do Senado Depoimento de Jailton Batista à CPI da Covid-19 durou aproximadamente seis horas

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, o diretor-executivo da Vitamedic Indústria Farmacêutica, Jailton Batista, reconheceu que a ivermectina, produzida por sua empresa, não tem eficácia para o tratamento de pessoas infectadas com o novo coronavírus, mas, mesmo assim, admitiu que a farmacêutica bancou a propaganda da associação Médicos Pela Vida em defesa do chamado “tratamento precoce”, uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro, desde o início da crise sanitária. Em um intervalo de um ano, as vendas deste medicamento por parte da companhia aumentaram 1.105%.

Segundo Jailton Batista afirmou aos senadores, o faturamento da Vitamedic aumentou mais de 29 vezes entre 2019, antes da pandemia, e 2020, já durante a crise sanitária. Neste intervalo de tempo, as vendas saltaram de R$ 15,7 milhões para R$ 470 milhões. Ele alegou que a empresa apenas atendeu a uma demanda do mercado, mas a organização gastou R$ 717 mil com um informe publicitário de meia página, publicado em oito jornais de circulação nacional no fim de fevereiro, sem nenhum estudo que atestasse a eficácia do fármaco. Além disso, a Merck, detentora da patente da ivermectina, emitiu uma nota pública na qual afirma que o vermífugo é ineficaz para o tratamento da Covid-19. “À Vitamedic foi solicitada o apoio da Associação Médico Pela Vida no patrocínio de um documento técnico-médico e ela o fez”, disse o depoente. “Foi a publicação nos jornais do manifesto da associação que a empresa assumiu o custo da veiculação”, acrescentou.

Em vários momentos da sessão, os senadores criticaram a atuação da Vitamedic. Para o relator da CPI da Covid-19, Renan Calheiros (MDB-AL), “vai sobrar para a indústria o pagamento das óbvias indenizações” às vítimas de pessoas que foram tratadas com a ivermectina. “Alguém vai ter que pagar esses custos. Como ela [Vitamedic] não pode dimensionar qual foi o impacto [das falas do presidente Jair Bolsonaro na defesa do medicamento] na evolução da venda e da produção [do medicamento], vai sobrar para a indústria o pagamento dessas óbvias indenizações. Essa terá que ser uma das consequências desta CPI. Talvez por isso, tenhamos que ouvir, na sequência, o proprietário da empresa. Isso é fundamental”, disse o emedebista.

Argumento semelhante foi utilizado pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar, eleito pelo Amazonas, sugeriu que a Defensoria Pública do Estado acolha famílias que perderam parentes para a doença e entre com um pedido de indenização contra pessoas que receitaram ivermectina e levaram pacientes à morte. “Peço que as famílias dos que perderam entes queridos sejam acolhidos pela Defensoria Pública e entrem com processo de indenização contra pessoas que induziram à morte os pacientes que falecerem no meu Estado, na cidade de Manaus. Isso é claro, é uma coisa que sabíamos há tempos mas ninguém dava atenção para a gente. O papel da Defensoria é esse. É simples: é só pegar os nomes dos pacientes, checar por quem foram atendidos, e a Defensoria fazer uma ação em nome dessas pessoas que foram medicadas, principalmente as que estão com problemas hepáticos por terem tomado em excesso a medicação”, afirmou Aziz.

Bate-boca 

O depoimento também foi marcado por um bate-boca entre a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) e o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), no momento em que a parlamentar do Cidadania presidia a sessão. Em seu tempo de fala, Heinze, que assumiu a titularidade da comissão após a ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil, tentou exibir um vídeo do início da pandemia no qual o senador Otto Alencar (PSD-BA), membro da CPI, dizia acreditar que a ivermectina pudesse ter algum efeito no tratamento da doença. O governista no entanto, omitiu a data da afirmação de Alencar. Eliziane impediu a exibição do material e pediu que Heinze respeitasse o colega de Parlamento e não fosse desonesto intelectualmente. “Esse áudio é do início da pandemia. A ciência evolui. As pessoas achavam que a Terra era plana. A ciência mostrou que não é”, disse Gama, acrescentando que o parlamentar do PP dissemina notícias falsas na comissão. “Não me chame de desonesto”, rebateu o senador gaúcho, aos gritos.

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