Ernesto Araújo pede demissão do Ministério das Relações Exteriores
Chanceler vinha sofrendo pressão de parlamentares em razão da condução da política externa brasileira; decisão foi comunicada à cúpula do Congresso por interlocutores do Palácio do Planalto
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão de seu cargo nesta segunda-feira, 29. Segundo apurou a Jovem Pan, a decisão do chanceler, comunicada inicialmente a seus subordinados na pasta, já foi informada à cúpula do Congresso por interlocutores do Palácio do Planalto. O pedido ocorre após pressão de parlamentares, que criticam a condução da política externa brasileira. O governo federal ainda não se manifestou oficialmente – cabe ao presidente Jair Bolsonaro aceitar, ou não, o pedido de demissão. “O ataque feito à senadora Kátia Abreu foi a pá de cal do ministro”, disse à reportagem um membro da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado.
A situação do ministro era vista como insustentável por lideranças partidárias e por aliados de Bolsonaro. Como a Jovem Pan mostrou, prevalece no Congresso a leitura de que o chanceler inviabilizou a interlocução do Brasil com países que poderiam fornecer vacinas contra a Covid-19. A atuação de Araújo vinha sendo criticada, inclusive, pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Neste domingo, 28, Ernesto Araújo utilizou seu perfil no Twitter para insinuar que a pressão pela sua demissão estaria ocorrendo por causa do leilão da tecnologia 5G. O ministro relatou uma conversa privada com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) da Casa, na qual a parlamentar teria pedido “um gesto” em favor da big tech chinesa Huawei e “pouco ou nada falou de vacinas”.
“Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado’. Não fiz gesto algum. Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria”, diz os tuítes. A publicação teve repercussão imediata. Em nota divulgada à imprensa, Abreu chamou o chefe do Itamaraty de “marginal” e afirmou que o ministro resumiu “três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade” e fez coro por sua demissão. “O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, diz o texto.
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