Escolha de Flávia Arruda para a Secretaria de Governo é aceno para o Centrão pensando em 2022

Um dia depois de anunciar reforma ministerial que transferiu articulação política para deputada do PL, Bolsonaro se reuniu com Valdemar Costa Neto, cacique da base de apoio do governo

  • Por André Siqueira
  • 30/03/2021 16h39 - Atualizado em 30/03/2021 17h22
Cleia Viana/Câmara dos Deputados Presidente da CMO discursa Flávia Arruda é aliada do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira

No fim da tarde da segunda-feira, 29, o presidente Jair Bolsonaro anunciou uma reforma ministerial envolvendo seis pastas. A mais esperada ocorreu no Ministério das Relações Exteriores, com a troca de Ernesto Araújo pelo embaixador Carlos Alberto Franco França. Outra nomeação, no entanto, surpreendeu o meio político: a deputada Flávia Arruda (PL-DF) foi anunciada como ministra da Secretaria de Governo (SeGov), posto ocupado pelo general Luiz Eduardo Ramos, transferido para a Casa Civil. A escolha representou um aceno ao Centrão, menos de uma semana depois de o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ter falado em “remédios políticos amargos” contra o governo federal, e mostra como o Palácio do Planalto se articula pensando nas eleições presidenciais de 2022.

Parlamentares ouvidos pela Jovem Pan definem Flávia Arruda como uma deputada conciliadora e com bom trânsito no Congresso, apesar da inexperiência política – ela está em seu primeiro mandato. Casada com o ex-governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda, preso e condenado no âmbito da operação Caixa de Pandora, que desvendou um esquema de corrupção no DF, a deputada é uma das mais importantes aliadas do presidente da Câmara e preside a Comissão Mista de Orçamento (CMO). A instalação da CMO, inclusive, ocorreu de forma tardia porque Lira tentou emplacar o nome de Flávia a despeito de um acordo que previa a indicação do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) para o posto. Justamente por isso, a indicação é uma demonstração de força do comandante da Casa, que passa a ter uma interlocutora alçada à condição de ministra palaciana.

A escolha de Flávia Arruda para a SeGov atende a uma demanda do PL, um dos partidos da base aliada do presidente Jair Bolsonaro, mas não estava no radar, ao menos no começo do dia ontem, de líderes do governo e de integrantes da cúpula do Congresso. “Eu fui absolutamente surpreendido, a Flávia também. Não tinha essa indicação no meu radar, não me consultaram”, disse à Jovem Pan o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), correligionário e amigo da nova ministra. “Foi um gesto, sim, aos partidos que dão sustentação ao governo, ao presidente Arthur Lira”, acrescentou. O vice da Câmara pondera, no entanto, que a relação da nova secretária de governo com o Parlamento depende do nível de autoridade que o presidente dá a quem chefia o cargo. “É preciso que o secretário de governo tenha autoridade transversal dentro do governo. Ela tem que ser empoderada para exercer função e garantir o cumprimento dos acordos firmados com parlamentares”, avalia.

Segundo interlocutores, a deputada foi sondada informalmente nos últimos dias, mas o convite para assumir a SeGov não havia sido formalizado. “A grande novidade [na reforma ministerial] foi a Flávia, de fato. Mas do ponto de vista político não é tão novidade assim. Na lógica da escolha interna, o PL esteve e está junto do presidente. Por isso, é natural que ocupe espaço na Esplanada dos Ministérios, assim como o Republicanos”, afirmou à reportagem o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). O emedebista se refere à escolha do deputado João Roma (Republicanos-BA) para o cargo de ministro da Cidadania – Roma é aliado do presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), e próximo ao presidente nacional do DEM, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador. “As novas forças da Câmara, que somam entre 340 e 380 votos, podem ser representadas por ela [Flávia Arruda]. O PL, no Congresso, tem sido fiel ao presidente, já deu diversas demonstrações nesse. Não deixa de ser um ensaio para 2022, porque os partidos já começam a se movimentar”, explica o líder do governo.

Um dia depois da escolha de Flávia Arruda, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou, na manhã desta terça-feira, 30, com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, no Palácio da Alvorada. A reunião é um gesto de aproximação com a sigla, que se tornou alvo das investidas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 12 de março, o PL publicou em perfil oficial no Facebook um texto ressaltando a citação feita pelo petista na coletiva de imprensa que concedeu após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular todas as suas condenações no âmbito da Operação Lava Jato e restituir seus direitos políticos. “Quando eu fui candidato em 2002 tive como vice o companheiro Zé Alencar, que era do MDB, depois PL. Foi a primeira vez que se fez uma aliança entre o capital e trabalho e, sinceramente, acho que foi o momento mais promissor da história do País. Temos de esperar chegar o momento, escolher quem vai ser o candidato, é aí que se vai decidir se será possível uma candidatura única e se podem ser feitas alianças só na esquerda”, disse Lula. Caciques do Centrão afirmam publicamente que estarão com Bolsonaro em 2022 – para isso, porém, exigem prestígio do presidente da República.

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