Fábio Trad prevê derrota da PEC do voto impresso por ‘margem segura’: ‘Demonstração de lucidez do Parlamento’

Membro titular da comissão especial que analisa o tema, deputado federal do PSD avalia que proposta será rejeitada por 24 votos a 10

  • Por André Siqueira
  • 26/07/2021 17h41 - Atualizado em 26/07/2021 19h20
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Cleia Viana/Câmara dos Deputados O deputado federal Fábio Trad fala durante sessão na Câmara dos Deputados Para o deputado, a rejeição à PEC cresceu depois do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, defender a mudança do sistema de votação do país

Membro titular da comissão especial que analisa a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, o deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) estima que a proposta, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) será rejeitada por uma “margem segura” na volta do recesso parlamentar – o colegiado se reúne para votar o relatório do deputado federal Filipe Barros (PSL-PR) no dia 5 de agosto. Na avaliação de Trad, a rejeição à matéria, que já era grande, cresceu ainda mais depois das últimas declarações do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que saiu em defesa da mudança do sistema de votação do país. “Tudo indica que o voto impresso será rejeitado. Antes da declaração do ministro da Defesa, a PEC já tinha grandes chances de ser rejeitada. Depois disso, aumentaram as chances. Hoje, vejo uma margem segura para que a proposta seja rejeitada”, disse em entrevista à Jovem Pan. Segundo estimativa do parlamentar, o texto deve ser rejeitado por 24 votos a 10. Na última sessão antes do recesso, um requerimento de retirada de pauta, que contava com o apoio do governo, já havia sido negado por 22 votos a 12.

Exatamente há um mês, presidentes de 11 partidos se reuniram virtualmente e fecharam questão contra o voto impresso, uma das principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro. Entre os presentes estavam dirigentes de siglas que integram a base do governo federal, entre eles Ciro Nogueira, do Progressistas, Valdemar Costa Neto, do PL, e Marcos Pereira, do Republicanos. Para o deputado Fábio Trad, esta decisão é uma “demonstração de lucidez”. “Foi uma demonstração de lucidez dos presidentes de partidos. Reconheceram mais uma bravata do presidente da República, que até agora se limitou a ficar no terreno da especulação sobre a vulnerabilidade das urnas. Não houve comprovação de que urnas são passíveis de fraude, nenhuma ocorrência provada de fraude, de maneira que aquele encontro virtual foi uma demonstração de lucidez, de reconhecimento de que não há razão alguma para se mudar essa conquista da cidadania brasileira”, afirmou. Nesta segunda-feira, em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que fará uma live, na noite da quinta-feira, 29, na sede do Ministério da Justiça e Segurança Pública, para apresentar provas de que houve fraude nas eleições de 2014 – nos últimos dias, o chefe do Executivo federal tem afirmado que o tucano Aécio Neves venceu Dilma Rousseff no pleito.

Trad admite que acompanhará a live “por curiosidade”, mas condena o que chama de “diversionismo” por parte do presidente da República. “Enquanto ele nos distrai com esse tema, aumentam os números de desempregados, de pessoas em situação de insegurança alimentar, os índices de violência, aumenta a disparidade social entre ricos e pobres. É diversionismo puro. Ele insiste em atribuir às urnas eletrônicas um aspecto de vulnerabilidade, mas se esquece que, se elas fossem obedientes à vontade do sistema dominante, o Lula não ganharia do Serra em 2002, porque todo o sistema dos poderosos estava com Serra e, mesmo assim, prevaleceu a vontade soberana da população. De duas, uma: ou o presidente está desesperadamente forjando pretexto para encontrar uma razão para eventual derrota ou tudo não passa de uma invencionice”.

O deputado do PSD também apresentou requerimento de convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O convite foi motivado por uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, segundo a qual o general do Exército teria condicionado a realização das eleições do ano que vem à aprovação da PEC do voto impresso. A ameaça, segundo o periódico, teria sido enviada ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), através de um interlocutor. Em nota, Braga Netto afirmou que a publicação gerava “desinformação” e afirmou que não se comunica com presidente de outro Poder por meio de interlocutores. Trad não vê risco de ruptura institucional, mas pondera: “Espero que o ministro compareça perante o Parlamento para fazer aquilo que a nota não faz: desmentir que tenha feito a ameaça. E, além disso, que se manifeste sobre a seguinte pergunta: a Defesa, as Forças Armadas, vão intervir caso a PEC do voto impresso seja rejeitada? Ele precisa ser explícito quanto a isso”.

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