Integrantes do PDT condicionam permanência no partido à mudança de posição na PEC dos Precatórios

Movimento é capitaneado pelo deputado federal Túlio Gadêlha, um dos seis integrantes da bancada a votar contra a proposta

  • Por André Siqueira
  • 08/11/2021 22h12 - Atualizado em 08/11/2021 22h58
Reprodução/Arquivo Pessoal Montagem com três membros do PDT, partido de Ciro Gomes Votação do segundo turno da PEC dos Precatórios deve ocorrer nesta terça-feira, 9

Três integrantes do PDT deixarão o partido caso a sigla mantenha seu posicionamento a favor da PEC dos Precatórios. O movimento é capitaneado pelo deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE), um dos seis parlamentares que votou contra o texto, e conta com o apoio do deputado estadual Goura Nataraj (PDT-PR) e da vereadora Duda Salabert, a mais votada da história de Belo Horizonte. Na madrugada da quinta-feira, 4, quando a Câmara dos Deputados aprovou a proposta em primeiro turno, a legenda foi a única entre as siglas de oposição a orientar o voto “sim”, o que, na prática, contribuiu para a vitória do governo Bolsonaro – dos 24 deputados, 15 foram a favor da matéria. O texto foi aprovado com 312 votos, quatro a mais do que o necessário. O posicionamento majoritário da bancada pedetista causou uma crise interna, que culminou na decisão do ex-ministro Ciro Gomes de suspender a sua pré-candidatura à Presidência da República.

No documento, intitulado “Por um PDT que honre suas lutas e raízes”, obtido em primeira mão pela Jovem Pan, Gadêlha e os dois colegas de partido fazem uma série de críticas à proposta que adia o pagamento de dívidas da União reconhecidas pela Justiça, altera o teto de gastos e abre um espaço fiscal de aproximadamente R$ 91 bilhões, que permitirá ao governo federal viabilizar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família. Como, segundo cálculos do Ministério da Economia, o programa social poderá ser executado com aproximadamente R$ 30 bilhões, parte da folga no Orçamento permitirá, por exemplo, que o Congresso amplie o valor que será destinado às emendas parlamentares. Como a Jovem Pan mostrou, este é um dos motivos pelos quais a oposição quer enterrar a PEC dos Precatórios. Nos partidos de esquerda, prevalece a avaliação de que a eventual aprovação da matéria dará ao presidente da República uma espécie de “cheque em branco” para gastar em 2022, ano eleitoral.

“A PEC dos Precatórios desagrada à direita e à esquerda, mas agrada parlamentares que olham para o próprio umbigo e para o dinheiro que receberão do “orçamento secreto”, nome popular dado às emendas do relator. À direita e ao mercado financeiro, a PEC desagrada por permitir estourar o teto de gastos públicos. À esquerda, desagrada por ser uma proposta cheia de gambiarras e construída às pressas para viabilizar a substituição de um programa exitoso e criado a partir de vários estudos socioeconômicos – o Bolsa Família – pelo improvisado Auxílio Brasil”, afirmam no manifesto.

Em outro trecho, os três pedetistas afirmam que a permanência na sigla estará ameaçada “caso a bancada do PDT mantenha os votos favoráveis à PEC dos Precatórios”. “Filiamo-nos no PDT por causa de suas raízes, por causa do trabalhismo, por causa de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Mário Juruna, Lélia Gonzalez, Francisco Julião, Manoel Dias, entre outras figuras importantes que por ele passaram e que nos são referência. É irrefutável o papel que o PDT teve na construção da democracia brasileira e na luta pela justiça social no país. Mas essa história não pode ser reduzida a quadros na parede. Essa tradição só faz sentido político se ela se atualiza e se vivifica nos sujeitos políticos de agora. Nesse sentido, assim como Ciro Gomes suspendeu sua pré-candidatura à Presidência como forma de apelo para que parlamentares do  PDT mudem sua posição em relação à PEC dos Precatórios, entendemos que nossa permanência no partido será também repensada caso a bancada do PDT mantenha os votos favoráveis à PEC dos Precatórios.  Tornamos pública essa posição crítica por entender os riscos que dessa PEC para o país”, justificam.

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