Na CPI da Covid-19, Campêlo contradiz Pazuello sobre crise de oxigênio no Amazonas

Ex-secretário de Saúde afirmou que governo estadual enviou ofícios ao Ministério da Saúde por quatro dias, mas ponderou que ‘não houve resposta’

  • Por Jovem Pan
  • 15/06/2021 18h07
Edilson Rodrigues/Agência Senado Secretário depõe em comissão do Senado Campêlo foi criticado por senadores governistas, independentes e oposicionistas

Em seu depoimento à CPI da Covid-19, nesta terça-feira, 15, o ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou, em mais de uma ocasião, que o governo do presidente Jair Bolsonaro foi informado da escassez de oxigênio no Estado no dia 7 de janeiro. A declaração contradiz a versão apresentada pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à comissão – aos senadores, o general do Exército disse que só soube da iminência da crise na noite do dia 10 de janeiro. Segundo Campêlo, na conversa por telefone, ele foi orientado a procurar o Comando Militar da Amazônia para solicitar auxílio. “Sobre o oxigênio, especificamente, eu fiz uma ligação ao ministro Pazuello no dia 7 de janeiro, explicando a necessidade de apoio logístico para trazer oxigênio a pedido da White Martins. A partir daí, fizemos contato com o Comando Militar da Amazônia, por orientação do ministro, para fazer esse trabalho logístico”, relatou.

Campêlo também afirmou que, apesar de ter tratado sobre a iminente escassez do insumo com Pazuello, não houve resposta do Ministério da Saúde a uma série de ofícios enviados pelo governo estadual à pasta. O primeiro contato foi feito após a White Martins afirmar que haveria um atraso na entrega de oxigênio. “No dia 9 de janeiro, quando percebemos que haveria atraso na chegada da primeira balsa prometida pela White Martins, enviamos ofício, e existia agenda do ministro Pazuello em Manaus a partir do dia 10. Então, no dia 10 foi relatada a situação dessa preocupação de apoio logístico”, contou. “Não tenho conhecimento se houve resposta, acredito que não. Não houve resposta, que eu saiba [aos ofícios enviados à Saúde]. A programação da White Martins estava para dia 9, como não houve confirmação, enviamos ofício ao Ministério da Saúde via comitê de crise [do governo estadual], nos dias 9, 11, 12 e 13 de janeiro”, acrescentou.

A oitiva de Marcellus Campêlo foi marcada por pressão de todos os senadores. Parlamentares governistas, independentes e de oposição se uniram em críticas à atuação do ex-secretário de Saúde, engenheiro de formação. O senador Jorginho Mello (PL-SC), aliado do Palácio do Planalto, classificou a gestão de Campêlo como “uma lástima”. Eduardo Braga (MDB-AM), que governou o Estado entre 2003 e 2010, se irritou com a afirmação de que a crise de oxigênio durou apenas dois dias. “Não aguento mais. Pazuello veio [à CPI] e mentiu, Elcio mentiu. E agora o secretario vem mentir”, disse. “Quando Vossa Senhoria fala, parece que o Amazonas não viveu o subsolo do inferno. É preciso começar a falar a verdade”, afirmou em outro momento. Para a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), representante da bancada feminina, a população amazonense foi utilizada como cobaia. Ela citou o desenvolvimento do aplicativo TrateCov e o envio de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz para o tratamento da Covid-19, ao Estado, e ressaltou que era “revoltante” o que a comissão estava ouvindo na sessão. “O Estado do Amazonas foi usado como cobaia, o governador e o presidente estavam alinhados, chegou cloroquina e Tratecov, mas faltou oxigênio, foi criminoso”, avaliou.

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