Partido ‘nanico’ na Câmara é o segundo mais fiel a Bolsonaro em votações
Patriota, legenda com seis deputados federais, votou com o governo em 94% das ocasiões, atrás apenas do PSL; alinhamento resulta em nomeação de integrantes do partido a posto de vice-liderança do governo
Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro tem se esforçado para costurar alianças com grandes bancadas do Congresso Nacional. O pano de fundo para esta estratégia é a tentativa de aumentar sua base aliada para aprovar matérias consideradas importantes para o país e para o futuro do governo. O resultado mais emblemático deste processo é a aproximação do Palácio do Planalto com partidos do chamado Centrão, como PP, PL e Republicanos. A sintonia entre Legislativo e Executivo pode ser observada na escolha de postos-chave para a administração, como o líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), ministro da Saúde no governo do ex-presidente Michel Temer, e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), tido como uma espécie de “líder informal” por muitos de seus colegas parlamentares. Apesar do namoro entre Bolsonaro e Centrão, um dos partidos mais fieis ao governo é o nanico Patriota, que possui seis deputados federais e nenhum senador eleito. De acordo com um ranking do Radar do Congresso, plataforma de dados do site Congresso em Foco, a legenda votou com o governo em 94% das ocasiões – o levantamento, divulgado nesta quarta-feira, 30, leva em conta 347 votações nominais realizadas entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020, na Câmara. Já no Senado, foram avaliadas 230 votações nominais realizadas entre fevereiro de 2019 e setembro de 2020. O Patriota ocupa o segundo lugar desta lista, atrás apenas do PSL (97%), partido que abriga muitos de seus aliados e pelo qual Bolsonaro se elegeu. Como era de se imaginar, os dois partidos que menos votam com o governo são PT (20%) e PSOL (15%).
A bancada do Patriota no Congresso é composta pelos deputados Alcides Rodrigues (GO), Dr. Frederico (MG), Fred Costa (MG), Marreca Filho (MA), Pastor Eurico (PE) e Roman (PR). Destes, quatro estão em seu primeiro mandato. A afinidade do partido com o governo federal fica evidenciada na votação de projetos importantes para Bolsonaro e sua equipe: de forma unânime, a bancada foi a favor da reforma da Previdência, da alteração no Código de Trânsito, das medidas provisórias (MPs) da liberdade econômica, da reestruturação ministerial, e do pacote anticrime, idealizado pelo ex-ministro Sergio Moro – nesta última votação, o deputado Dr. Frederico estava ausente.
Apesar do alto grau de fidelidade entre o governo e o Patriota, os parlamentares fazem questão de ressaltar que atuam de maneira independente. “A gente vota naquilo que acredita. Seguimos uma linha de pensamento racional: a ideia é não se deixar ser influenciado pela direita ou pela esquerda. Aquilo que for pauta de interesse dos brasileiros terá o nosso apoio”, disse o deputado federal Marreca Filho (MA), filho do ex-deputado federal Júnior Marreca (MA), em entrevista à Jovem Pan. O alinhamento resultou na nomeação do deputado ao posto de vice-líder do governo, nesta quarta. Marreca se diz “muito feliz” com a indicação e afirma que tem “muito a contribuir com o país”. “Como deputado jovem, tenho muito a contribuir com o país. Manterei minha independência, mas vou brigar pela aprovação de pautas de interesse do governo, dos brasileiros e dos maranhenses, que me deram a oportunidade de representá-los”, afirmou.
Agora na posição de vice-líder do governo, Marreca Filho diz enxergar dois anos distintos no relacionamento de Bolsonaro com o Congresso. O parlamentar reconhece que 2019 foi “muito difícil”, mas atribui as chamadas “caneladas” do chefe do Executivo e as crises com o Legislativo ao “período de adaptação que é natural a todo governo”. “Bolsonaro foi eleito para um mandato de quatro anos, as coisas vão se encaixando aos poucos. O primeiro ano foi muito difícil, relacionamento difícil, mas mesmo assim a reforma da Previdência foi aprovada. O saldo é bastante positivo”, avalia. “A aproximação com o Centrão é legítima. O presidente conhece bem a Câmara, foi deputado por mais de 20 anos, ele sabe que precisa muito do Congresso. São partidos importantes e tradicionais que têm interesse de contribuir com o país. Temos que priorizar o fortalecimento da democracia, a harmonia e a independência dos três Poderes”, acrescenta.
Nos próximos dias, a ala política do governo concentrará esforços na busca por consenso para aprovação de matérias como a reforma tributária e a criação do Renda Cidadã, programa social que substituirá o Bolsa Família. Para Marreca Filho, o governo “precisa ter muita responsabilidade e sabedoria no trato destes projetos”. Questionado se concorda com a ideia inicial do governo, de utilizar como fonte de financiamento para o programa até 2% da receita de corrente líquida para o pagamento de precatórios da União e de até 5% da ampliação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), disse que é a missão da equipe econômica encontrar uma solução que não prejudique a vida dos brasileiros. “Não podemos resolver a vida de uns e criar problemas para outros. O Renda Cidadã, em especial, precisa ser muito bem trabalhado”, finaliza.
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